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Quando se trata a moda por arte, trata-se a política por tu

E quando isso acontece no tempo certo, torna-se urgente discutir moda.

A moda não é só roupa bonita, é também roupa bonita. Há criações que nos desafiam a pensar e criatividades que deixam discussões em aberto ou dão oportunidade a conversas urgentes. Mensagens que nos chegam quando tratamos a moda por arte e que muitas vezes são políticas, quase sempre idealistas e outras vezes inoportunas. O que se segue é um escrutínio social que chega em boa hora e uma mensagem política que fica difícil de ignorar.

Um debate social: o homem poderoso que não tem de ser levado a sério

Quando o designer Lennart Krause decidiu levar um tubarão a desfile na passada Semana da Moda de Berlim, muitos criticaram o absurdo trazido a palco. "Fever Dreams of an Orphan Boy" é o nome desta coleção que pretende fazer uma paródia às classes sociais, reinterpretando o clássico fato de negócios num design infantil para nos fazer pensar em hierarquias.

 

Em tempos que se fala de grandes figuras da sociedade a aproveitarem-se do seu poder e influência, talvez seja interessante respeitar o homem de fato com alguma distância. E esse é o desafio que Lennart nos propõe: questionar a seriedade das posições de poder, em jeito de sátira.

 

Um debate político: a mulher que leva o design palestino mais longe

Com menos humor, olhamos agora para o trabalho de Yasmeen Mjalli, fundadora e diretora criativa da Collective Nöl, que numa recente entrevista ao The Guardian, nos desafia a pensar sobre outras questões, mais estruturantes e claramente políticas.

 

Faz questão de conhecer todos aqueles com quem trabalha, dos alfaiates aos produtores, uma abordagem rara nesta indústria, mas fundamental para se falar em condições de trabalho. Ainda assim, Mjalli nunca conseguiu conhecer as mulheres que trabalham com o tecido usado nas suas criações. Uma vez que vivem em Gaza, as artesãos apenas comunicam com a designer via WhatsApp, já que nesta conhecida “prisão de céu aberto” as leis israelitas raramente permitem que os moradores de lá saiam e muito menos que palestinos da Cisjordânia lá entrem.

Mas é com mais ou menos proximidade que Mjalli consegue trazer luz ao trabalho de mulheres que quase viram a sua arte desaparecer, já que este tecido único, de nome Majdalawi, é trabalhado num tear de pedal originário da aldeia palestina al-Majdal Asqalan, uma prática secular que só sobrevive pela existência de um projeto de preservação cultural montado em Gaza nos anos 90. Como se isso não bastasse, Mjalli alia a sustentabilidade ao design tradicional palestino, que nem por isso deixa de ser moderno e atual.

Yasmeen vai mais longe na sua mensagem e também escolhe usar tintas naturais indígenas nas suas criações e desenhos tradicionais como o tatreez, uma arte de bordado palestino já reconhecida pela Unesco, que as mulheres palestinas usaram como símbolo político de resistência na guerra israelita em 1948 e como sinal de protesto em 1980, quando a sua bandeira foi proibida. Nesta sequência de ideias, talvez também possamos falar de empoderamento feminino. Mas não precisamos de nos alongar muito mais, porque é nas palavras de Mjalli que está a maior das mensagens.

Acima de tudo, a designer quer “fazer com que os clientes pensem na moda como um quadro interseccional, para que percebam que há mais do que um elemento nesta questão”, ou não fosse a moda “intrinsecamente política”.

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