E se uma peça de teatro fosse pensada para ter apenas dois espetadores? Há um tipo de teatro que não pede casa cheia.
Esse teatro chama-se Uzahvati, um projeto imersivo criado em 2016 na Ucrânia por Alexander Stuzhuk e pela argumentista Polina Baranichenko, partindo de uma ideia inovadora.
“A originalidade da nossa ideia resultou do facto de termos criado a primeira peça de uma série concebida para apenas dois espetadores. Ficámos intrigados com o formato individualizado, especialmente porque antes as nossas peças destinavam-se a públicos maiores", diz à VERSA Polina Baranichenko, diretora do Uzahvati.
É assim que surge o Uzahvati, que consiste assim em projetos teatrais intimistas desenvolvidos por compositores, engenheiros de som, argumentistas e atores, que trabalham juntos em peças que têm como objetivo servir de ferramenta de desenvolvimento pessoal. “Queremos que as pessoas recordem como as experiências mudaram a sua perspetiva sobre coisas pequenas e familiares e talvez até sobre toda a vida. Exploramos a criatividade, as pessoas, o espaço e os sentidos”.
A ideia já chegou a Portugal, pelas mãos da produtora Polina Balashova, estreando-se com o espetáculo Stereo, para casais. Brevemente em cartaz está ainda o The Time, disponível a partir de 1 de junho.
Uma peça de teatro, um date e uma maratona: tudo junto
Uma peça de teatro imersiva é uma nova experiência para muitos, e apesar de existirem algumas, nada se compara à forma como a do Uzahvati se realiza.
Primeiro, temos de falar do Stereo, nome que diz respeito ao modo principal como esta peça para casais é apresentada.
“Os casais recebem equipamento, como auscultadores para a parte áudio. São informados sobre a forma de se envolverem no espetáculo, participando ativamente ou observando. O espetáculo explora a dinâmica das relações, permitindo uma interpretação pessoal. As histórias sinceras do guião acompanham as relações humanas. As próprias emoções e perceções do casal acrescentam profundidade à experiência partilhada”, explicam Polina Baranichenko e Polina Balashova.
Se tudo isto já é fora da caixa, falta-nos falar do local onde a experiência é vivida: um estádio, sendo no caso português o Estadio 1.° de Maio, em Lisboa.
“O cenário do espetáculo torna-se o nosso coautor, orientando as decisões artísticas e reforçando os temas. Por exemplo, no Stereo, a relação do casal é comparada a uma maratona, simbolizando a rotina, a repetição e o crescimento. O cenário do estádio acrescenta profundidade metafórica, refletindo a natureza circular das relações e o equilíbrio entre rotina e novidade. O espetáculo, estruturado como um treino, explora a forma como os casais navegam pelos comandos e decisões, acrescentando reviravoltas inesperadas ao enredo. Este treino intenso reflete a complexidade das relações, enfatizando a auto-consciência, a sincronização e o crescimento mútuo”, explicam.
Pode o teatro mudar uma relação?
A resposta é sim: a forma de teatro imersiva do Uzahvati pode mudar uma relação e a prova está no feedback que tem chegado aos responsáveis do projeto.
Há quem relate que a peça ajudou a recuperar de algumas fragilidades do casamento, a melhorar a conexão, a ter “1000% de certeza de que este é o meu parceiro de vida e que estamos ao mesmo nível em muitos aspectos”, e até já levou a um pedido de casamento.
“Em Portugal, não temos conhecimento do pedido de casamento, mas na Ucrânia, a atuação foi utilizada como pedido de casamento e personalizámos a faixa áudio da atuação para a tornar mais coerente com a história pessoal”.
Apesar de o foco do espetáculo Stereo serem os casais, nada impede os solteiros de viverem a experiência, sendo que, neste caso, refletirá as relações passadas, dizem as responsáveis do projeto na Ucrânia e Portugal.
Aceder à peça de teatro imersivo
Para imergir nos espetáculos Uzahvati basta aceder ao site e escolher uma data e hora para realizar a experiência. Esta realiza-se no Estadio 1.° de Maio, em Lisboa, tem a duração de 60 minutos e está disponível em três idiomas: ucraniano, inglês e português.
Os bilhetes custam €51 para duas pessoas.