O corpo sente o que a mente cala. E quando não há espaço para verbalizar, o movimento pode tornar-se linguagem.
Dançar não é apenas expressão artística, é também uma forma significativa de regulação emocional. Uma ponte entre o que se sente internamente e o que é possível transformar. Em psicologia, compreendemos que corpo e mente estão profundamente interligados. O que se vive emocionalmente tem expressão física: a ansiedade acelera o ritmo cardíaco, o medo contrai os músculos, a tristeza pesa no corpo.
O inverso também se aplica, o movimento pode ter um impacto direto no estado emocional. Na prática clínica, é frequente observar que muitas pessoas sentem dificuldades em identificar ou expressar as suas próprias emoções. Nesses casos, o movimento corporal pode servir como recurso facilitador, uma via de acesso ao mundo emocional quando as palavras ainda não são suficientes. A dança, nesse contexto, surge como um gesto de escuta interna e liberação. Movimentar-se livremente, sem expectativas ou julgamentos, permite que o corpo se torne veículo de expressão emocional autêntico. Dançar com regularidade contribui para a redução do cortisol (hormônio associado ao estresse) e estimula a produção de endorfinas e serotonina, neurotransmissores associados ao bem-estar e ao equilíbrio do humor.
Por isso, o movimento corporal, mesmo que breve e informal, pode ser um recurso valioso para quem vive com ansiedade, tristeza persistente ou cansaço emocional. Importa reforçar que não se trata de “saber dançar”. O essencial é permitir-se sentir. Escolha uma música, encontre um momento e deixe que o corpo responda, de forma genuína e presente. A dança, neste contexto, deixa de ser uma performance e passa a ser escuta. Uma forma de restaurar equilíbrio de presença, e vitalidade. E, por vezes, é exatamente isso que mais precisamos: de um instante em que o corpo nos ajude a reencontrar o centro.