A primeira ideia que me ocorre é: McQueen did it first! Impossível ver o desfile da Coperni e não fazer uma associação ao lendário desfile de Alexander McQueen na primavera/verão de 1999, quando a modelo Shalom Harlow o encerra com um vestido branco pintado naquele preciso momento por braços de robots que projetavam tinta em movimentos giratórios. Lendário e inesquecível.
Os tempos são outros, a tecnologia é outra, e a verdade é que a Coperni volta a criar um momento UOU na Semana de Moda de Paris, ao abrir o desfile com cães robots em palco, da empresa americana Boston Dynamics. Os "spot" percorreram o cenário ao mesmo tempo que as modelos, incluindo a filha de Kate Moss, Lila, caminhavam, vestindo o papel de criaturas vulneráveis, de carne e osso. Os robots até chegaram a interagir. Com um dos braços ajudaram a tirar um casaco dos ombros de uma modelo e com outro acabaram por pegar numa mala. Se havia dúvidas, com esta apresentação ficou clara a paixão da da Coperni pela tecnologia.
O curioso é que a inspiração para a apresentação da coleção outono/inverno 23’24 parte da fábula O Lobo e o Cordeiro, de Jean de la Fontaine. Agora, esta fábula moderna, segundo a marca, pretende mostrar “que não há nem um dominante nem um dominado, mas que a humanidade e a máquina podem viver em harmonia." E, nesta versão moderna, os manequins desempenharam o papel dos cordeiros, enquanto os lobos foram substituídos pelos cinco cães robots.
Apesar de todo o espetáculo (é disto que também vive uma Semana de Moda), há algumas vozes críticas que dizem que o conceito distrai a atenção da própria coleção, mas impossível a estética tecno chic de Coperni passar despercebida em Paris. Dos casacos em forma de cobertor; à mala swipe feita a partir de um meteorito que caiu no sul da França há 55.000 anos; as formas de origami em malas e sapatos que exploram o conceito de natureza e flores de uma forma tecno; as peças que são uma interpretação do conceito entre o danificado e adequado, como quem escapa da natureza; e há tecidos que expostos à luz refletem brilho, como que a transportar para um mundo de sonho; há botas de borracha para usar durante o dia e reimaginadas para o estilo de vida selvagem.
Com a Coperni, vemos a arte da alfaitaria, mas com materiais e linhas que a marca mistura e vivem entre o jovem, o clássico e o techno chic. Nesta coleção, Coperni não só reinterpreta a história, como a traz para o ano de 2023 com uma visão positiva do futuro.