Oprah Winfrey passou a vida a lutar contra o excesso de peso, sem grande sucesso. Por isso, quando perdeu quase 20 quilos, o mundo quis saber como o conseguiu. Após alguma especulação, a apresentadora admitiu ter vencido a batalha contra o excesso de peso com a ajuda de um aliado.
No documentário An Oprah Special: Shame, Blame and the Weight Loss Revolution, a apresentadora confessou ter perdido praticamente 20 quilos com a ajuda do Ozempic, o que fez com que as vendas do medicamento aumentassem para o dobro.
“O semaglutido (nome do princípio ativo do Ozempic) é um medicamento da classe dos agonistas do GLP-1 usado para tratar pessoas com diabetes tipo 2. Atua por múltiplos mecanismos promovendo uma redução do apetite, perda de peso e melhoria do controlo dos valores de glicemia”, revela João Sérgio Neves, endocrinologista e secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM).
O medicamento ficou popular pelo seu impacto na perda de peso. “O facto de ter permitido que muitas pessoas com diabetes que, durante muitos anos, tentaram perder peso sem sucesso conseguissem atingir resultados importantes de perda de peso tornou este medicamento particularmente popular”, destaca João Sérgio Neves.
Como ajuda na perda de peso?
“O Ozempic tem vários efeitos que contribuem para a perda de peso e controlo da diabetes, nomeadamente regulação da insulina e glucose (açúcar) no sangue. Promove ainda a perda de peso, retardando o esvaziamento do estômago e aumentando a sensação de saciedade”, revela Miguel Afonso, gastrenterologista e diretor clínico da Gastroclinic.
Segundo o especialista, “um estudo mostrou uma perda de peso de 15% do peso corporal ao longo de mais de um ano”, mas alerta que “esta perda de peso terá de ser acompanhada por uma dieta e acompanhamento nutricional”.
Quanto aos potenciais riscos para a saúde associado às rápidas perdas de peso, João Sérgio Neves assegura que o Ozempic "é um fármaco com um perfil de segurança favorável. Pode associar-se a náuseas e vómitos, sendo raros os efeitos adversos graves". Já o tratamento em doentes com alto risco cardiovascular "reduz o risco de doenças cardiovasculares graves, como o enfarte agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral”.
Não tenho diabetes. Posso comprar o medicamento?
A resposta é não. Apesar da elevada procura, em Portugal o medicamento “apenas pode ser adquirido com receita médica e está apenas disponível para pacientes com diabetes tipo 2, ou seja, a diabetes associada à obesidade”, explica Miguel Afonso, que chama ainda a atenção para o risco de habituação. “Verificamos que os pacientes que fazem esta medicação durante longos períodos (mais de três meses) sentem uma diminuição da sua eficácia no controlo do peso”.
João Sérgio Neves acrescenta que a terapêutica com Ozempic “deve ser sempre prescrita por um médico e necessita de uma avaliação prévia das indicações para a sua utilização, sendo que o seu uso deve ser sempre realizado com acompanhamento médico”.
Apesar de não se associar o uso de Ozempic a riscos em pessoas sem diabetes, “não está dentro das indicações para uso do medicamento”, sublinha João Sérgio Neves, que lembra que existe “outra formulação de semaglutido (Wegovy) que está já aprovada pela Agência Europeia do Medicamento para tratamento da obesidade, mas ainda não está disponível em Portugal”.
Ajuda a dormir melhor?
Quanto a esta dúvida, o endocrinologista lembra que o Ozempic, à semelhança de outros medicamentos que promovem perda de peso, "induz uma melhoria na apneia do sono por reverter parte dos efeitos adversos que a obesidade tem sobre esta patologia”.
Tendo em conta a forte relação entre obesidade e apneia do sono, “a perda de peso com semaglutido ou com outras intervenções permite reduzir o impacto adverso do tecido adiposo (gordura) cervical sobre a via aérea, melhorando assim a apneia do sono”.
Como conseguir uma perda de peso eficaz e consistente?
João Sérgio Neves lembra que “a obesidade é uma doença crónica, complexa, e recidivante, pelo que o seu tratamento deve ser sempre baseado na melhor evidência científica e deve incluir modificações comportamentais com um padrão alimentar saudável e uma atividade física regular”. Em muitos casos, o uso de fármacos aprovados para tratamento da obesidade “é uma opção terapêutica necessária” e nas situações de obesidade mais grave “pode estar indicada a realização de uma cirurgia bariátrica”.
Como doença crónica, “o acompanhamento por equipas multidisciplinares que englobam médicos endocrinologistas, nutricionistas, psicólogos, enfermeiros, outras especialidades médicas e, quando indicado, cirurgiões bariátricos, permite uma abordagem eficaz e consistente”, lembra o secretário-geral da SPEDM.
Para João Sérgio Neves, “a redução do estigma relativo à obesidade pela comunidade, pelos profissionais de saúde e pelas próprias pessoas que vivem com obesidade, deve ser uma prioridade para permitir que mais pessoas com obesidade possam procurar ajuda profissional para uma doença com um número crescente de intervenções eficazes que promovem benefícios claros para a saúde e bem-estar”.