Já era a indústria mais sexy da Europa, agora o calçado português olha para o mercado de luxo como o next step na estratégia de afirmação dos sapatos portugueses no mundo. Uma nova visão que sai do estudo da EY Parthenon para a APICCAPS (Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos) e que identifica oportunidades no luxo desde que com preços mais competitivos do que os sapatos italianos, país que lidera o segmento.
E quando se caminha para o luxo… calça-se, naturalmente, Luís Onofre. A marca que se (con)funde com o seu criador e que alia qualidade, as melhores matérias primas e a arte com que os mestres sapateiros dão alma às criações com a assinatura do designer nacional. Desde o início dos anos 90, Luís Onofre e já sinónimo de luxo, torna-se uma marca internacional e os seus sapatos acompanham algumas das mulheres mais famosas do mundo, de Michelle Obama à Rainha Letizia de Espanha.
Nesta conVERSA, o designer português fala-nos do sapato que nunca criou e do próximo que irá criar.
O sapato de uma mulher é muito mais do que um acessório, há emoção, há poesia, concorda?
O belo é sempre inebriante, é sempre emoção. Quando desenho um sapato e o vejo-o ganhar vida, projeto-lhe as minhas emoções. Nunca desenho um sapato que ache feio. Não conseguiria vê-lo ganhar forma. Estou sempre a considerar a importância da forma e função, mas nunca comprometo a sua beleza. A indústria da moda sempre criou e trabalhou o belo na sua infinita subjetividade. Tudo o que vestimos e calçamos faz parte da nossa identidade e por isso também da nossa emoção. Todos os objetos belos são poesia, sobretudo os mais simples.
Há um número ideal de sapatos no closet de uma mulher?
Não existem quantidades certas. Cada mulher terá a sua rotina e com ela necessidades muito específicas. Acho que é algo muito pessoal. Para mim, o importante é que tenham todos os sapatos que necessitam para enfrentarem todos os desafios da sua vida, com a confiança e vaidade necessárias. Mas os gurus da moda definem algumas regras, ligadas a referências intemporais de moda: as eternas sandálias simples de 2 tiras e salto alto, uns stilettos poderosos e uns ténis com a versatilidade todo o terreno.
Que mulher sonha “calçar” que ainda não tenha como cliente?
Penso sempre em calçar mulheres fortes e independentes. Mulheres que tenham novas formas de ver o mundo. E tento trazer esses valores para os meus sapatos. Cruzar o melhor da tradição com a modernidade, para chegar a uma elegância mais intemporal. Não quero destacar nomes porque sinto sempre uma enorme emoção quando vejo na rua uma mulher calçada com um sapato meu.
Um sapato de salto alto ou baixo, qual é o mais desejado pela mulher atual?
A pandemia trouxe-nos a hegemonia do conforto e com ela esse reforço dos códigos mais leisure que cruzavam os ambientes de interior e exterior. Há uma maior tendência para formatos mais baixos e ultra flat. Reconheço que são mais confortáveis e versáteis. Acompanham melhor os muitos momentos dos dias.
O que trabalha atualmente em termos de tendências?
Com a velocidade a que as tendências e influências se cruzam e atualizam, devido à enorme quantidade de canais atuais que falam e definem moda, é difícil eleger tendências hegemónicas que se concretizem na rua de forma muito única e permanente. Teremos sempre sapatilhas (mais ou menos retro), dedos à mostra, o conforto flat das Mary Jane e o lado mais coquette dos saltos kitten.
Onde tem procurado inovar enquanto marca/criador?
A inovação de uma marca tem de ser constante e transversal, sobretudo se nos queremos posicionar num mercado global. Procuro manter-me integro para com a minha identidade e criatividade, não desenho produtos em que não acredite e que não façam parte do meu ADN criativo. Tento privilegiar sempre o produto, a sua qualidade e origem, cruzando tradição artesanal com inovação técnica. No que toca à sustentabilidade, voltei-me muito para os meus próprios arquivos de materiais e para todo o processo produtivo, reutilizando e maximizando eficácia. Preocupo-me muito com o mundo que vou deixar aos meus filhos e netos...
O que pode relevar sobre a próxima coleção?
A próxima coleção é um regresso à preponderância dos materiais, foram eles que conduziram o caminho do próximo inverno. Os materiais desempenham sempre um papel preponderante nas coleções de inverno. Funcionam como escudo...