Gonçalo Peixoto | Fotografia: Ugo Camera
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Quem é a espanhola Bad Gyal que Gonçalo Peixoto traz à ModaLisboa

No calendário desta Lisboa Fashion Week, Gonçalo Peixoto apresenta no domingo a coleção primavera/verão 2024 e revela-nos a tendência a marcar a estação .

Desde março de 2018, Gonçalo Peixoto passou a integrar o calendário oficial da ModaLisboa, e a apresentar sazonalmente as suas coleções. Antes do desfile no Pátio da Galé, nesta que é a 61ª Lisboa Fashion week, marcámos uma conVERSA com o criador nacional, para falar sobre o seu processo criativo, o que o inspira nesta coleção, desafiando-o, ainda, a relevar-nos em primeira mão o que podemos esperar (porque somos pessoas que não gostam de esperar), desta nova coleção.  

E tanto quanto sabemos, não. A cantora espanhola Bad Gyal não deverá estar a assistir ao desfile de Gonçalo Peixoto neste domingo, mas irá fazer-se ouvir na sala. Como nos revela o designer, o seu estilo e atitude inspiram esta nova coleção, e as suas músicas foram a banda sonora nos momentos de criação. Mas há outras inspirações a inspirar a coleção, mas também a forma apaixonada como fala, como cria, e como vive a moda.

Esta é uma conVERSA que começa no primeiro dia de trabalho de Gonçalo Peixoto para esta edição, e que termina no desfile que preparou para o último dia da ModaLisboa.

Quando e por onde começas a preparar uma nova edição da ModaLisboa?

Normalmente nós começamos a preparar as coisas logo a seguir à última edição da ModaLisboa. A primeira coisa que eu faço sempre, é começar pelos tecidos. Eu gosto que a inspiração venha dessa base. Gosto de perceber o que é que há de novo, o que é que eu quero trabalhar e explorar, que técnicas novas eu quero utilizar e criar. Este é o primeiro passo de tudo.

Depois, 3 ou 4 meses antes da edição, começamos a trabalhar nas peças, num processo feito passo a passo. Eu tenho esta filosofia de que eu não gosto de desenhar a coleção toda no início, porque acho que nós vamos bebendo inspiração todos os dias, daquilo que nós somos, através de um filme, de uma série, um livro, uma música, um álbum... Eu acho que tudo isto acaba por nos influenciar, enquanto seres criativos. Depois, sim, começo a desenhar as peças.

As semanas antes são caóticas porque há toda uma gestão de equipa, é preciso pensar no conceito, no que é que podemos transportar e levar para o desfile e o que vamos fazer sentir nesse sítio. Pensar nos cabelos, na maquilhagem, na banda sonora... Os convites, eu adoro fazer convites personalizados, o convite que o squad e as influenciadoras que me apoiam, vão receber... Os looks para as influenciadoras...

Tudo isto é pensado, então estes últimos dias, todos estes preparativos, para mim, são muito importantes, uma vez que fazem parte da mensagem que eu quero passar enquanto marca. É uma azafama, há realmente muita coisa para tratar num pré desfile, faço provas de tudo, faço styling, vejo o que pode ser acrescentado, os acessórios. Tudo isto é um processo, mas acho que ele faz parte. É o que dá brilho e o que torna isto interessante e diferente de todas as outras profissões.

E todo esse processo, termina no desfile. Como será este?

Eu acho que este é um desfile que mais uma vez continua a ser um espelho daquilo que eu estou a viver e sentir. Eu tento que as coleções sejam muito pessoais e, cada vez mais, existe esta personalização do “eu”, do Gonçalo Peixoto, enquanto criador e enquanto pessoa, por isso, isto é uma coleção muito Gonçalo Peixoto. Uma coleção com muitas flores, muitas transparências, muitas aplicações, muito brilho. É isso que realmente é o criador Gonçalo, é isso que eu efetivamente gosto, aquilo que realmente me descreve, enquanto criador. É uma coleção de verão, com super transparências. Esta é a minha coleção preferida de trabalhar e desenhar, eu gosto muito do verão. Há várias surpresas, na verdade, mas isto é aquilo que eu posso, para já, revelar.

Que tendência marca a nova coleção e que exercício fizeste durante o processo criativo?

Eu acho que a maior tendência na minha coleção para esta edição são, sem dúvida, as flores. Eu já tinha trabalhado imenso as flores no verão passado, mas desta vez de uma maneira diferente, um pouco mais especial, vocês vão perceber, não em macrotendência, mas mais em micro tendência, em aplicações, em transformações, em dar vida a uma personalização.

