Mónica Seabra-Mendes, Diretora do Programa Gestão do Luxo da Católica Lisbon, tem dado a Portugal uma visão mais abrangente do universo do luxo. A cada nova edição, leva atuais e futuros profissionais desta indústria, numa reflexão sobre os desafios e a essência dos fundamentos do luxo, mas também a entender a idiossincrasia do comportamento dos seus consumidores e as particularidades na gestão de marcas de luxo. Esta é um conVERSA naturalmente sobre luxo e as novas tendências no setor.
PUB
Portugal não tem cultura de luxo, pelo que não produz marcas com essa identidade, o que não quer dizer que não existam exceções e não existam produtos de excelência. A procura pela excelência decorre também de uma exigência do mercado que nós não temos. Falhamos nos detalhes, no refinamento, na estética mais sofisticada, no prazer da superação e da perfeição.... Concentramo-nos muito no produto e esquecemos que ele tem de ser comunicado, mimado, enaltecido para criar uma emoção em quem o adquire. No luxo, tudo é emoção e perceção. Raramente percorremos o “extra-mile”.
Para mim, o luxo último da atualidade é o que resulta de uma inversão do ónus da exclusividade. Esta passa das marcas para o consumidor. Ser exclusivo não resulta apenas da exclusividade que uma marca nos garante, mas sim das distintas e ecléticas escolhas que fazemos. Afirmar os seus luxos pela pessoa que se é, pela forma como atua pela descoberta de coisas únicas, excecionais raras e que emocionam, por garantir uma relação próxima com quem cria e quem materializa. Por garantir que são feitas de forma personalizada. Pela exigência, pelo olhar, pela descoberta.
PUB
Inspirar e não seguir. Não precisar de estar conforme as propostas das marcas e não precisar da chancela destas socialmente - ainda que se possa apreciar e adquirir muitos dos seus produtos - é o luxo supremo.
Passamos, sobretudo, um entendimento geral e uma consciência do que é o luxo. Uma cultura de excelência que qualquer pessoa pode exercer no seu trabalho e na sua vida pessoal. Que contribua para se produzir melhor e para se ser melhor pessoa ao fazê-lo. O luxo é um exercício de respeito pelo OUTRO e deve proporcionar momentos de prazer e de felicidade. O luxo é celebração! Se compreenderem os sentidos estético e ético do luxo, que contribuem inegavelmente para um mundo melhor e mais bonito, já fico satisfeita! Se erradicássemos o luxo da sociedade, todos ficaríamos mais pobres.
PUB
Há profissionais que afirmam que esta formação lhes transformou a vida. É extremamente gratificante testemunhá-lo!
Temos vindo a formar ao longo destes 12 anos, uma comunidade de profissionais que gravita em torno desta temática, que a defende, que a exerce e que estabelece relações de trabalho entre si. Estamos também a dar voz a marcas, a acompanhar percursos. Estamos a provar que o posicionamento no luxo é uma opção viável e adaptada ao perfil económico do país.
E tenho a absoluta convicção de que se hoje se fala de luxo em Portugal muito se deve à existência deste programa pioneiro. Estamos a esgotar os nossos programas, não só em resultado do nosso trabalho, mas também de uma crescente consciencialização para este tema de profissionais de áreas bem distintas.
PUB
Formar! Formar! Formar! Começar pela base.
Trabalhar a área do luxo exige uma sensibilidade e uma forma de gestão particulares. Criar ou gerir marcas de luxo exige, portanto, profissionais preparados. É uma gestão delicada, um equilíbrio instável e constante entre as exigências do negócio e as contingências criativas.
É preciso também olhar para os bons exemplos e aprender com eles. Dissecar os modelos de negócio e as estratégias.
E é muito importante encontrar o bom posicionamento. A comunicação e o contexto certos e, sobretudo, a audiência certa - a que entende o nosso produto e está disposta a pagar o seu real valor.
Há cada vez menos marcas independentes. Os conglomerados estão a fortalecer-se a um ritmo alucinante. Sinto que se está a perder criatividade e exclusividade. Fascínio. Magia. Emoção. Existe um certo decalque dos timings de criação e de consumo do fast fashion... A oferta está demasiado orientada para países e consumidores emergentes, com consumos conspícuos. Creio que o real valor dos produtos não está a acompanhar a incrível inflação de preços. O facto de as marcas de luxo estarem a acumular resultados positivos sem precedentes não me parece, a médio prazo, auspicioso. As marcas enriquecem, mas o consumidor perde em toda a linha.
PUB