Tudo começou em 2021, ano em que a Tarwi se lançou no mercado, propondo-se a reinventar o tremoço. Começou por apresentá-lo em formato de snack –simples com sal, com chilli e com manjericão – e depois surgiu o Lummus, ou húmus de tremoço, nas versões original, de beterraba, de tomate seco e de manjericão. Como se toda esta inovação não bastasse, a Tarwi quis ir mais longe e quatro anos depois apresenta um novo produto revolucionário.
Proteína em pó vegan, 100% natural, é a nova proposta da Tarwi, que vem mudar tudo o que conhecemos sobre o mundo da suplementação. Se há quem tome determinadas proteínas de nariz tapado, tal não vai acontecer com as novas propostas da Tarwi, seja a pura, a de baunilha ou a de cacau. Em qualquer uma delas uma coisa é garantida: elevados níveis de proteína, que mostram o elevado potencial nutricional do tremoço para uma saúde de ferro.
A fundadora e CEO da empresa, Catarina Gorgulho, explica à VERSA de que forma a mais recente novidade da Tarwi quer revolucionar o mercado, nacional e além fronteiras.
A nova fórmula da proteína de tremoço apresenta-se como uma categoria inédita no mercado. Que desafios encontraram na criação?
O maior desafio foi desenvolver uma fórmula que respeitasse os nossos valores enquanto marca – 100% natural, com poucos ingredientes, minimamente processada – mas que, ao mesmo tempo, conseguisse competir em funcionalidade e sabor com o que já existe no mercado.
O tremoço é uma leguminosa incrível do ponto de vista nutricional, mas também mais cara do que outras leguminosas, o que tem impacto direto no custo final do produto. Além disso, é um ingrediente ainda pouco trabalhado na indústria alimentar. Por isso, encontrar um parceiro que compreendesse o nosso propósito e tivesse capacidade técnica para tratar o tremoço como um ingrediente funcional foi uma tarefa complexa.
Ainda assim decidiram avançar. Porquê?
Do lado do consumidor, vimos um mercado saturado de proteínas vegetais ultraprocessadas, muitas vezes com ingredientes artificiais e um sabor artificial. Apesar disso, havia uma procura crescente por proteína como macronutriente essencial, mas com uma aceitação generalizada de que as opções existentes eram o "mal necessário". As pessoas consumiam proteína em pó "tapando o nariz".
Na Tarwi, quisemos mudar isso. Acreditamos que é possível oferecer uma alternativa vegetal, nutritiva, de fácil digestão, sem aditivos, e que ainda assim saiba bem. Para isso, o desafio passou por todo o processo de sourcing, formulação e testes, até conseguirmos uma proteína de tremoço que entregasse o que o consumidor quer (conveniência e proteína) e o que precisa (nutrientes reais, sabor, pouca intervenção).
Considera que o tremoço tem potencial para se tornar uma referência global no segmento das proteínas vegetais?
Sim, acreditamos profundamente nisso. Uma das principais limitações das proteínas vegetais é o seu perfil incompleto de aminoácidos essenciais. A soja destacou-se por ser uma exceção, mas o tremoço está ao mesmo nível, com um perfil proteico que rivaliza com o da soja. Por isso, a maior parte da produção de tremoços ainda é direcionada para consumo animal, dado o seu valor nutricional. A razão pela qual o consumidor final não o reconhece como uma fonte de proteína é puramente cultural e, muitas vezes, por falta de informação.
É precisamente esse o gap que a Tarwi quer colmatar: educar o consumidor sobre o potencial do tremoço como proteína vegetal de alta qualidade, e assim aumentar a sua procura.
Além disso, o tremoço tem um impacto ambiental muito positivo: cresce naturalmente na Europa, com muito pouca necessidade de água ou fertilizantes, regenera os solos e contribui para a biodiversidade. É uma excelente resposta à procura crescente de alternativas à soja, especialmente mais locais e sustentáveis.
Acreditamos que, com o tempo e educação, o tremoço terá um lugar de destaque global neste mercado.
Referem que as novas proteínas não causam inchaço: o que contribui para isso?
As nossas proteínas são de muito fácil digestão, precisamente porque o tremoço tem um teor extremamente baixo (quase nulo) de lectinas – compostos naturalmente presentes em várias plantas que, no nosso organismo, podem dificultar a digestão, interferir na absorção de nutrientes e causar inchaço.
Para referência: enquanto o feijão comum pode ter até 840 × 10–5 HU (unidades de atividade hemaglutinante), o tremoço tem cerca de 3 × 10–5 HU, uma diferença muito significativa. Ao escolher o tremoço como base, estamos a oferecer uma fonte de proteína naturalmente bem tolerada, que respeita o sistema digestivo e contribui para o bem-estar geral.
As novas proteínas não têm o travo artificial típico das proteínas em pó convencionais. O que torna o sabor das proteínas da Tarwi tão diferente?
O segredo está na forma como tratamos o tremoço. Utilizamos uma tecnologia inovadora de extração que não recorre a modificações químicas ou biológicas, nem a solventes agressivos como hexano ou éter de petróleo. Em vez disso, usamos métodos com dióxido de carbono, altamente eficientes, de baixo consumo energético e com geração mínima de resíduos.
Este processo permite-nos isolar a proteína, mantendo intactos os minerais do tremoço, o que resulta num produto final mais nutritivo – e com um sabor muito mais suave, sem o típico “aftertaste” das proteínas vegetais convencionais.
Porquê a aposta específica na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Espanha até 2026? Que fatores estratégicos ditaram a escolha destes mercados?
Estamos a ser muito estratégicos na nossa expansão internacional. O custo de educar o consumidor num mercado completamente “frio” como o Reino Unido, onde ninguém sabe o que é o tremoço, é demasiado elevado para uma empresa da nossa dimensão.
Por isso, optámos por mercados onde já existe alguma familiaridade cultural com o tremoço, como Espanha, Arábia Saudita e Emirados, e onde vemos também um interesse crescente por alimentos funcionais e saudáveis. Além disso, conforta-nos saber que os nossos investidores conhecem bem estes mercados e podem ajudar-nos a otimizar contactos e a ligar-nos a parceiros estratégicos.
Nestes países, o nosso desafio não é explicar o que é o tremoço, mas sim comunicar os seus benefícios nutricionais e apresentá-lo num formato moderno, delicioso e fácil de integrar na rotina alimentar. Isso permite-nos crescer de forma mais eficiente e construir uma marca relevante, com espaço para inovação dentro de categorias em expansão.
Quais os próximos passos da Tarwi? Que novos produtos estão a ser pensados?
Neste momento, o foco está em consolidar a base: aumentar a notoriedade da marca em Portugal e expandir a distribuição da nossa gama atual: snacks de tremoço, Lummus e proteína.
Sobre novos produtos: temos várias ideias em desenvolvimento, mas neste momento estamos a priorizar o foco. Estamos constantemente a trabalhar em melhorar os produtos existentes e identificar categorias onde existe potencial real de inovação e escala. Novidades virão, mas com o tempo certo.