Começo pelo que interessa. Ou que pouco interessa. Aos 44 anos, José Fidalgo é um dos atores mais reconhecidos do país e é também um dos homens mais sexy em Portugal. Sexy, sou eu que o digo. Assim como as fãs e nomeações de prémios (sim, há essa categoria) que validam a minha e, apenas, honesta avaliação. E ele sabe que o é. O que o torna ainda mais sexy. Tenho, então, à minha frente (para além de uma torrada) um dos “quarentões mais desejados do país” e “um dos maiores símbolos sexuais da sua geração”, isto já não sou eu que o digo, mas também não contradigo a análise de outra imprensa.
E começo por aqui, pelo que (des)interessa, quando encontro esse lugar onde “arrumamos” quem não conhecemos, por (pre)conceitos e estereótipos imagem/celebridade. É que José Fidalgo, primeiro, é uma pessoa sexy. De sorriso fácil, gargalhada espontânea e humor sofisticado. De um jeito simples, descomplicado e educado, o que já é raro. Generoso, com um elogio sempre no lugar de uma crítica e um “nós” que usa, repetidamente, em vez de um “eu”. E diz o que pensa. Mas com ponderação. De quem se conhece e de quem também conhece a indústria onde está.
Só depois disto (o pouco que conheço), vem o homem sexy. Ou chegam juntos. O delay é, talvez, enviesado pela imagem de um homem bonito, com um corpo trabalhado no ginásio, “vaidoso”, que gosta “de moda” … tudo o que fala antes, do resto falar. E ele também o sabe. E podia dar-me música, mas José Fidalgo introduz-me antes ao tango. “É óbvio que num primeiro momento a aparência conta, fascinamo-nos pelo que vemos, pelo que sentimos com o que é belo, como na arte. Mas acredito mais no carisma. Por exemplo, desde 2008 (quando protagoniza o anúncio com Mónica Bellucci), comecei a olhar para as mulheres que dançavam tango e não eram bonitas, mas tinham sensualidade. Podes apaixonar-te por uma mulher que, sem ser bonita, te finta ao dançar tango, depende da perceção que tens de beleza”. Ouço-o e, de repente, começo a ver beleza no investimento que fiz nas aulas de milonga.
A conVERSA segue sem guião num dos seus lugares na Costa da Caparica, semanas depois do nosso encontro no Grande Prémio Monster Energy da Catalunha, quatro dias passados entre o ambiente do paddock e a emoção que corre e de quem corre por um circuito Moto GP. No regresso numa curta mensagem, disse-me: “Fui tão feliz naqueles dias…” e a espontaneidade quase de miúdo, penso que o fez re(pensar): “Acho que posso dizer isto, que fui mesmo feliz…” justificou-se. A ele próprio. Não a mim. E essa paixão pelas motas pode, em breve, encontrar até um novo caminho.
“Cheguei àquele momento de pensar 'o que queres fazer, que sonhos tens', e as motas preenchem um gap na minha vida. Estou a apostar muito neste caminho. Há 12 anos que insisto na ideia, desmistificar o conceito do que é andar de mota, que sentimento é esse a que não se fica indiferente. Podemos dizer que usamos a mota só para ir trabalhar, mas chega aquele dia em que começamos a saborear o vento na cara…”.
Motard, biker, motociclista, you name it… José Fidalgo recusa rótulos e tribos, “sou apenas uma pessoa que gosta de andar de mota”. Motas. Plural. Tem três: uma Harley Davidson Heritage de 1992, uma Triumph Bonneville T120 e uma Harley Davidson Dyna Street Bob Special. Um poliamor que nem precisa de grandes argumentos quando todas as histórias davam um bom filme. "Por exemplo, quando fui ao Wheels and Waves, em Biarritz, no regresso sozinho de mota passei por Bardenas Reales, uma zona em Espanha marcada pelos Spaghetti Western, aquilo é um faroeste ao estilo europeu. Nestas viagens, pela minha profissão, não vejo frames, mas ponho tudo numa perspetiva cinematográfica”. E escreve. Também sobre tudo. E desde criança. “Escrever é o meu sustento mental”.
