Libertá
Gourmet

Como é que se diz liberdade em italiano? Conheça o novo restaurante Libertá

Libertá é o novo italiano de Lisboa, comida autêntica, descomplicada e honesta cozinhada por italianos. Junto à avenida mais luxuosa da capital, mas a preços inclusivos e com esplanada para os fins de tarde solarengos.

Filho de mãe portuguesa e pai queniano de origem indiana, o fundador da Lisbon Street Kitchen que agora inaugura o Libertá, cresceu numa família self-made que um dia fez carreira no ramo automóvel, onde está confortável há 80 anos. Alykhan Popat estudou Finanças, andou pelo mundo, mas gosta mesmo é de trabalhar com pessoas e recebê-las. Assim, passou a vida a vir a Portugal, os avós moram cá e resolveu escolher Lisboa quando esta se começou a abrir ao mundo, mais moderna, diversa, cosmopolita: “Assim é que tem graça, não é?”

Apesar dos seus tenros vinte e poucos anos, Popat fala do seu amor a Itália como um velho amor. Viveu em Itália, teve uma namorada por lá e viajou por todo o país, “aprendi a língua, a cultura e a comida”, diz enquanto nos mostra os cantos à casa. “Lisboa necessitava de uma nova perspetiva sobre a comida italiana, que não está bem representada. Há muitos restaurantes que se dizem italianos, e alguns são caros e maus, falta-lhes a essência de Itália nos detalhes mais subtis.”

Quis que as cores de Itália não estivessem “in your face, nas toalhas ao quadrados em cores berrantes ou na música italiana a tocar alto”, no Libertá quis nomeá-las em detalhes subtis como o vermelho do cobre das panela e das madeiras quentes, o chão branco no cimento natural do chão, como os tampos das mesas em mármore pele de tigre, o verde nas plantas e nos copos para a água e no azeitona das paredes: “Queríamos trazer o impacto do Mediterrâneo para dentro da sala.” E do tecto caem milhares de espigas de trigo colhidas na Sicília: “Quando pensas num campo de trigo pensas em liberdade.”

O Libertá fica numa transversal à Avenida da Liberdade onde foi buscar o seu nome. Lá dentro, vemos grelhas aos quadrados em vários detalhes que XX diz ser um símbolo do cativeiro e da opressão a que todos devemos fugir nas várias áreas das nossas vidas. Conceitos grandes em tempos complexos.  E nas camisolas dos empregados de mesa está estampada uma mão que segura uma alcachofra como uma estátua da liberdade. É curioso ver a artéria de luxo da cidade, que esteve entre o abandono e o luxo longínquo para a maioria, receber agora este restaurante para todas as carteiras.

Da grande cozinha aberta para a sala saem pratos simples, como queremos quando pensamos em Itália. Os produtos são portugueses na sua maioria, os pratos são os da mamma. Tudo começa com o delicoso pão da Gleba mergulhado em azeite ou acompanhado com azeitonas da Sicília e na focaccia com queijo feita no forno. Adorámos o carpaccio de lírio dos Açores com salada de funcho e laranja e o cavatelli caseiro de frutos do mar, um caldo com robalo, lulas, mexilhões, camarão, uma das especialidades do chef Silvio Armanni, muito fresco e leve, ligeiramente picante. Também gostámos do spaguetti chitarra Mancini com tomate e burrata, é nos pratos simples que se encontra a qualidade, e foi muito elogiado o parpadelle caseiro com ragú de coelho, azeitonas, pinhões e tomilho. A rematar, aconselha-se o tiramisú ao qual chamam de bomba, dos melhores da cidade, a sua base savoiardi é feita todas as manhãs pela Silvia, chegada a Lisboa vinda de Bergamo. O chef também chegou de Bergamo e já passou por vários estrelas Michelin na Europa e na Ásia, conquistou em 2019 a sua própria insígnia no restaurante Octavium, em Hong Kong, e um ano depois mudou-se para cá: “Há muitas oportunidade em Lisboa e assisti à cidade a florescer. Adoro a qualidade dos produtos portugueses, aqui há uma rara ligação do chef à quinta e ao pescador.”

Gostávamos de encontrar na carta mais ofertas de peixe, já que Popat diz que Portugal tem o melhor peixe do mundo, e mais opções vegetarianas, tantas e tão boas se encontram Itália fora. E gostámos do discurso de Popat quando elogiou largamente os seus jovens empregados, vindos de todos o mundo, escolheu cadeiras Olaio para nos sentarmos à mesa. “Queríamos um restaurante clássico italiano, mas que fosse português. É arrogante chegar aqui e abrir um restaurante para turistas, isto é para a comunidade, para as pessoas que vivem aqui.  Por isso, acredita que as duas esplanadas que vai abrir, uma à porta e outra no terraço do hotel que alberga o Libertá, vai dar “um empurrão à ideia de aperitivo em Lisboa, isto é:  you pay the drinks we give you the food.” Temos de ir ver isso.

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