Mas e o que conta a história que fez o público bater palmas, bater pés e implorar por veneração?
A maison Margiela trouxe a visão de John Galliano sobre a história parisiense à Semana de Alta-Costura. Uma história única que teria sido aplaudida por grandes escritores, poetas e pensadores do século XIX se assistissem a esta obra-prima. Porque mais do que um Paris burlesco, este espetáculo foi poesia sobre mulheres, mas não uma mulher qualquer. Uma mulher pensada de todas as formas e silhuetas, desde o que sente ao que pensa, com todas as nuances de um movimento que é só dela. É a mulher de Galliano, ou as mulheres de Galliano, que protagonizam a peça de teatro mais bonita que já vimos em Alta-Costura, tão bonita que não queremos que as cortinas se fechem.
Sabemos que a teatralidade é algo que vem nas propostas de Galliano, mas não é um espetáculo gratuito ou efémero como tantos outros que não trazem uma visão clara de nada, que apenas nos entretêm com o absurdo. Aqui é diferente. Tudo faz todo o sentido e é por isso tão fácil viajar a outros cenários, outros tempos, outras vidas. Quando o desfile começa, parece que ouvimos quase de imediato o Tango Roxane pela voz lasciva de José Feliciano em Moulin Rouge, e não é por acaso, estamos no sítio certo.
Ainda não falámos dos espartilhos, das transparências, das botas ou sequer das peças que até há pouco diríamos serem feitas de porcelana, quando, afinal, foram magistralmente trabalhadas em pele. Estamos habituados a detalhar o guarda-roupa porque já não víamos um espetáculo assim há demasiado tempo. Bravo!