Com a morte de Nuno Portas, Portugal perdeu um dos seus maiores pensadores do território. Muito se fala do urbanista, do político, do professor — mas pouco se recorda de um capítulo também decisivo: a EXPO 98.
Foi Portas quem, discretamente, ajudou a lançar as bases do maior projeto de regeneração urbana do país.
Enquanto Secretário de Estado da Habitação (1974–76) e, mais tarde, como mentor académico e consultor em planeamento urbano, defendeu uma ideia nova de cidade: mais aberta, sustentável, virada para o Tejo.
Na génese da EXPO, Portas influenciou decisores, desafiou paradigmas e foi um dos primeiros a pensar o Parque das Nações não como um enclave de evento, mas como tecido urbano permanente.
Com data de 1995, os arquivos da RTP, mostram uma entrevista de Nuno Portas, em que descreve a projeção desta grande obra e, acima de tudo, a visão de quem conhecia bem todas as nuances e necessidades urbanas. "Ninguém vai gostar de todos os edíficios que se vai lá fazer. [...] Aquilo vai ser uma espécie de feira de arquitetura, ou feira de vaidades", ouve-se.
A Lisboa cosmopolita que hoje conhecemos — com os seus espaços públicos abertos, frente ribeirinha requalificada e uso misto do solo — tem muito da sua visão.
Nuno Portas não desenhou pavilhões: desenhou possibilidades.
