As histórias da realeza são cheias de intrigas, alianças improváveis, traições e destinos cruéis, que nos fascinam por terem sido noutro século. Ainda que atualmente ainda existam Reis e Príncipes, os cenários são bem diferentes, incluindo as histórias que se contam. E há uma que, no seio da realeza britânica, ninguém esquece.
Lady Jane Grey, conhecida como a Rainha dos Nove Dias, teve uma curta e infeliz história.
Nascida em 1537, Lady Jane Grey era bisneta do Rei Henrique VII de Inglaterra e distinguia-se por ser uma jovem nobre inteligente, culta e profundamente protestante. No entanto, apesar da sua inteligência e carácter reservado, Jane foi empurrada para o centro de uma tempestade política.
Quando o jovem Rei Eduardo VI, filho de Henrique VIII, adoeceu gravemente, tornou-se evidente que a sucessão ao trono de Inglaterra seria tudo menos pacífica. Eduardo, também protestante, queria garantir que o país não voltaria ao catolicismo sob o reinado da sua meia-irmã Maria Tudor (futura Maria I, conhecida por "Bloody Mary"), pelo que pressionado por conselheiros ambiciosos – sobretudo John Dudley, Duque de Northumberland – alterou o testamento e nomeou Jane Grey como sua sucessora, ignorando os direitos de Maria e Isabel.
Jane foi assim proclamada Rainha de Inglaterra a 10 de julho de 1553, com apenas 16 anos, após a morte de Eduardo VI. Conta-se que recebeu a notícia em choque e que terá recusado aceitar a coroa. Mas não teve escolha e foi levada para a Torre de Londres para governar.
A população não a reconheceu como rainha legítima e apenas nove dias após a proclamação, Maria Tudor reuniu forças suficientes para tomar o poder. Jane foi deposta e presa na Torre de Londres, desta vez como traidora.
Inicialmente, Maria Tudor poupou Jane, talvez compreendendo que fora uma vítima das ambições alheias, contudo, após a Rebelião de Wyatt (movimento protestante que tentava impedir o casamento de Maria com o rei espanhol Filipe II) não teve alternativa.
A 12 de fevereiro de 1554, ainda com 16, Lady Jane Grey foi decapitada. Diz-se que, ao subir ao cadafalso, manteve uma calma invulgar e que morreu como viveu: silenciosa e digna.
Lady Jane Grey permanece até hoje como uma das figuras mais trágicas da monarquia britânica. É lembrada como a Rainha que nunca quis reinar e como a jovem que pagou com a vida o preço da ambição alheia.