A visita de empresários portugueses a marcas de excelência em Berlim
Coolhunting

O LUXO anda envergonhado e o ANALÓGICO perdeu a vergonha

Definir o indefinido. O luxo que afinal é excelência, na era digital onde começo a somar os “analógicos” de dois dias de conVERSAs em Berlim.

“Todos nos sentimos uma start-up no mundo atual”. A expressão que ouço em Berlim, leva-me a pensar nesse “todos” que podem ser muitos: a capital alemã, as pessoas, as empresas, eu…o luxo que não se revê no termo luxo, os dias analógicos na era digital. Nesta espécie de começar de novo ou de fazer o mesmo de forma diferente - esse lugar onde aparentemente nos sentimos, há uma versão de Berlim que nunca tinha sentido. E seria mais fácil se a pudesse simplesmente apresentar como uma das capitais do luxo mundial, mas quando o próprio luxo já não se identifica como luxo, refaço a ideia e Berlim é então o berço de produtos e marcas que representam a excelência e posicionam nos mercados internacionais o Made in Germany.

Há todo um outro imagético de Berlim que se sobrepõe. O da cidade feita de mudança(s), exímia na arte da reinvenção constante, nessa vibração que a torna vibrante, e que muitos atribuem à sua história complexa. À porta do China Club - um mundo de indulgência onde os membros vivem uma experiência gastronómica de excelência entre uma impressionante coleção de arte e um ambiente que nos leva para as metrópoles chinesas dos anos vinte, Clemens Pflanz, fundador da Meisterkreis (nosso anfitrião) recorda emocionado o discurso de Ronald Reagan precisamente aqui em 1987, desafiando o líder da União Soviética Mikhail Gorbachev: “Tear down this wall!”. É que a porta do China Club – esta nova Berlim, é junto às Portas de Brandemburgo – essa antiga Berlim. Se há viagens que nos dividem e exigem tempo para encontrar territórios mais definidos, esta é uma delas. Ajuda se pensarmos no conceito “startup”

Foi à capital da Alemanhã que a Laurel, Associação Portuguesa de Marcas de Excelência, trouxe uma comitiva de empresários portugueses para conhecer marcas alemãs também sinónimo de cultura de excelência. Da centenária manufatura de porcelanas Königliche Porzellan, à experiência de som da contemporânea Burmester, ao Laboratório da Technical University onde se pensa como as novas tecnologias e as mudanças sociais podem influenciar formas existentes de produção de conhecimento e modelos de pensamento. Todos membros da Meisterkreis, a embaixadora internacional da excelência alemã, empresa que representa uma indústria com um valor acrescentado de mais de 190 mil milhões de euros.

“Se juntarmos empresas e pessoas ligadas por desafios e objetivos comuns, se nos conhecermos, partilharmos experiências, boas práticas, criam-se novas ideias, possibilidades criativas e, quem sabe, a partir daqui se geram também negócios” diz-me Clemens Pflanz, presidente da Meisterkreis. Há vontades e oportunidades. Com o país num contexto de “Zeitenwende”, os novos tempos anunciados pelo Chanceler Olaf Scholz estão a consolidar a relação económica entre Portugal e a Alemanha, com o coeficiente de bens e serviços a registar recordes, exportamos 12,9 mil milhões de euros e importamos 13,7 mil milhões de euros. E temos excelência também para mostrar e vender ao mundo. O tema antigo contínua atual - é preciso investir na Marca, construir marcas portuguesas fortes, porque produtos esses temos e de luxo. 

O luxo é sempre uma interpretação. E o luxo está relutante (eu digo envergonhado) em interpretar-se como luxo, prefere ser chamado de excelência. E sinto que é quase um luxo falar de luxo no mercado que é o líder mundial de descontos. “Na Alemanha ainda somos relutantes com a palavra luxo, como calvinistas gastamos muito dinheiro é verdade, mas apenas em automóveis, em cozinhas e em viagens, não é um consumo de ostentação. Mas é curioso ver supermercados como o Lidl com gamas deluxe, aqui tudo é deluxe, o que nunca aconteceria em França porque é proibido por lei. E se olharmos para o maior grupo mundial o LVMH, o CEO nunca fala de luxo, usa sempre o termo excelência” reflete Clemens Pflanz.

E volto ao que defino como este momento de indefinição. Talvez o tal sentimento “startup”. De possibilidades. Desse intangível de encontros como estes, de provocações que podem provocar mudanças. Sim, o luxo será sempre luxo (os puristas dirão pela exclusividade, qualidade, raridade, preço alto…), mas mesmo aceitando esse lugar confortável, (re)define o seu futuro no desconforto. Questiona-se. Faz-nos questionar. Um luxo pouco acessível. “Gostei muito de ver a interação entre os diferentes níveis de conhecimento e os diferentes níveis de concretização. A Faculdade de Matemática não comunica com a de Arquitetura, que por seu lado não comunica com o artificie que faz cadeiras. Esse desligamento é o que aqui se está a construir, a ligação entre todos esses setores e que é um enorme passo em frente neste novo mundo que está a acontecer” diz-me Jorge Leitão, Presidente da Laurel, após a visita “provocatória” ao Laboratório New Practice in Art and Technology, da Universidade Técnica em Berlim.

“New Luxury. Quiet luxury. Contemporary Luxury.”

Procurámos o que significam, concluímos que têm pouco significado. Mercados diferentes, mas há uma visão comum entre os empresários alemães e os portugueses, o luxo deve acrescentar valor à nossas vidas, pouco importa se é novo ou silencioso. E a excelência domina a conversa. É partilhada também a convicção de que a Europa tem as melhores marcas nesta indústria, que deve trabalhar em colaboração, mantendo o interesse e a procura dos consumidores asiáticos e norte-americanos. “Esta viagem permite-nos perceber como trabalham outros mercados, conhecer outras filosofias, mas destaco o fator humano, o estarmos juntos a falar sobre as marcas e a explorar oportunidades. Há espaço para cooperar o que é muito importante, porque permite a Portugal entrar em áreas até aqui impossíveis, por exemplo, a Porsche Design já está a desenvolver um projeto com um dos nossos associados” explica Francisco Carvalheira, Diretor Geral da Laurel.

E mesmo não estando a apontar, vou somando. Há muito que não ouvia a palavra analógico, Berlim promoveu também esse (re)encontro. “O que produzimos é analógico” ouvi na manufatura de porcelanas; “esta é uma experiência de som analógico” ouvi no showroom da Burmester; “aproximamos o mundo digital ao analógico” ouvi na Technical University. Seja luxo ou excelência (um luxo ter liberdade de escolha), este é um negócio em que o valor do savoir-faire das mãos analógicas, é inegociável. É o luxo a ser luxo. Por definição. O digital apenas uma forma de melhorar a experiência de um consumo analógico, como o conforto de um serviço de compra online. “75% das compras de luxo são nas lojas físicas, ninguém compra um produto a um determinado preço sem essa experiência em loja, mesmo que depois até o possa comprar na Internet” acrescenta Francisco Carvalheira.

E entro novamente nas (in)definições. Ou de como definir os novos sapatos da Louis Vuitton impressos 3D. Digo a mim própria, "é só pensar como uma start-up"...

 

Design e Artes

Wonderland: com a loja de brinquedos da Worten, nem precisas do Pai Natal

  • 13 dez 2023, 09:14
Artigo patrocinado

A magia do Natal acontece no Parque Eduardo VII, com comes, bebes, diversões e uma loja da Worten onde vais encontrar presentes para toda a família.

Coolhunting