Alba, em Piemonte, é o destino para a temporada das trufas brancas
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Vamos caçar trufas?

Há coisas que têm de ser planeadas com um mínimo de antecedência, se quiserem garantir os melhores programas: é o caso de Alba, em Piemonte durante a temporada das trufas brancas.

Com o fim do Verão, é hora de arrumar os biquínis e começar a pensar em outros voos, ou antes, em alternativas aos programas de praia. E acreditem, há coisas que têm de ser planeadas com um mínimo de antecedência, se quiserem garantir os melhores programas: é o caso de Alba, em Piemonte durante a temporada das trufas brancas. Temporada esta que começa já em outubro e se estende até dezembro. Deixo um alerta: se marcarem agora, até já podem ir tarde. Mas tentem, porque vale a pena. É que não há nada como experimentar algumas coisas in loco, ainda que seja apenas uma vez na vida. E em Alba é onde se encontram as trufas mais delicadas de Itália, iguaria quase tão rara como o caviar cujo preço está mais próximo do de uma joia do que de uma especiaria. Só para que tenham uma noção, no ano passado as trufas brancas estavam escassas e por um quilo pediam 5.000 euros. Claro que isso não é nada comparado com o que Stanley Ho pagou há uns anos por um quilo e meio de um espécime raro de trufa encontrado perto de Pisa: 300.000 euros. Mas não deixa de ser um balúrdio, se pensarmos que, na prática, se trata de um mero fungo.

Agora, não pensem que foi sempre assim. É que durante um largo período da História, durante a Idade Média, as trufas tiveram má fama, e foram apelidadas de venenosas. A verdade é que foram banidas pela “Inquisição” devido às suas supostas características afrodisíacas, coisa que a Igreja não via com bons olhos. Pelo que apenas no início do século passado elas voltaram a ganhar fama, graças à aristocracia italiana, que devolveu à trufa branca o estatuto de grande iguaria. E foi justamente de Alba que veio o grande empurrão que faltava para a internacionalizar, com a criação das primeiras feiras da especialidade (que existem até hoje) e com o envio de exemplares de qualidade excecional para grandes celebridades da época, como Churchill e Sophia Loren.

Se estão convencidos a dar um salto a Alba, o melhor é pegarem já no telefone para começar a marcar os restaurantes que valem a pena. Deixo-vos como sugestão o Guido, restaurante estrelado que tem no comando o excecional chef Ugo Alciati. Tudo vale a pena neste lugar, a começar pelo magnífico menu de degustação de trufas brancas que está disponível nesta época, a terminar no edifício onde está o restaurante, e a propriedade onde está integrado. A famosa Fontanafredda, “villa” que o primeiro rei de Itália, Vittorio Emanuele II, mandou construir em 1858, e que acabou por oferecer à sua amante, Rosa Vercellana, conhecida por Rosina, com quem viveu uma bela história de amor. Quando a conheceu ela tinha apenas 14 anos e era uma mulher simples do “povo”. Isso não impediu que o rei, mesmo sendo casado, lhe tivesse dado dois filhos, o que fazia dela uma das mulheres mais invejadas da época. Quando a sua mulher morreu, foi-lhe apresentada uma lista de novas pretendentes com quem ele poderia voltar a casar.

Mas Vittorio Emanuele II sabia bem com quem queria passar o resto dos seus dias, pelo que não só não aceitou nenhuma das candidatas, como tratou de tornar Rosita “elegível” ao cargo, ao oferecer-lhe esta propriedade e dar-lhe o título de condessa de Mirafiore e Fontanafredda. Foi justamente um dos seus filhos que fundou, já depois da morte de ambos, a vinícola que acabou por dar fama ao vinho Barolo. No interior da propriedade foram construídos vários edifícios para abrigar não só a nova adega, como o pessoal que ali trabalhava. Foi ali criada uma mini-cidade onde funcionava uma igreja, uma escola, entre outros, edifícios belíssimos que existem até hoje, muito bem preservados. Além disso, pode visitar a adega e terminar numa ótima prova de vinhos. Tudo isto, sem pegar no carro. Claro que a região tem várias outras propriedades que merecem uma visita e que valem a pena explorar, mas deixo esta como referência, pois me parece uma experiência muito completa. É claro que se querem descobrir como é que é feita a caça às trufas, podem marcar uma saída com os cães farejadores, mas saibam que é programa feito para “inglês ver”. As trufas que são encontradas na maioria destes programas já foram colhidas antes, e são ali postas de propósito para os turistas. Logo, não tem nada de genuíno, mas não deixa de ser divertido. O passeio a pé pela região vale sempre a pena. É só fazer de conta que acreditam.

Ir ao centro de Alba ao tradicional mercado da Trufa também faz parte do programa, e aqui é onde podem comprar as vossas próprias trufas brancas para levar para casa. Devidamente embrulhadas num papel poroso e mantidas no frigorífico, chegam a durar 15 dias. Não se esqueçam de comprar a lâmina própria para as cortar, que também encontram no mercado local. Preparem-se para lidar com a verdadeira multidão que ali aflui, a maior parte só para sentir de longe o cheiro desta iguaria, mas não deixa de ser uma experiência interessante, até porque diariamente acontece ali um leilão, onde as negociações são fechadas com o badalo de um sino.

Se tiverem tempo, não deixem de fazer uma visita a Barbaresco e continuar a viagem gastronómica na famosa osteria gourmet Campamac, que serve pratos típicos da região, num ambiente sofisticado. Refeição esta que pode sublimar com um Gaja, um dos melhores vinhos do mundo, cuja adega fica ali mesmo ao lado. Aproveitem esticar as pernas até lá depois de mais um banquete. Merece a visita.

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