Nos últimos dias, Hollywood parou e isto não é um eufemismo. Para quem ainda não sabe, atores e argumentistas, entre outras pessoas com lugar no universo do entretenimento, juntaram-se contra os estúdios de cinema que pretendem recorrer à Inteligência Artificial para criar réplicas de atores e, claro, usá-las em futuros filmes e produções. Dito isto, não é preciso chegarmos aos detalhes deste motim hollywoodesco para todos dizerem o mesmo: “Eu avisei! Eles vão roubar-nos o trabalho”. Um grito de revolta previsível, até porque ninguém desmente esta “ameaça”, a própria Inteligência Artificial reconhece isso.
Mas, atenção, não culpem a IA pelas réplicas que podem tirar trabalho aos nossos queridos atores e muito menos digam. A Ela não podemos atribuir tamanha responsabildade, já que na verdade somos nós os culpados de infelizes situações como esta. Mas é sempre mais difícil reconhecer-nos no lado do problema. Se usássemos esta evolução tecnológica a favor de todos, trabalhado lado a lado e não num frente-a-frente, talvez ficássemos a ganhar. George Clooney é um dos que joga mais à defensiva e talvez não concorde com esta visão, mas também não precisamos de concordar com o sex symbol só porque tem algum talento e uma carinha bonita.
"Este é um ponto de inflexão no nosso sector. Os atores e argumentistas, em grande número, perderam a capacidade de ganhar a vida. Para que a nossa indústria sobreviva, isso tem de mudar. Para os atores, essa jornada começa agora"
[disse George Clooney, o herói desta greve]
Mas ainda que possamos discordar relativamente ao risco da indústria cinematográfica desaparecer por causa da IA, o ponto fundamental, defendido por George Clooney e outras grandes estrelas, como Matt Damon ou Susan Sarandon, é o papel do ator para sempre insubstítuivel. Uma luta importante que não se coloca à venda nem por mil milhões de dólares, preço do “suborno” pré-greve. Parece que, como nota agora a Reuters, os principais estúdios de cinema e de televisão ofereceram aos atores de Hollywod mais de mil milhões de dólares em compensações e benefícios acrescidos ainda antes de o sindicato SAG-AFTRA ter convocado a greve que, como já se sabe, não levou a nenhum acordo.
Os vilões desta história, nomeadamente a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), que negocia em nome da Netflix Inc (NFLX.O), Walt Disney Co (DIS.N), Warner Bros Discovery (WBD.O) e outros, defenderam-se, dizendo que o SAG-AFTRA "continua a descaraterizar as negociações", ainda segundo a Reuters.
"O acordo que o SAG-AFTRA abandonou a 12 de julho vale mais de mil milhões de dólares em aumentos salariais, contribuições para pensões e saúde e aumentos residuais e inclui proteções inéditas ao longo do seu período de três anos, incluindo expressamente no que diz respeito à IA"
[disse AMPTP, o anti-herói disto tudo]
Ainda haverá muito para escrever sobre este assunto, mas estamos a falar de Hollywood, por isso o poder certamente permanecerá do lado dos Clooney’s, os Batmans desta luta que vão salvar o entretenimento, mas não sem antes descredibilizar um pouco mais as vantagens da IA... Tavez meios que justificam o fim.