Setembro é um mês de regressos, de desafios, de novas dinâmicas e, para muitos, de fim de férias. Esta última parte é a mais dolorosa e normalmente leva-nos a começar uma contagem decrescente para o próximo verão, a única altura do ano em que desligamos. Ou não.
No início das férias lemos um artigo com dicas para conseguir mesmo desligar, tarefa tão importante quanto o momento em que temos de ligar de novo. É preciso saber como o fazer sem que isso dê curto circuito — que é como quem diz: sentirmo-nos desgastados mais rápido do que é suposto.
Preparar o regresso ao trabalho é, por isso, fundamental e a Versa foi saber quais as dicas de quem sabe tudo sobre a mente e o mundo laboral: a psicóloga Cassiana Tavares, autora do livro “A Bíblia da Carreira”.
1. Organizar o regresso
Muitas pessoas sentem que precisam de férias das férias, principalmente quando as primeiras envolvem crianças. Além de nem sempre ser possível, por razões monetárias ou disponibilidade, cada caso é um caso.
"É preciso perceber o que é útil à maneira de a pessoa estar na vida, ou seja, aquilo que conhece sobre o seu funcionamento mental e emocional e da sua forma de trabalhar”, começa por dizer Cassiana Tavares à Versa.
Seja qual for o caso, o primeiro passo para preparar o regresso é refletir.
“É muito importante que a pessoa perceba o porquê de estar a regressar ao trabalho. Por mais que a pergunta nos possa parecer tonta, é importante irmos aos motivos. Porque é que estou neste emprego? Que valores é que estou a responder? O que estou a fazer nesta equipa? Qual é a minha missão”, defende.
Responder a estas questões e, num segundo passo, “dividir os objetivos em metas” antes de começar a trabalhar. Fundamental para evitar entrar no modo piloto automático, o que acaba por tirar-nos prazer e motivação nas funções que desempenhamos.
2. Equilibrar trabalho e vida pessoal
Parece a utopia da vida: alcançar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Parece, mas não tem de o ser.
“Quais são as condições mais importantes para mim? É terminar o meu dia e descansar? Ter tempo para estar com família, com amigos? Ter um hobbie? Ir ao cinema? Portanto, pensar um bocadinho como é que gostava de viver a minha vida, por exemplo, daqui até ao final do ano, porque é o próximo esticão”.
Mais do que uma rotina que nos distraia e faça relaxar, Cassiana Tavares defende que se deve “adotar um estilo de vida que nos faz viver”, sendo que, nesta equação, pode e deve estar incluído o trabalho, desde que de uma forma saudável.
“O que não é saudável é ignorarmos coisas que fazem parte da nossa vida e depois ficarmos zangados com o trabalho. Acho que é isto que está a acontecer com o burnout, que tenho observado em clínica. Mas não podemos diabolizar só o trabalho, porque somos nós que fazemos a nossa agenda”, remata.
3. Desacelerar no final do dia
A pandemia trouxe-nos o teletrabalho, que em alguns casos veio para ficar, mas dentro ou fora de casa continuamos com uma questão difícil de resolver: como desligar?
O segredo está em adotar uma estratégia para fechar o dia sem sentir “culpa” por ir embora ou ficar com a sensação de que ficou algo por fazer.
“Se tenho de sair do trabalho, devia pôr um limite em que na última hora tenho de estar a concluir tarefas e nos últimos 30 minutos devia ter tempo para olhar para o que foi o meu dia. Se não o fizer, venho sempre com os temas abertos na minha cabeça”, refere.
4. Evitar o “é só hoje”
Setembro ainda é um mês que se leva com algum entusiasmo — estamos, digamos, fresquinhos das férias —, mas em outubro é comum já nos sentirmos esgotados. É altura de contornar isso.
“Achamos sempre que conseguimos aguentar só mais ‘esta pressão’. ‘É só hoje’. ‘É só esta semana. ‘É só este projeto’. ‘É só até aquele deadline’. Mas isso é uma ilusão, porque não acaba”, alerta a psicóloga Cassiana Tavares.
“Portanto, o ideal é descansar todos os dias do trabalho daquele dia e descobrir o que nos traz a energia de volta”, termina.