Importa começar pela história. Porque é de história e de memórias que se faz o Village by Boa. Não só, mas lá chegarei. Desta vez, troco o tradicional hotel por uma “ilha” no Porto. Estou no antigo “Bairro do Silva”, bem no coração da cidade e que surgiu no final do século XIX. É um dos muitos bairros conhecidos como as “ilhas” do Porto, uma típica habitação operária muito diferente da de outras cidades industriais. Agrupadas em forma de bairro e fixadas no miolo dos quarteirões urbanos, as “ilhas” caracterizam-se pelo acesso estreito às casas distribuídas em corredores e com pouco espaço.
Foi a partir desta memória que o Grupo Boa Hotels construiu este projeto, preservando o corpo e a alma do lugar, mas acrescentando-lhe conforto, design e até tecnologia. São, ao todo, 40 habitações, distribuídas por dois edifícios (onde no exterior se percebe a antiga arquitetura da “ilha”), há duas lojas e até um ginásio e um espaço para eventos com vista para os Clérigos. Acreditem, quem passa na Rua do Bonjardim não imagina o que se encontra dentro do Village.
É na verdade uma espécie de casa, fora de casa, literalmente. A entrada faz-se por código (a tecnologia também é usada para o check-in e check-out sem termos de falar com alguém ou esperar numa fila), toda a habitação está equipada para uma estadia que pode ir até vários dias – há televisão, fogão, microondas, torradeira… you name it. Há conforto, design e detalhes, como o premiado livro de culinária do New York Times ou os amenities biológicos da marca Meraki que, para mim repeti várias vezes, cheiram a Tailândia. O pequeno-almoço chega à hora marcada, embrulhado num cesto de verga maravilhoso, com pão quente e croissant integral, sumo de laranja natural e iogurte com granola.
Mas é a arquitetura do lugar que nos prende. O gabinete de arquitetura Pablo Pita, em parceria com o estúdio Heim Balp Architekten, foi o responsável pela reabilitação do edificado, que se encontrava já desabitado aquando da chegada do projeto Village by BOA. O estúdio respeitou o bairro e manteve toda a volumetria existente que se traduziu na preocupação em comprometer o programa ao edifício e não o edifício ao programa. O Village by BOA é, por isso, um lugar de memórias, mas é também um lugar que celebra a vivência tranquila dos dias, com tempo e com espaço. Um luxo nos dias de hoje.
Com o Bacana Studio na execução dos interiores, o grupo BOA Hotels desenhou um conceito que é uma resposta à procura cada vez maior de apartamentos como alojamento turístico. A totalidade do mobiliário foi desenhado e feito à medida em Portugal e a inspiração viaja até à Escandinávia e ao Japão, num estilo de linhas simples, que privilegia a qualidade e as tonalidades suaves. No pátio exterior, que interliga os edifícios, encontramos uma seleção de vasos com mais de 300 anos, vindos de Mafra, e uma escultura com 3 metros de altura, em forma de árvore, assinada pelo artista Zadok Ben-David. Todos os elementos confirmam a valorização de diferentes expressões criativas.
De uma antiga “ilha” nasce, assim, um verdadeiro oásis no coração do Porto.