Parece quase crime escrever sobre o tema, sentimos que vamos precisar de bons argumentos em nossa defesa e que depois disto somos só uns “fora da lei”. Antes de nos julgarem, nós já nos condenámos. Porque falar sobre o glamour da prisão tem pouco de abonatório. Tem mais de absurdo. E o mais absurdo é que é real.
A pulseira eletrónica que nos anos 2000 foi assumida (e exibida) como se fosse apenas mais um acessório de moda pode ter perdido mediatismo, mas continuamos, estranhamente, ainda hoje presos… à ideia “prison chic”. E fica ainda mais absurdo quando lemos que há até quem compre falsas para seduzir mulheres que gostam de um “bom” bad boy…criminoso, de preferência.
Não queremos fazer julgamentos, mas a culpada deste comeback é Anna Delvey. A falsa herdeira condenada por enganar a elite de Nova Iorque, um caso real que inspira a série da Netflix “Inventing Anna” e que nos leva à imagem da pulseira eletrónica como se fosse uma peça escolhida com muito critério para um editorial de moda. O que fez no primeiro dia de prisão domiciliária. Uma produção de moda.
Na entrevista ao The Standard, Delvey interrompe a sua história para falar do que também quer que seja história. Mostra à jornalista o tornozelo e diz: “Quero personalizá-la, mas de forma a que possa combinar com todas as roupas." O que, entretanto, já fez. Anna reinventa-se e reinventa a tendência com uns elegantes sapatos e o dispositivo no tornozelo “customizado” com o brilho das suas iniciais AD.
Mas, justiça seja feita. É Lindsay Lohan que leva a pulseira eletrónica do estigma da condenação ao estatuto de acessório de moda. Em 2007 é detida por conduzir sob o efeito de drogas e álcool e, fosse na praia ou na passadeira vermelha, nunca a escondeu. Pelo contrário. Entre os que condenaram a atitude, também houve quem se inspirasse na ideia da celebridade problemática que se veste despida de preconceitos.
No desfile de apresentação da coleção primavera 2008 da Chanel, algumas modelos surgem com pequenas carteiras no tornozelo e, de imediato, olha-se para a forma como a moda parece reinterpretar a “pulseira” que nunca quisemos ter. Questionado, na altura, se a atriz foi a sua inspiração, Karl Lagerfeld disse: “Amo a Lindsay e todos sabem. De alguma forma, foi, sim. Temos pulseiras e óculos, mas ninguém usa acessórios nos tornozelos. Pode ser onde se leva o batom, chaves e cartões de crédito".
Mais recentemente, Alessandro Michele na coleção primavera/verão 2020 da Gucci apresenta também acessórios presos ao tornozelo das modelos, (os comentários nas redes sociais não foram os melhores) e no regresso da série Sex and the City, Carrie Bradshaw surge num dos episódios com uma carteira Fendi... no tornozelo.
Há processos que levam tempo e são complexos. E entender este pode ser o caso.
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