Housewife 1950 | Fotografia: Debrocke/ClassicStock , Getty
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A nova dona de casa desesperada pelo self-care

Parece uma feminista do século XXI a querer viver nos anos 50. É um novo modelo relacional da namorada... americana.

Vamos a apresentações sobre a (não tão) nova dona de casa. Chamam-lhe SAHG (Stay At Home Girlfriend) e dizem que a Gen Z tem vindo a ser contaminada nas redes sociais por este conceito de uma tal dona de casa moderna. Ela não usa avental, mas cuida do homem com quem vive... se isso não implicar com a sua manicure. Ele é o ganha-pão e ela preocupa-se com o estilo de vida de ambos sem pensar na sua carreira. Pode preparar o pequeno-almoço do namorado, mas a aula de ioga e a sua skincare de longas horas são prioridade. Porque o bem-estar é essencial… tanto quanto a aparência de uma relação que lembra um tal de antigamente. Nestes namoros pseudo-modernos, o casamento não é uma etapa que se deseja, muito menos o plano de ter filhos. Se houve tempos em que a mulher trabalhava a sua submissão em jeito de promessa do que poderia vir a ser se recebesse o anel, as SAHG’s não precisam de um papel assinado. Viver juntos basta e o compromisso emocional é bem melhor do que os benefícios do IRS. Entre as descrições deste papel feminino numa relação hétero… o self-care soa bem, mas o resto preocupa.

O receio deste modelo relacional começou há pouco mais de um ano e parece que, desde então, nada mudou, pelo contrário. Na altura, era Laura Henshaw, fundadora de uma empresa de fitness, quem falava à Vogue sobre o “potencial de descarrilar a importância da independência financeira das mulheres”. Com a evolução dos tempos e numa época em que a consciência e a importância da valorização da mulher têm vindo a ganhar voz com o esclarecimento do feminismo, recuamos no tempo… O propósito das jovens da Gen-Z não passa pelo reconhecimento no trabalho, nem salários iguais aos dos homens, até porque o único trabalho delas é fazer pão caseiro e encher a cara de botox. Mas nem mesmo as críticas parecem travar a popularidade das SAHGs.

 

 

Um artigo recente do The Wall Street Journal explica que ser uma SAHG é “apoiar o namorado em tarefas como cozinhar e fazer trabalhos domésticos, além de um regime rigoroso de autocuidado para manter as aparências", enquanto a carreira profissional é deles.

Rotinas de beleza à parte, é a independência financeira que preocupa. Como adverte  Brad Wilcox, autor do livro Get Married: Why Americans Must Defy the Elites, Forge Strong Families, and Save Civilization, "as mulheres são mais felizes quando os companheiros trabalham a tempo inteiro", com o intuito de lhes promoverem o orgulho de serem o todo-poderoso que paga as contas.

Mas estas jovens são bem mais americanas do que portuguesas. Ainda que os efeitos das trends em redes sociais possa chegar a todo o lado e o self-care pareça disfarçar os malefícios destas relações, as mulheres portuguesas parecem fugir à regra. Talvez por força da necessidade (é um luxo contar apenas com um rendimento nos dias que correm) ou uma questão cultural, mas ainda assim nós temos mais jeito para não ir de modas absurdas, principalmente se já tivermos na casa dos 30.

Da Gen Z às Millenials, um grupo de jovens mulheres falou à Versa sobre as suas dinâmicas. Numa conversa light sobre prioridades, percebemos que tempo é coisa que falta a estas mulheres que vivem no tempo certo. Elas são ambiciosas, independentes e aprenderam a cuidar bem de si. O self-care é essencial e não começam uma segunda-feira a tirar cafés para o homem com quem vivem, mas sim a preparar o seu próprio pequeno-almoço. Marta, de 33 anos, confessa que não dispensa a sua papa de aveia matinal, mas é para ela, não há cá outra colher. E entre perderem tempo com o look do dia ou facilitarem a manhã ao jovem rapaz com quem vivem, a primeira opção é vencedora. Mesmo as que priorizam tarefas domésticas à rotina de beleza é porque organizar a casa é uma satisfação, “sofro de uma espécie de OCD, não é por ele, é por mim”, diz Catarina, de 31 anos, que não sonha com um casamento tanto quanto trabalhar para uma boa conta poupança. Já Joana, de 30, é a atenciosa que confessa começar o dia a pensar nas necessidades do seu companheiro, mas se for para escolher entre realizar um procedimento antiage ou oferecer uma viagem ao namorado… “oh, ele já viaja muito”.

No fim de semana, a consciência de self-care permanece, mas a coisa já é mais a dois. Afinal, a semana de trabalho foi intensa e já podem pensar mais no namoro. Preferem um programa com ele do que ir ao spa ou beber um café com amigas, ainda assim, Catarina diz que o ginásio é prioridade porque durante a semana não há tempo para tudo. Já à noite, quando estão deitadas a responder a estas perguntas, não estão a pensar neles, porque tudo o que desejavam era uma massagem…

Com mais ou menos botox, acredito que as Millenials mostram à Gen Z que o Instagram não pode ser fabricado como espelho de uma relação perfeita e que viver para agradar o homem não é tão cool quanto viver para si mesmo e estar bem para o outro. Ainda assim, nem por isso têm medo de subverter o seu papel numa relação hétero por prepararem o jantar à sua cara-metade. Não são femistas, mas são feministas independentes deste tempo. Por aqui, as jovens são donas de casa, donas de si e, um dia, tão donas quanto eles em qualquer mercado de trabalho. 

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