Foi em 2012 que, pela primeira vez, a atriz nos entrou casa adentro através da série juvenil Morangos com Açúcar. Esta interpretação foi a rampa de lançamento para uma carreira artística que lhe trouxe papéis nas principais produções televisivas dos principais canais generalistas portugueses. Hoje, uma década depois, a carreira de Filipa Areosa é uma das mais constantes do panorama nacional.
É sensível e instintiva, é sonhadora e ao mesmo tempo não tira os pés da terra. Filipa Areosa é uma daquelas pessoas que nos apetece mesmo conhecer, mas talvez seja pela sua personalidade reservada que a nossa curiosidade seja tanta.
Começo pelo teu mais recente projeto cinematográfico “Salgueiro Maia – O Implicado”. Como foi interpretar a Natércia?
Foi ótimo, acho que é sempre um desafio interpretar alguém que ainda está vivo. Esta história merece ser retratada da melhor forma possível. Acho que em equipa fizemos um excelente trabalho para manter e relembrar a todas as gerações o impacto que um homem pode ter na nossa sociedade. Tentei tornar a Natália mais acessível. Ela é uma mulher muito forte, mas também recatada. Está na sua e só fala quando tem alguma coisa importante para dizer. E quando o diz fala com muita veemência que por vezes é interpretado como feitiozinho e o Sérgio Graciano diz que nós temos isso em comum.
Tiveste oportunidade de trocar ideias com a própria Natércia para construir esta personagem? Se sim, que te disse?
Conheci, sim! Fomos a casa deles em Santarém e conseguimos ver fotografias, a gigante coleção de discos e até o cadeirão onde o Salgueiro se costumava sentar. Ela contou-me pormenores, eu fiz algumas perguntas e ela ia respondendo com muita saudade e envergonhada. Como se tudo ainda estivesse muito presente.
Há um lado muito pedagógico neste filme – quais os ensinamentos a retirar desta produção?
Primeiro que os maiores heróis são de carne e osso, que a sociedade tem memória curta e que devemos lutar todos os dias para preservar a nossa liberdade e a dos outros. Mesmo quando há discórdia tem que haver respeito e empatia. E que se quisermos lutar temos de começar por algum lado mesmo que estejamos sozinhos.
"A liberdade começa de dentro"
Ainda sobre a temática do filme, o que representa a liberdade para ti?
A liberdade começa de dentro. É poder existir sem julgamentos. E perceber que o conceito de liberdade é diferente em muitos sítios. E temos de aprender a respeitar as liberdades dos outros.
Onde e quando é que te sentes mais livre?
Na natureza, adoro estar sozinha, ir passear e só estar. E cada vez é mais um “privilégio” poder fazer isso com regularidade. Mas também algo que temos de criar porque ninguém o vai fazer por nós.
Por vezes o ritmo de trabalho de uma atriz é alucinante, o que é fazes para manter um equilíbrio saudável?
Vai variando. Neste momento para me manter saudável tenho de fazer o exercício de desvalorização. Não dar tanta importância a coisas que não posso mudar. É saber largar o que não me faz bem. Tento viver o presente, que é uma luta diária. Descansar e não perder tempo com coisas insignificantes.
"O tempo para estar a aproveitar a natureza tem sido fundamental e o crescimento pessoal emocional e espiritual"
Disseste numa entrevista que “não abdicas de nada pela tua profissão” – Como por exemplo? O que levou a esse estado de espírito?
Não abdico da minha vida pessoal para o profissional. Claro que a minha saúde mental é o que quero preservar e muitas vezes o trabalho pode levar as pessoas a agirem como máquinas. Não tenho interesse em ser robô e executar ordens. E cada vez mais isso acontece porque não há tempo.
O que mais valorizas na vida?
Cada fase que vivemos as prioridades mudam, não sei se daqui a um ano a minha resposta vai ser a mesma, mas acho que o tempo para estar a aproveitar a natureza tem sido fundamental e o crescimento pessoal emocional e espiritual também.
Quais são os prazeres que te deixem feliz no teu dia a dia?
Chegar a casa e ser recebida com um xixi da minha cadela. Cozinhar para ela e para mim e aproveitar a minha casa e o meu jardim.
Conhecemos a Filipa Areosa da televisão e do cinema, mas quem é a Filipa Areosa longe das câmaras?
Sinceramente, acho que sou muito transparente, não tenho jeitinho nenhum para criar uma persona no dia a dia. Mas acho que sou mais recatada do que se calhar as pessoas pensam. Não gosto muito de confusões e gosto de estar com os meus amigos e família. É difícil fazer estas análises, se calhar para alguns não sou tão comunicativa quanto seria de esperar, mas sinto que sou sempre eu.
Qual é a pergunta que gostavas que te fizessem? E, hoje, qual seria a resposta?
Tenho várias, mas gostava que me perguntassem: "Estás disponível para um filme do Hirokazu Koreeda?"
Ficha técnica:
Video: Marta Fernandes
Fotografia: Eu.Bicho - Marta Oliveira
Styling: Diana Conceição
Produção: Mais.Que.Uma