Conhecemos e reconhecemos o rosto de Mariana Pacheco do teatro, das novelas e outros tantos programas de televisão. Mas e quando não vemos o rosto, saberemos reconhecer a voz? O primeiro teste foi feito quando a atriz aceitou o desafio do programa A Máscara, da SIC, mas agora podemos ouvir Mariana Pacheco sem jogos.
Ainda que sempre tenha cantado ao longo da carreira, esse talento tornou-se mais sério quando em maio de 2023 lança a canção Dor de Amar com o artista Syro, tema com letra de ambos. Passado precisamente um ano, Mariana Pacheco lança-se a solo com o seu primeiro single, Barco Vazio, já sob o nome artístico Anda Pacheco, que carrega um legado de família.
De estilo indefinido, talvez pop eletrónico e uma mensagem forte sobre vazio, egoísmo, saudade, aceitação e empatia, Barco Vazio é a canção que melhor define quem é Anda Pacheco. Este bebé acaba de nascer ao mesmo tempo que outro está já a caminho e que une, mais uma vez, Mariana Pacheco e Syro, na canção Vamos Ser, que anuncia que ambos vão ser pais.
Numa entrevista à VERSA, Mariana Pacheco (ou Anda Pacheco) fala-nos sobre a carreira até se dedicar a um projeto solo na música e sobre como a representação e a música podem conviver.
De certa forma, era a música um talento ainda escondido?
Não andei a esconder o meu talento musical, pelo contrário. Canto desde que me lembro, tive uma banda de covers, fiz muito teatro musical, dei voz a vários filmes de animação e já fiz personagens em novelas que cantavam. Participei inclusive no programa A Máscara da SIC enquanto cantora e fui residente no programa Regresso ao Futuro, também da SIC, no qual interpretava temas de vários estilos musicais, entre outras coisas. Sempre escrevi e compus, mas nunca soube bem que caminho gostava de seguir enquanto artista a solo. Existia também algum receio de dar esse passo e acabei por deixar que acontecesse de forma natural e sem pressão, para que as minhas próprias expectativas não estragassem o processo de descoberta de uma identidade que ainda estou a viver. Foi quando eu e o Syro compusemos e lançámos a nossa Dor de Amar que acabei por ter a confirmação de que era isto que eu queria fazer para o resto da vida.
Qual a origem do nome artístico Anda Pacheco?
“Anda Pacheco” é uma homenagem ao meu avô e uma expressão que ficou lendária no mundo do fado. O meu avô era o guitarrista da enorme fadista Hermínia Silva e foi ela que deu origem a esta expressão, que lhe dizia sempre que eles tocavam juntos e que acabou por se tornar gigante, tanto que o meu avô, António Luís Pacheco, passou a ser conhecido como o famoso “Anda Pacheco”, guitarrista da Hermínia. Sempre achei esta história fascinante e nunca perdi uma oportunidade de a partilhar com as pessoas. Decidi assim fazer dela o meu nome artístico, numa homenagem ao meu legado, ao nome da minha família e para me lembrar sempre de onde venho e quem sou.
Como define o seu estilo musical?
Não defino. Entendo que seja necessário haver um estilo ou um género para definir um artista, mas sinto que ainda não posso dizer com assertividade “sou uma artista de musica x” precisamente por ainda me encontrar nesse processo de descoberta. Considero que a Barco Vazio é uma canção que talvez se encaixe bem se disser que é um pop electrónico, mas tem tantas ramificações e inspirações que não deixa de ser limitativo chamar-lhe assim. De momento estou a entregar canções para o mundo e para as pessoas e talvez elas saibam definir melhor do que eu qual o meu estilo.
Qual a inspiração para o novo tema Barco Vazio? De que fala e que mensagem quer passar?
A Barco Vazio fala da sensação do vazio que todos nós já sentimos em determinadas alturas e circunstâncias da nossa vida e sobre estarmos a viver em piloto automático, sem grande controlo sobre o próprio destino. Fala sobre o desencontro e a saudade, sobre egoísmo e tristeza, mas também sobre a aceitação de que precisamos de alguém ao nosso lado, de nos sentirmos amados e compreendidos, e como isso acarreta também uma certa empatia e poder de adaptação para ir ao encontro do outro, por muito que por vezes custe.
Em que ponto se cruzam a representação e a música?
Há várias maneiras de a representação e a música se cruzarem. Dando o melhor exemplo possível, o videoclip da Barco Vazio foi filmado com uma equipa de cinema absolutamente incrível e criada uma história que nos permitisse levar a mensagem da canção para um lugar físico e visual. Eu estou a assumir o papel de actriz ao mesmo tempo que dou a voz à canção e sinto que conseguimos um resultado maravilhoso juntos, no qual esses dois campos encaixaram na perfeição.
Lançou este tema um ano depois do single em colaboração com o artista Syro. A partir de agora, vamos poder ter novidades suas mais regulares no que toca à música?
É precisamente nisso que estou a trabalhar. Estou a preparar um álbum que tem sido composto e criado com todo o amor, urgência e vontade que aqui estavam guardados. Ao longo deste ano planeio lançar algumas canções que farão parte desta obra, sendo que a Barco Vazio celebra o início desta nova fase que muito me entusiasma.