Eu queria muito que esta coleção fosse muito manual, em tudo. Queria perceber quase aqui uma dualidade entre o que poderia ser Inteligência Artificial e o que é feito à mão, sabes? O que isso poderá trazer. Então, é uma coleção que, na minha linguagem, vai resgatar muito o trabalho manual, aquilo que podemos fazer à mão, vestidos completamente cravados, a lantejoula uma a uma... Ou seja, é esta parte muito manual e presente que eu quero resgatar e quero que não seja esquecida, enquanto criador.

E por onde andou a tua inspiração?

É muito engraçado, a inspiração vem de uma cantora espanhola que se chama Bad Gyal e que eu vi, há muitos anos, num concerto no Primavera Sound, no Porto e achei que ela, visualmente, era muito especial, era muito aquilo que eu gosto. No princípio do verão, ela usou um look Gonçalo Peixoto e foi muito importante para mim, porque era uma pessoa que eu gostava muito e queria muito ver a usar Gonçalo Peixoto. E agora, quando comecei esta coleção, isto tinha sido um momento recente na minha vida e então eu usei um pouco isso.

Estive muito tempo a ouvir Bad Gyal, a explorar o que é que ela fazia e o seu estilo de roupa. Perceber que ela também foi cara de algumas marcas internacionais de moda, fez-me perceber que estou no bom caminho. Se as outras pessoas estão a fazer, eu acho que é uma coisa gira, porque estamos todos com uma opinião parecida... isto falando um pouco daquilo que tínhamos falado na pergunta anterior, do que são estas macrotendências, o que é que as outras marcas estão a fazer...

Na música eu sou muito eclético, gosto mesmo de ouvir um bocadinho de tudo. Eu ouço desde Céline Dion a techno. E por isso, este meu baloiçar entre todos os estilos e géneros de música, faz-me ser isto e faz com que a coleção e as suas peças sejam muito diferentes entre si. Por exemplo, há um fato super clássico, mas depois há uma mini saia toda de renda e depois há uma camisa super chique... Eu gosto mesmo deste baloiço, deste rodopiar entre géneros, porque também faz com que, eu, Gonçalo, tenha uma panóplia maior, enquanto Criador e seja mais aberto nisto que é criar e fazer roupa para as pessoas.

E fiz várias viagens este ano. Comecei o ano no Brasil e depois fui duas vezes a Ibiza em que a vibe é super Gonçalo Peixoto. Eu passei grande parte do verão lá e foi aí onde eu realmente percebi, efetivamente, o que eu queria fazer com a coleção e qual era a vibe que eu queria para esta coleção.

Por isso, eu acho que todo este assimilar de músicas, de sons, de ambientes, de pessoas, de estilos, de caras... toda esta minha absorção (porque eu sou uma pessoa extremamente atenta) faz-me levar ao caminho final desta coleção e do que ela vai representar enquanto marca e enquanto criador. Eu fiz uma viagem à costa francesa e aí o estilo é completamente diferente de Ibiza, mas isto para dizer que amei os dois e que acho que os dois se parecem com o Gonçalo Peixoto. Por isso, esta coleção é isto, é juntar vários estilos, formas, modos de viver, modos de ver a vida, é uma junção.

Já estás nesta indústria há uns anos, como sentes o momento atual da Moda Nacional?

Estou completamente otimista. Acho que a moda portuguesa está numa ascensão tremenda. Eu acho que usar o que é português é muito bom e cada vez mais cool, em Portugal. Eu acho que esta filosofia em Portugal está cada vez mais presente, nós vemos cada vez mais pessoas a comprar o que é português e sabemos, na verdade, que ao comprarmos aquilo que é português, estamos a comprar aquilo que é bom, que tem qualidade. Estamos a ajudar o nosso país, estamos a ajudar designers portugueses com projetos novos que dão tudo pelos seus próprios projetos, que se esforçam, por isso, eu acho que o futuro é super otimista, mesmo.

É uma indústria que está com muitos desafios, mas que está num crescimento surreal. A nossa mão de obra, em Portugal, é realmente muito boa, muito qualificada, por isso eu vejo isto como um ano ou os próximos anos que aí vêm, como um futuro muito brilhante e muito risonho para o que é a moda em Portugal e o que é a moda em Portugal para fora. Por isso, é continuar a trabalhar e a mostrar que somos bons, dedicados e trabalhadores e isso vai compensar.

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