A Quinta do Monte d'Oiro está localizada em Freixial de Cima, Alenquer Fotografia: Gonçalo F. Santos
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Na Quinta do Monte d’Oiro, os vinhos fazem-se sem pressa

A Quinta do Monte d’Oiro tem novos vinhos (rosé, branco, Touriga Nacional e Tinta Roriz), mas a prioridade continua a ser a sustentabilidade. Provámos também o novo Quinta do Monte d’Oiro Reserva que chega “com três anos de atraso”, mas aprimorado.

Quando o pão é servido, Francisco Bento dos Santos, diretor-geral da Quinta do Monte d’Oiro, interrompe o discurso para, com entusiasmo, falar de uma garrafa de azeite pousada sobre a mesa. “A Graça Gonçalves, a nossa enóloga, é de uma terra em Trás-os-Montes em que cresce uma azeitona autóctone, a Santulhona”, conta, à mesa do Boi-Cavalo, restaurante de Hugo Brito, em Alfama, escolhido para um almoço de apresentação dos novos vinhos da Quinta do Monte d’Oiro.

Além do lançamento das novas colheitas de 2021 de rosé, branco e Touriga Nacional – este de 2019 –, vamos ainda provar um Reserva tinto de 2017 que “lá para setembro ou outubro será apresentado”. Mas já lá iremos – voltemos ao azeite.

“A Graça herdou um pequeno olival de árvores centenárias dos avós e, ao fim de tantos anos a comprarmos-lhe garrafões, decidimos ficar com a produção”, continua Francisco, que desde 2011 assume a direcção da quinta adquirida em 1986 pelo pai, José Bento dos Santos, e cuja renovação teve início em 1992, com a plantação de vinhas que se inspiravam na tradição da região do Ródano, em França. Atualmente no mercado (€15) com uma produção de 700 garrafas, o azeite Quinta do Monte d’Oiro “é médio em tudo”, descreve Francisco. “Tem uma acidez mediana e é picante. O ideal é provar”, desafia.

Para acompanhar um risotto de chouriço e rosas – o primeiro de cinco pratos de um menu elaborado de raiz por Hugo Brito, para enaltecer as características dos vinhos da quinta localizada em Freixial de Cima, Alenquer –, provámos um vinho que ali é produzido há dez anos, com certificação biológica há cinco: o Quinta do Monte d’Oiro Rosé.

Com consultoria técnica de Grégory Viennois, que foi enólogo chef da afamada Maison Chapoutier, tentou fazer-se um rosé mais ao estilo provençal (repleto de frescura e acidez). “Ao contrário de outros vinhos, o rosé é muito técnico. Apesar de termos influências atlânticas muito fortes [estão a 20 km do mar em linha reta], este é um vinho sem poesias”, acredita Francisco Bento dos Santos. Escolhendo a parcela de Syrah ideal, toda a viticultura foi adaptada para um rosé. Fizeram-se menos desfolhas e vindimou-se mais cedo do que noutras parcelas da mesma casta usadas para vinhos tintos. As uvas, essas, foram vinificadas como se se tratasse de um vinho branco, sem maceração. O resultado, explica Francisco, é um vinho” completamente seco, salino, mineral, muito gastronómico, com boa acidez e frescura”.

O vinho que se segue, o Quinta do Monte d’Oiro Branco, é totalmente diferente. Oriundo de um vale no meio da propriedade onde se faz um field blend [vinha, normalmente velha, em que foram misturadas várias castas], tem Viognier, Arinto e Marsanne, fazendo dele um vinho aromaticamente rico. Ainda que sendo ideal para acompanhar com uma salada césar de muxama e queijo de São Jorge, Francisco explica o processo pelo qual este vinho passou até chegar onde queriam. “Como lhe faltava acidez e não gostávamos dele a solo com o Viognier, juntámos Marsanne e Arinto”. A Marsanne, “uma casta muito neutra aromaticamente”, trouxe ao vinho corpo e estrutura, sem precisar de barrica. A adição de Arinto, por sua vez, encarregou-se de conferir ao vinho toda a “parte cítrica”.

A chegada à mesa de uma pescada curada em folha de videira, regada com jus de pernil e acompanhada com massa quebrada, é o pretexto para se passar para os tintos. O Touriga Nacional, “um single vineyard limited edition feito da melhor parcela de Touriga Nacional” é uma produção pequena [em 2019 foram lançadas 1400 garrafas] que não sai todos os anos. “Às vezes perguntam-me se, assim sendo, só sai nos melhores anos”, comenta ao servir os copos dos vários jornalistas presentes.  “Não. Isso do melhor ano é discutível. Quando o lançamos para o mercado, queremos que seja a melhor expressão dessa parcela”, continua. Só assim se obtém um Touriga Nacional mais “magro e elegante”, que já há dois anos não necessita de adição de Syrah para lhe limar as arestas. 

A estrela da companhia, claro, ficaria reservada para o fim. Para acompanhar uma vitela maturada com tarte de ginjas pickladas, chega-nos ao copo não um, mas dois tintos. A ideia é perceber as diferenças entre o Quinta do Monte d’Oiro Reserva de 2013, um vinho com dez anos “mas vivo”, e o novo Reserva de 2017, que será lançado entre setembro e outubro e “tem três anos de atraso em relação à concorrência”. Para Francisco Bento dos Santos, esse discernimento na altura de escolher quando lançar o vinho é o que permite que os seus vinhos “tenham personalidade e exprimam o ano de colheita”. Afinal, na Quinta do Monte d’Oiro tudo é feito sem pressa e com cuidado.

Os novos vinhos

- Quinta do Monte d’Oiro Rosé 2021, PVP: €10

- Quinta do Monte d’Oiro Branco 2021. PVP: €10

- Quinta do Monte d'Oiro Touriga Nacional 2019 Single Vineyard | Limited Edition. PVP: €23

- Quinta do Monte d'Oiro Tinta Roriz 2019, Single Vineyard | Limited Edition. PVP: €23

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