Quando falamos em saúde oral, a maioria das pessoas pensa de imediato nos dentes e nas gengivas. No entanto, a língua – muitas vezes esquecida – desempenha um papel fundamental, não só na digestão e no paladar, mas também como reflexo direto do estado de saúde do organismo.
Quem o afirma é o médico dentista Ricardo Maia, da Clínica Santa Madalena. “A língua pode ser uma janela para doenças que vão muito além da cavidade oral”, diz em entrevista à VERSA.
Para sabermos se estamos saudáveis, basta olhar para a língua, que deve apresentar as seguintes características: uma coloração rosada, uma textura uniforme e ligeiramente húmida. Qualquer alteração nesses parâmetros pode indicar algo mais sério. “Alterações na cor, textura ou presença de lesões podem significar algo mais profundo”, explica o Dr. Maia.
Quando a cor da língua diz mais do que pensamos
A coloração da língua pode revelar deficiências nutricionais ou patologias subjacentes. Por exemplo:
– Língua vermelha viva pode indicar deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico;
– Língua esbranquiçada pode significar candidíase oral, desidratação, má higiene ou leucoplasia (potencialmente pré-cancerosa);
– Língua pálida está frequentemente associada a anemia;
– Língua com manchas escuras pode resultar de tabagismo, uso de antibióticos ou estar relacionada com a doença de Addison. Ainda no que toca a manchas, se forem brancas podem indicar candidíase, leucoplasia, líquen plano; manchas vermelhas são sinal de inflamação, alergia, lesões pré-cancerosas; manchas roxas ou azuladas dizem respeito a problemas vasculares, má oxigenação ou doenças cardíacas; manchas negras ou “língua pilosa negra” pode ser por má higiene, antibióticos, tabaco; e manchas irregulares são sinal de língua geográfica, condição benigna, mas associada a alergias ou stress;
– Língua com fissuras pode indicar, ainda que seja pouco comum, síndrome de Sjögren (ausência de saliva) ou psoríase;
– Língua com papilas pode apontar para deficiências nutricionais, especialmente ferro, zinco ou B12.
Escovar a língua diariamente, seja com uma escova ou um raspador específico, é essencial para remover bactérias acumuladas, prevenir o mau hálito e melhorar o paladar. Esta prática simples pode reduzir significativamente o risco de doenças gengivais e infeções.
Aftas e feridas: quando preocupar-se?
As aftas são comuns e geralmente inofensivas, mas há sinais que não devem ser ignorados. Se uma lesão durar mais de três semanas, for muito dolorosa ou surgir acompanhada de febre e perda de peso, é fundamental consultar um médico dentista.
Quanto a feridas, se persistir por mais de três semanas, tiver bordas elevadas ou endurecidas, não doer (feridas malignas são muitas vezes indolores), sangrar facilmente e estiver associada a perda de peso inexplicável ou dificuldade para engolir, "neste caso, deves procurar o teu medico dentista", alerta Ricardo Maia.
A visão da Medicina Tradicional Chinesa
A análise da língua não é exclusividade da medicina ocidental. Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a língua é vista como um espelho do estado energético e funcional dos órgãos internos. A sua cor, forma, mobilidade e revestimento são cuidadosamente analisados para diagnosticar desequilíbrios:
– Uma língua vermelha na ponta com saburra amarela pode indicar calor no coração, associado a insónia ou ansiedade;
– Uma língua pálida e fina aponta para deficiência de sangue, o que pode explicar fadiga ou tonturas.
Segundo a MTC, diferentes zonas da língua correspondem a órgãos distintos: a ponta representa o coração e os pulmões, o centro o estômago e o baço, os lados o fígado e a vesícula biliar, e a parte posterior os rins e intestinos.