Quando falamos de sonhos referimo-nos a um conjunto de imagens mentais que ocorrem durante um estado alterado da nossa consciência. Muitas vezes (mas não necessariamente), estão associados a sensações e a emoções, em menor ou maior intensidade, mas também dependem da nossa experiência pessoal, preocupações ou medos, sem que haja uma associação lógica entre elas e sem as regras convencionais da passagem do tempo.
Os sonhos podem acontecer em diferentes fases do sono e lembrarmo-nos deles ou não depende do nosso estado de alerta e/ou de descanso. É de conhecimento geral que é na fase REM (Rapid Eye Movement) que os sonhos tendem a ser mais vividos, fantasiosos e carregados de emoções, enquanto na fase NREM (Non Rapid Eye Movement) tendem a ser mais simples, menos carregados de emoções, fugazes e mais relacionados com a realidade do dia a dia.
Mas, apesar de existirem várias teorias e explicações, os sonhos são ainda dos temas mais misteriosos em ciência.
"Sonhar demasiado deve merecer uma avaliação clínica"
"O conteúdo dos sonhos é praticamente tão individual como a nossa impressão digital, porque depende de múltiplos fatores, desde a biologia, cultura, personalidade e até histórias de vida", explica Hugo Simião. Pode acontecer que este conteúdo esteja repetidamente relacionado com um trauma ou ameaças (como ser vítima de um assalto) e que até o corpo reaja fisicamente como se estivéssemos a viver aquela situação na vida real (por exemplo, dar socos ou pontapés).
Por isso, "sonhar demasiado, ou demasiadas vezes com o mesmo tema, deve merecer uma avaliação clínica", acrescenta, porque algo está a provocar uma estimulação do cérebro quando este deveria estar em descanso. Para o especialista, é importante avaliar para despistar perturbações de stress pós-traumático ou até um possível indício de doença neurológica, patologias que se podem manifestar através dos sonhos.
Existem também áreas cerebrais que estão mais ligados à vigília ou a um estado de alerta, como o córtex pré-frontal, que habitualmente estão inativas durante o sonho mas que, por algum motivo, são ativadas. Nessas alturas, é possível que tenhamos consciência de estar a sonhar e, em alguns casos, até passarmos a ter controlo sobre o que acontece no sonho. São os chamados sonhos lúcidos, um fenómeno raro mas possível, que, segundo Hugo Simião, cerca de metade da população já experienciou ou vai experienciar pelo menos uma vez na vida.
"50% das pessoas experienciam o sonho lúcido pelo menos uma vez na vida"
Esta possibilidade de criar um filme mental onde temos consciência do que está a acontecer, tem aguçado a curiosidade de vários investigadores a nível mundial. Têm sido propostas intervenções terapêuticas no sentido de, por exemplo, alterar o curso de pesadelos ou processar situações traumáticas, dando à pessoa liberdade para recriar uma situação emocionalmente negativa e transpô-la para um cenário muito mais tranquilizador.
"Algumas das técnicas usadas passam por, por exemplo, treinar ou repetir pequenos gestos no dia a dia, como um teste de realidade, levando a que, caso a pessoa o consiga realizar no sonho, consiga alterar o seu curso", revela Hugo Simião.
"No entanto, também têm surgido preocupações acerca destes sonhos lúcidos, nomeadamente acerca de uma menor qualidade de sono, sensação de cansaço e maior dificuldade em criar um distanciamento da realidade, com os respetivos riscos para a saúde mental", remata.
Globalmente, ainda é um tema em grande debate com muito ainda por desvendar. Mas se queres saber mais sobre os teus sonhos, procura um especialista.