Um mundo cor-de-rosa feito de plástico | Fotografia: John Rawlings , Getty
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De quantas mais controVERSAs a moda precisa? O último ano e tantos mais

A VERSA está de parabéns, mas quem disse que o bolo tinha de ser doce? Celebramos mais um capítulo da nossa história como gostamos: com controvérsia, pouco filtro e de salto-alto sobre as certezas fáceis. Até porque crescer também é saber que o bonito e o feio desfilam sempre lado a lado.

Este ano, o outro lado do lifestyle — entre o aplauso e o apupo, entre o brilho e a timidez  — deixou que a moda se vesti-se (e se despisse) de verdades incómodas. Em jeito de balanço, olhar para o último ano é muito mais do que espreitar pelas montras de tendências: é enfrentar o espelho da moda — e nem sempre gostar do que lá vemos refletido.

No último ano da VERSA, fomos espetadores atentos de uma indústria que desfilou entre o sublime e o grotesco, como em espetáculo onde nem todas as quedas são acidentais. Tendemos a pensar que já vimos de tudo, até percebermos que a moda continua a servir um cocktail forte em polémica e provocação.

Não se contam pelos dedos, mas contaram-nos muito...

Nesta revisão do último ano que parece ter passado mais rápido do que um scroll no TikToK, porque não começar pelo fim e lembrar o "herói" verde improvável? Donald Trump, entre discursos inflamados e políticas protecionistas, parece ter dado um empurrão inesperado à moda sustentável. Ao tentar fechar fronteiras e alimentar guerras comerciais, acendeu também uma chama para que as marcas repensassem a produção local e ecológica. Ironia? Absoluta. E nem sequer vinha com selo orgânico.

De Trump para a nova vaga de dança de cadeiras entre diretores criativos, em que o status quo parece ser... mudar por mudar, mais do que criar. A Loewe é vítima ou exemplo disso. Perdeu o seu "quê" de génio, com a saída de Jonathan Anderson, que nos deixa a todos órfãos de uma visão poética da moda contemporânea. Lamentos... que podem ser apenas isso mesmo. 

Já a saída de Virginie Viard da Chanel é apenas mais uma saída com muito estilo e pouco jogo de cintura. Segurar o leme foi de facto difícil para Viard, mas também é importante notar que não se compete com o legado de Lagerfeld. Agora, todos os olhos estão atentos a Matthieu Blazy: o nome que soa bem em voz alta.

Mas pouco ou nada se equiparou à confirmação de Demna Gvasalia nas rédeas da Gucci. Esta foi a dança mais impactante dos últimos tempos, a música era outra e tão inesperada. A indústria tremeu sem saber o que esperar. E assim continuamos, obrigados a ansiar por um momento disruptivo ou controverso... afinal, é esse o ADN de Demna, que não se resume às suas criações — ele sabota expectativas e depois veste os destroços.

Também não deixámos de ser espetador de bancada do tão aguardado regresso do desfile da Victoria's Secret. Um espetáculo que acabou por ser uma lição dolorosa: a nostalgia é boa conselheira, mas ninguém tirou notas... O novo espetáculo ficou algures entre o cliché e o déjà-vu, que quis agradar vozes críticas com uma estratégia de inclusão forçada. Enquanto os amantes de moda criticavam, os anjos bocejavam...

E, claro, como esquecer a última Met Gala, sempre palco da extravagância controlada? Mas, desta vez, ultrapassou a linha do kitsch absoluto. Havia flores, claro. Muitas. Demasiadas. O tema Sleeping Beauties: Reawakening Fashion? Esquecido. Estávamos a entrar no jardim da Celeste, com direito a regadores dourados e tiaras de plástico. E, sim, revivemos uma infância com medo do lobo mau.

Se o estilo "Mob Wife" conquistou a moda, também nos mostrou como a estética da opulência — peles falsas, joias enormes, drama em cada movimento — se tornou numa espécie de máscara moderna. Gritar "luxo" a plenos pulmões enquanto o mundo pedia subtileza tornou-se tendência que, para sermos honestos, apenas ofendeu os verdadeiros mafiosos. 

Se em outros tempos os tribunais foram palco de dramas silenciosos, 2024 volta a mostrar outro tipo de performance: A$AP Rocky transformou as audiências judiciais em verdadeiros desfiles de moda. O problema? Entre outfits comentados a fazerem manchetes, voltamos a esquecer o que estava realmente em julgamento. Ainda assim... como ignorar a inocência de umas luvas Gucci?

A Moda: entre Desejo e Desilusão

Se tudo isto foi bonito? Nem sempre. Se nos faz pensar? Mais do que uma vez.
A moda continua a ser este espelho cruel onde, entre brilhos e quedas, nos vemos mais do que gostaríamos de admitir.

Gostamos de uma controVERSA? Sim. Talvez porque, no fundo, ainda acreditamos que a beleza verdadeira nasce precisamente quando a conVERSA é mais difícil — e necessária.

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Se a VERSA tivesse um ano de inferno astral... como seria a festa?

Para celebrar o 3.º aniversário da VERSA, perguntámos ao ChatGPT como imaginaria uma festa com a nossa assinatura.

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