A pele e o cérebro têm uma relação muito próxima e isso reflete-se em sinais que o corpo nos envia diariamente. Por exemplo, já todos sentimos o rosto ficar mais vermelho e quente quando estamos com vergonha ou a pele arrepiada quando passamos por uma emoção mais forte.
Estas são manifestações curtas e momentâneas, mas também existem situações em que o impacto das emoções na pele tem consequências mais duradouras. É o que acontece quando estamos a passar por uma fase de maior stress e, por vezes, por exemplo, surgem borbulhas ou comedões no rosto.
E porque é que isto acontece? "Em momentos de stress, o corpo ativa sistemas neuroendócrinos que libertam diferentes hormonas para que o organismo se adapte à situação. Esta resposta pode ter diferentes consequências, não só na saúde no geral, mas também na pele em particular. Esta reação hormonal e imunológica do organismo pode exacerbar doenças de pele, resultando num ciclo vicioso que prejudica significativamente a qualidade de vida de um paciente", explica Juliana Pais.
Para além do stress, também a ansiedade, a tristeza e a angústia podem levar ao aparecimento de problemas na pele.
"Podem até surgir doenças mais severas como, por exemplo, a dermatite, a psoríase ou a queda capilar. Esta relação íntima entre a pele e a mente pode dever-se ao facto de a origem embrionária de ambos os órgãos ser comum, a ectoderme", acrescenta.
Vários estudos relatam altas taxas de prevalência de depressão e ansiedade em pacientes diagnosticados com acne, chegando aos 40%, com casos de suicídio na ordem dos 6-7%.
Outro artigo, uma revisão sistemática realizada em 2020 que incluiu 42 estudos, revelou altas taxas de prevalência de depressão e ansiedade entre pacientes com acne e também o inverso, ou seja, que existem muitos adultos com acne devido à depressão e ansiedade. Um outro estudo revelou ainda que sintomas depressivos foram mais evidentes em pacientes com doença dermatológica (39,5% pacientes com psoríase e 30,2% com acne).
"A relação entre as patologias dermatológicas e o estado psicológico dos pacientes tem sido comprovado e verifica-se que existe um impacto negativo não só nas suas atividades diárias, como nas funções laborais, relacionamentos e interações sociais", avança a especialista.
A patologia cutânea pode ter um impacto psicológico, mas também vemos a relação inversa
"Assim, sendo percebemos que a patologia cutânea pode ter um impacto psicológico, mas também vemos a relação inversa, onde se percebe que o estado emocional pode ter consequências na pele. Ou seja, pode existir uma relação de causa ou de efeito", indica Juliana.
É aqui que entra a Psicodermatologia, uma disciplina que permite ajudar os pacientes com patologia de pele crónica a lidar com a ansiedade e o estigma social relacionado com a sua doença, além de intervir diretamente na diminuição do stress que gera ou piora a sintomatologia cutânea, tratando tanto a causa como o efeito. Esta disciplina integrativa tem permitido perceber melhor como a mente e a pele se relacionam, e muitos laboratórios têm implementado os conhecimentos adquiridos nos seus produtos.
É o que acontece com a marca de beleza e skincare Lilfox, que tem vindo a introduzir a aromaterapia nas suas linhas com o objetivo de diminuir o stress da pele, ajudando a melhorar a sua qualidade. O lema da marca é o “Intelligent Skin Couture” e na base dos produtos encontramos “óleos orgânicos, manteigas não refinadas, argilas de terras raras e hidrossóis de alta vibração com óleos essenciais aromáticos, cristais carregados pela lua e energias vegetais vibrantes”, conforme descrito no site oficial.
Outra marca empenhada em explorar esta vertente é a Dr. Brandt, conhecida pelos produtos cosméticos inspirados em procedimentos de consultório, com o lema "Leve o médico para casa”. A marca defende a relação entre a mente e a pele e tem até uma fundação que se dedica a apoiar a saúde mental e o bem-estar da comunidade, assim como a informar sobre a depressão e a prevenção do suicídio.
É importante controlar os fatores stressantes para melhorarmos a qualidade da nossa pele
“De forma resumida, percebemos que o stress é uma das maiores causas do desequilíbrio hormonal e cutâneo. Então é importante controlar os fatores stressantes para melhorarmos a qualidade da nossa pele”, indica Juliana Pais, que deixa ainda algumas dicas:
Diminuir o consumo do açúcar: os hidratos de carbono refinados induzem picos de insulina que levam à inflamação do organismo e, consequentemente, ao envelhecimento precoce da pele;
Evitar o álcool: este pode exacerbar certas patologias de pele como a rosácea, psoríase ou eczema;
Deixar de fumar: além de potenciar o surgimento de patologias como o cancro de pele, o tabaco influencia negativamente o microbioma da pele, potenciando o surgimento de infeções além de promover o envelhecimento precoce;
Fazer exercício: um estilo de vida ativo melhora o estado da saúde mental. Estudos referem que exercícios como ioga e meditação são benéficos e melhoraram a ansiedade e stress;
Dormir bem: estudos revelam que o número de horas que dormimos podem interferir na forma como a nossa pele se regenera. A síntese de colágeno ocorre essencialmente durante a noite, motivo pelo qual devemos preservar idealmente entre sete a nove horas de sono diárias;
Adaptar a rotina de skincare: manter uma rotina com limpeza, hidratação, prevenção e proteção é essencial. Esta rotina deve ser adaptada ao tipo de pele e à patologia cutânea, se existir. Um médico com formação nesta área pode ajudar a ajustar o skincare, e lembra-te que a tua pele muda ao longo do tempo e pode ser necessário ajustar a rotina regularmente.