E quem vê o mundo assim, precisa de continuar a criar um arquivo próprio. No mapa está marcado o Japão e o regresso à Malásia. Sempre que é possível, José Fidalgo viaja com o filho Lourenço e o sobrinho Simão. “Temos os três uma relação muito especial”. Mas a ideia de viajar sozinho, não é um lugar estranho, nem que lhe cause desconforto. Desconforto? “Só quando sou o foco da atenção”. E é precisamente nessas viagens que faz de mota sozinho onde encontra uma forma de “ser menos fechado”, de conhecer e de conviver com pessoas. Sim, José Fidalgo é “tímido", embora não pareça. "Chego a um ponto numa relação profissional, ou seja qual for a relação, que para mim é difícil saltar, eu fujo, escondo-me”.
“Há falta de machos em Hollywood”
Escrito não tem a graça de como é dito. A graça com que José Fidalgo fala desses ares contemporâneos de “transformação” que se sentem em Los Angeles (LA) e que à passagem deixam no ar a ideia de que a indústria do cinema precisa de novos “machos”. E com toda a nossa elegância (minha e dele), falamos daquela figura masculina, aquele old Hollywood glamour (não andrógeno), que hoje é um bem escasso, mas que, para bem de todos, necessário.
O ator português regressou recentemente a LA, uma cidade que o “fascina desde criança por todas as referências cinematográficas”. Os dias foram passados no Ivana Chubbuck Studio, onde os atores aprendem como usar as emoções, não como resultado final, mas como um meio para lá chegar. Complexo, naturalmente, para quem não é do meio. Como eu. “É um método onde encontrei a forma mais correta para desenvolver as minhas personagens. Não temos de viver determinado acontecimento para passar essa emoção à personagem, temos de procurar em nós algo semelhante. E é engraçado, encontra-se sempre essas referências nos nossos pais ou em quem nos criou” explica-me.
O resto dos dias? Se há lugar onde o imagino com todo o seu Rock&Roll, inevitavelmente, acabo na piscina do Chateau Marmont. Esse Somewhere de Sofia Coppola que é um know where e onde os Video Games de Lana Del Rey são apenas mais um nível que se passa neste icónico hotel em Sunset Boulevard. A minha ficção é, afinal, pura adaptação da realidade. “Adoro o Chateau Marmont, ia todas as semanas. Pedia uns ovos mexidos, um sumo de laranja ou um vinho e a conta era sempre exorbitante. Vi muita gente conhecida lá, faz parte do glamour de Hollywood”.
Se ser ator é uma vocação ou uma profissão, não hesita:” Para mim é uma vocação, mas fico contente por conseguir viver dela como profissão”. Até porque “ser ator é uma luta constante, mas eu saboreio os espinhos”. E fala desse “lado bipolar” que um ator tem de ter, mas conhecendo as fronteiras. Embora com todo o mérito que lhe reconheço na representação, não entra no género drama. Fala dessa capacidade camaleónica de saltar de uma personagem para outra ou da facilidade com que se vai do sucesso ao esquecimento. “Mas é uma profissão única, não há outra igual. É bom viver nesse limbo, não é fácil, mas eu gosto”.
Nos próximos meses, José Fidalgo está de regresso ao cinema nacional com dois novos projetos. Mas uma carreira internacional, nomeadamente num dos famosos estúdios na Califórnia, continua nos planos. “Ainda posso ser o futuro macho de Hollywood!“. E rimos. Não do sonho. Da graça com que o diz. Enquanto partilhamos uma torrada numa esplanada na Costa da Caparica. E, sem o dizer, dissemos, a nossa próxima conVERSA pode ser, perfeitamente, junto à piscina do Chateau Marmont.