O Japão encontrou um cantinho neste restaurante mexicano

O Las Dos Manos, no Bairro Alto, faz uso da gastronomia nipónica “para dar alguma tonalidade à cozinha mexicana”. É assim o novo restaurante do chef Kiko, que nasce de uma ideia (aparentemente) descabida.

Francisco Martins, mais conhecido como chef Kiko, não consegue parar de magicar ideias para novos restaurantes. O Las Dos Manos, que acaba de abrir portas no Jardim de São Pedro de Alcântara, no Bairro Alto, em Lisboa, demorou-lhe dois anos a sair do papel, mas é, talvez, o projeto mais arrojado desde que lançou o primeiro restaurante O Talho, em 2013. “Se calhar é a ideia mais parva que tive na vida, mas acho que, às vezes, são as ideias mais parvas que devem ser maturadas”, confessa o chef sobre o novo restaurante que funde a cozinha mexicana com a japonesa.

Mas se a ideia pode parecer estranha – juntar a gastronomia de dois países que, aparentemente, nada têm que ver –, Kiko Martins garante que há traços comuns na forma de cozinhar destes países separados por um oceano. “Uma pessoa começa a estudar e percebe que o Peru teve uma colonização japonesa, mas que não é a única cozinha sul-americana com influências nipónicas. O México não teve lá japoneses, mas, se olharmos para a sua cozinha, especialmente a costeira, há influências muito grandes”, explica o chef, no dia em que a Versa visitou o restaurante que, ao fundo, tem um painel de azulejos com o rosto da pintora mexicana Frida Kahlo e o de uma gueixa japonesa,  e é atravessado por duas barras, com 16 lugares, onde se pode fazer uma refeição e assistir à preparação de todos os pratos. 

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O desejo de abrir um restaurante mexicano “sempre esteve lá”, garante Kiko Martins. "Comecei a testar. Fiz um aguachile com sashimi de lírio e gamba braseada, fiz uma tostada com barriga de atum e percebi que as coisas faziam algum sentido”, afirma. Mas para quem tiver dúvidas sobre o que irá encontrar aqui, este não é um restaurante mexicano e japonês. “É um restaurante mexicano com um toque japonês. Usamos o Japão para dar alguma tonalidade à cozinha mexicana”, clarifica o chef.

Na cozinha aberta para o público, vislumbra-se um espeto usado nos restaurantes no México para cozinhar a carne dos tacos – aqui revestido de uma peça de secretos de porco preto. Os totopos, servidos como couvert e acompanhados com guacamole, edamame e molho de queijo fundido (€3,75), são preparados de raiz com farinha de milho importada. “Tudo é pensado e maturado com tempo, coisa que nem sempre há”, diz Kiko Martins. Um dos primeiros pratos a chegar ao balcão é um aguachile de sashimi de lírio e gamba do Algarve (€22,40), “um parente do ceviche feito com caldo de peixe, que se come com comida crua”.

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À semelhança dos japoneses, os mexicanos também não comem pão. A tostada “que se vê pouco em restaurantes mexicanos em Portugal” é a iguaria que se segue. Neste caso, de barriga de atum (€14,30) com wasabi e creme de lima. O taco Al Pastor, com os  secretos de porco fatiados acima mencionados, agora acompanhados com ananás (€7,30), encerra os pratos salgados em que cocktails, como o Sakurita, (€13,60) com tequila e yuzu, podem ser uma boa opção para acompanhar a refeição. O churro com doce de leite, milho, granizado de lima e tequila (€8,60) foi a sobremesa escolhida.

Passados dois meses de ter aberto portas, Kiko Martins está orgulhoso do seu novo restaurante. “Um restaurante sente-se nos primeiros dias. Percebe-se logo se as coisas vão correr bem ou mal. Vimos de dois anos de pandemia e tive de encerrar alguns espaços e a autoestima não está lá em cima. Nos primeiros dias, as pessoas entravam e diziam que tinha sido o melhor Al Pastor que tinham comido. Afinal, esta ideia de jogar com dois países faz sentido.”  

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