Digo muitas vezes, em conversas mais ou menos informais, que vivemos tempos incríveis. O artigo de hoje reforça precisamente essa ideia. Numa altura em que a moda digital se afirma como um negócio em crescimento com coleções criadas especificamente para os nossos avatares e as marcas, principalmente as de moda de luxo, já desenvolvem estratégias para o metaverso e NFT’s, vemos ao mesmo tempo nas ruas e nos desfiles tendências nostálgicas que conquistam, curiosamente, a mesma geração de consumidores. A verdade é que a geração Z, num momento, está a vestir o seu avatar e a entrar num evento no metaverso, como, a seguir IRL, sai à rua com a tendência deste outono/inverno: o "Indie Sleaze".
E o "Indie Sleaze", ou indie descontraído, é um termo criado pela influenciadora no TikTok Mandy Lee @OldLoserInBrooklyn. Junta um certo ar grunge, rock’n’roll, hipster, e tudo o que foi moda nos anos de 2000 até 2010. Como grandes embaixadoras do estilo, ou, se quisermos, influenciadoras desta tendência que agora regressa, temos nomes como as irmãs Olsen, Chloë Sevigny ou Kate Moss. Mas ainda que se toquem e se possam quase confundir, não falamos da estética "Y2K" que tem como grandes exemplos Britney Spears e Christina Aguilera, mas as indie também estão no grupo das barrigas tonificadas e à mostra, lingerie à vista, saias versão mini …A diferença é que, arrisco dizer, uma "Indie Sleaze" é mais cool do que uma "Y2K".
Enquanto imagem, as "Indie Sleaze" fazem parte das que não eram as mais populares da turma, estavam sempre um pouco à margem, ouviam bandas como The Libertines (lideradas por Peter Doherty, ex-namorado de Kate Moss) e vestiam-se como Alexa Chung. Como verdadeiras grupies das bandas de música britânicas, não perdiam o Glastonbury, onde usavam meias até ao joelho com botas Hunter, tinham no grupo de amigos músicos e outros artistas e prolongavam as noites até de madrugada nos clubes. Entre as peças vintage que vestiam, não faltavam camisas de xadrez, vestidos com estampado animal e floral, ou a t-shirt de uma banda, calças skinny, casacos de pele, botas ou bailarinas, óculos de sol oversize e um cabelo pouco arranjado. Sienna Miller e Lilly Allen também fazem parte deste grupo, que tinha passagem obrigatória pelos festivais de música eletrónica em Goa. Neste regresso da estética mais indie, há uma versão mais exagerada - ou talvez menos autêntica - e criada para se publicar nas redes sociais, a moda recupera-se, mas não o espírito genuíno dessa época.
Das ruas para as grandes marcas, temos na coleção para este outono/inverno da Blumarine uma boa dose de inspiração desta estética mais indie (uma coleção mais “dark” ou até melancólica do que estávamos habituados a ver na Casa). Mas já Hedi Slimane, na Saint Laurent, tinha nos mostrado como criar um verdadeiro guarda-roupa com códigos "Indie Sleaze" como na coleção outono/inverno 2015.