Baby Reindeer | Fotografia: IMDb
Design e Artes

Cometemos um erro de principiante e esta série deu-nos a volta à cabeça

O novo sucesso da Netflix, a série 'Baby Reindeer', tem apenas sete episódios de 30 minutos. É o suficiente para nos fazer pensar e tirar lições.

Baby Reindeer é o nome da nova série da Netflix que, traduzida para português, significa 'Rena Bebé'. O nome é fofinho e ao mesmo tempo inquietante, um tanto desconfortável, assim como é a série categorizada como comédia dramática.

Está já no top da Netflix, aliás, ocupa a primeira posição de séries mais vistas da plataforma em Portugal, e com estes resultados prova várias coisas: uma série de sete episódios com apenas 30 minutos tem o tempo que chega para passar a mensagem que agarra os espetadores; não são só as séries densas, como House of Cards ou Breaking Bad, que ocupam lugares de destaque; abordar a saúde mental é urgente e muito bem-vindo ao streaming (e a qualquer outra forma de arte cinematográfica). 

A série Baby Reindeer é produzida por Richard Gadd, que é também o protagonista da série, Donny Dunn. É um aspirante a comediante que ganha a vida a trabalhar num pub, o lugar onde conhece a segunda personagem principal e o seu pior pesadelo: Martha.

Partimos para esta história por estar nos tops da plataforma, ainda antes de saber que é baseada em factos reais vividos pelo próprio Richard Gadd, que balança o drama aqui vivido com nuances cómicas. Mas não confundas o riso com os assuntos sérios aqui retratados: saúde mental, perseguição, agressão sexual e abuso de poder. Foi, portanto, um choque ao primeiro episódio. 

Mas após o primeiro, foi um loop sem fim. Afinal, são só 30 minutos de episódio, que poderiam ser tão fáceis de ver quanto uns episódios de Friends, mas Baby Reindeer exige alguma digestão e tempo para pôr a cabeça em ordem entre cada novo capítulo. 

Explicamos por que razão a nova série dá-nos a volta à cabeça a cada 30 minutos. 

Um erro de principiantes: empatia

O primeiro episódio conta-nos o que parece uma história romântica: Martha entra no pub onde trabalha Donny Dunn e de vulnerável passa a rainha da festa. É a alegria do dia de Donny Dunn, mesmo que ele pouco demonstre ou fale. Até sentimos que ele devia dar mais de si, quando na verdade o que devemos desejar é que fuja o mais rápido possível.

Mas ninguém nos pode julgar por este erro de principiante: se é empatia que Richard Gadd quer que criemos com as personagens para uma queda mais violenta, então conseguiu o que pretendia. Afinal, trata-se de uma série que, como qualquer outra, quer que fiquemos agarrados. 

Primeira lição

Sempre nos disseram para não confiar em desconhecidos, mas os ouvidos tendem a ouvir só o que nos leva por maus caminhos, como acontece em Baby Reindeer.

Martha apresenta-se como advogada e até o é, no papel. Com isto, a primeira lição (de várias) que podemos tirar da nova série da Netflix é que não nos devemos deslumbrar pelo bem aparente. No caso, Donny Dunn deixou-se deslumbrar pelo ar doce e vulnerável, pelas conversas banais, pela seriedade da profissão de Martha, no fundo, por tudo o que é de mais inofensivo e que deixa qualquer um desarmado.

Mas surgindo o bem tão assim do nada, com regresso marcado diariamente por dias a fio, não seria de desconfiar das intenções de Martha, baby reindeer? 

Podemos ou não rir? 

Ao mesmo tempo que a trama se adensa, a comédia também se torna mais presente. E assim ficamos confusos: podemos entregar-nos à tensão ou rir? E, se rirmos, devemos sentir culpa perante os acontecimentos? 

Baby Reindeer deixa-nos com a cabeça às voltas sem saber como lidar com o turbilhão de assuntos. Principalmente quando um novo tema é introduzido, o abuso sexual. É abordado através de uma interpretação brilhante e de uma forma brilhante, num ritmo que nos permite perceber os acontecimentos, dá-nos tempo para sentir desconforto e recuperar da reviravolta e ficar a perceber melhor as ações de Donny Dunn. 

Saúde mental 

Pode não ser consensual, mas sabemos o principal motivo para termos ficado agarrados a Baby Reindeer: a tónica sobre saúde mental. Porque é também isso que nesta história faz com que Donny Dunn fique agarrado a Martha.

De formas completamente diferentes, ambos travam batalhas com a saúde mental. Mas antes de sabermos isto, Martha é somente uma vilã e perante o crime que comete acabamos por tomar a posição mais normal perante as circunstâncias: achamos que o caso deve ser apresentado à polícia e desejamos as devidas consequências.

Mas Donny Dunn faz-nos olhar para o caso de Martha além do que ele é: em causa está, acima de tudo, um problema de saúde mental. Seja aquele que é retratado na série ou qualquer outro, antes de apontarmos o dedo, devemos perceber e agir consoante a situação. Esta é outra das lições e formas de o novo sucesso da Netflix nos dar a volta à cabeça em apenas 30 minutos. 

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