Diz-nos que o vintage é uma tendência contemporânea e que as mudanças sociais têm impacto nas tendências de moda, ao usarmos, por exemplo, a roupa para expressar o apoio a determinada causa.
Alberto Caselli Manzini é coordenador do mestrado em Fashion Trend Forecasting no IED - Istituto Europeo di Design, em Florença, ou seja, um especialista na análise de tendências e futuro, na indústria da moda.
A convite da ModaLisboa, trouxe novas visões, a experiência e o know-how desta rede internacional de escolas de design, para ajudar a amplificar as vozes e o talento criativo de uma nova geração de designers e profissionais de moda, em Portugal.
E se encontramos um futurista no nosso caminho, paramos, naturalmente, para uma conVERSA.
Traz para reflexão à ModaLisboa a ideia “Vintage, uma tendência contemporânea”. O que estamos a viver e o que nos quer dizer?
Vintage é uma tendência cultural que se refere ao interesse e apreço por objetos, roupas e estilos de uma época passada. Esta tendência cultural ganhou popularidade nas últimas décadas e tornou-se uma parte significativa da moda, do design e da cultura em geral. Cada vez mais pessoas recorrem ao estilo vintage ou retro para evocar memórias e sentimentos de nostalgia, relacionados com uma época passada. E isso, pode criar uma ligação emocional com objetos vintage ou de inspiração vintage.
Recuperar o passado reflete um desejo de ligação com o próprio passado e uma valorização da história e da tradição. Além disso, vestir ou decorar um espaço com peças de estilo vintage, permite que as pessoas expressem a sua individualidade e o seu estilo pessoal de uma maneira única.
O vintage envolve a redescoberta de tendências ligadas à moda, design, estilos musicais, filmes e artes do passado, tradições gastronómicas, e por aí fora. O que pode levar a uma interessante fusão de influências culturais. É criar inspiração. É frequente vermos designers, artistas e criativos, a inspirarem-se neste estilo para criar obras de arte contemporâneas. Esta fusão de elementos passados e presentes pode levar a resultados únicos.
O vintage como tendência cultural tem influenciado todas as indústrias da sociedade em que vivemos, traduzindo-o primeiro em mercado e depois em produto. A indústria da moda foi profundamente influenciada pelo vintage e o resultado pode ser visto nos desfiles e nas tendências ou estilo, com muitos designers a inspirarem-se no passado para criar novas coleções.
Em resumo, tornou-se muito mais do que apenas uma tendência de moda; tornou-se um modo de vida, uma oportunidade para nos ligarmos ao passado, para expressarmos a nossa criatividade e personalidade, mas também para permitir que as nossas raízes se desenvolvam no futuro.
Fala-se na dinâmica das tendências no cenário da moda atual. Há um novo ritmo a mudar esta indústria?
No cenário da moda atual, a dinâmica das tendências é influenciada por diferentes fatores e tendências sociais e culturais. Entre elas, a velocidade nos ciclos de moda implica uma maior rotação de tendências e uma pressão constante sobre o consumidor.
Além disso, há um interesse crescente na sustentabilidade e na inclusão, com uma maior representatividade de género, etnia e construção de diversidade. A influência digital é cada vez mais significativa, com a capacidade de fazer com que certas peças de vestuário se tornem virais em poucas horas.
O estilo retro ou vintage, de que já falei, continua a ser uma tendência relevante. A tecnologia desempenha um papel cada vez mais importante, assim como a personalização. Não menos importante, as mudanças sociais têm um impacto nas tendências da moda, com as pessoas a procurarem formas de expressar o apoio a causas importantes através da roupa.
Para um trend forecaster, quais são os grandes desafios e o que é mais entusiasmante no seu trabalho atualmente?
Identificar, através das competências e conhecimentos adquiridos, mudanças novas e emergentes na cultura à medida que ocorrem e, subsequentemente, mapear e projetar essas mudanças de modo a torná-las visíveis e transparentes para o público menos atento.
Falando sobre o futuro, que tendências podemos esperar na Moda?
As tendências acima descritas são de longo prazo, que emergem e se desenvolvem em relação ao contexto atual. Vão evoluir no futuro com diferentes aspetos e nuances. Por exemplo, se tivermos em conta uma tendência de um produto de moda, vários estudos indicam que a duração média de uma tendência, varia de dois a três anos aproximadamente.
E a indústria da moda portuguesa, vê-a florescer, com novas visões, oportunidades de crescimento e de maior notoriedade nos mercados internacionais?
A indústria têxtil e do vestuário é, sem dúvida, um dos pilares da economia portuguesa, representando pelo menos 15% do total das exportações e posicionando-se como um dos principais exportadores da Europa. O calçado português, vendido em mais de 140 países e com mais de setenta milhões de pares de sapatos exportados todos os anos, contribui significativamente para este número.
A indústria da moda portuguesa está, cada vez mais, a atrair a atenção internacional com inúmeros designers e marcas emergentes no país a ganharem visibilidade global, através da participação em eventos e prémios internacionais de moda.
É evidente que esta indústria beneficia da colaboração com as melhores escolas de moda e de design nacionais e internacionais, bem como com a iniciativa de projetos consolidados como a ModaLisboa, que, através de plataformas como o Sangue Novo, ajuda na formação e apoia uma nova geração de criativos e profissionais, capazes de desenvolver e valorizar o património industrial, cultural e criativo do país, garantindo um futuro próspero à indústria da moda portuguesa. E a parceria entre o IED e a ModaLisboa, enquadra-se exatamente neste contexto e olha nesse sentido.