Zara Atelier Collection
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O boicote é sério: Zara sofre de insensibilidade ou de ignorância?

Se respondermos com o coração, de ambos. Se respondermos com a razão, também.

Não é a primeira vez que uma gigante como a Zara se vê envolta em polémicas. Aliás, campanhas que se tornam virais por contornos controversos já fazem parte do currículo de todas as grandes marcas, que, por serem conhecidas em todo o mundo, se tornam vulneráveis a todo o tipo de opiniões e críticas. E já há poucos que não façam da crítica um hobby (ou lobby) diário.

A diferença é que desta vez não se discute um pijama às riscas aparentemente inocente que fere suscetibilidades de memórias longínquas, falamos, sim, de uma campanha cega às dores de um tempo demasiado presente.

Enquanto tentamos manter (a nossa) vida a acontecer, o mundo lá fora recorda-nos todos os dias das maiores atrocidades. A guerra entre Israel e o Hamas em Gaza tira-nos o sono e domina-nos de impotência, faz-nos olhar para tudo o que é frívolo ou leviano como irrelevante. É por isso difícil de justificar a aparente insensibilidade da gigante espanhola na sua mais recente campanha. Podemos (e devemos) falar de roupa, de coisas bonitas e simples, e encantarmo-nos com qualquer forma de arte, mas é impossível não vermos, não lembrarmos, não pensarmos num conflito que acontece todos os dias, assim como também é (quase) impossível não ver nas imagens da Zara Atelier Collection as semelhanças com os cenários de guerra que invadem os nossos ecrãs dos últimos tempos.

 

 

Nesta campanha, a norte-americana Kristen McMenamy surge entre entulho, manequins partidos e estátuas envoltas em plástico, num espaço destruído que se aparenta com uma casa em ruínas. Numa imagem em particular, e aquela que mais chocou os internautas, chegamos a ver um manequim embrulhado em pano branco, a ser carregado no ombro da modelo, lembrando as vítimas dos ataques de Israel a Gaza, aqueles cadáveres em trajes funerários muçulmanos que agora fazem parte de uma (a)normalidade diária.

 

Quem também se fez ouvir nesta acesa polémica foi o jornalista palestino Ahmed Shihab-Eldin, que, no tom certo, escreve: “O prémio de marca mais insensível do ano vai para a Zara”. Um comentário bastante sóbrio entre os muitos que já encontramos.

Jornais árabes destacam a abordagem controversa da campanha da Zara, a publicação Al Arabiya alerta para a “inspiração na destruição de Gaza” e o artista palestino Hazem Harb escreve que “há uma depravação realmente sinistra na mente comercial de quem produziu esta campanha, enquanto vivemos num genocídio em tempo real. Não há forma de não ser intencional”.

 

 

Mas as vozes críticas não chegam apenas do mundo árabe, chegam de todo o lado e é difícil encontrar quem não julgue a marca ou se sinta ofendido pela falta de sensibilidade, se quisermos ser benevolentes. Apela-se ao boicote e muitos juntam-se ao protesto, anunciando que nunca mais voltam a comprar um artigo da gigante espanhola.

E o que tem a dizer a responsável da campanha? Como nota a Reuters, a Inditex explica que a produção fotográfica foi realizada em setembro, na casa do escultor, impossibilitando qualquer relação com os acontecimentos em Gaza, com início a 7 de outubro.

Ainda assim, a imagem mais polémica foi retirada do site da Zara e certamente terá sido uma resposta à hashtag “BoycottZara" que tem inundado as redes sociais e dominado a Internet.

Não sabemos se, de facto, foi apenas uma coincidência macabra, sem intenção de nada mais do que falar de uma dita expressão artística, mas, ainda assim, esta campanha só viu a luz do dia porque alguém assim o permitiu… e esse alguém ou sofre de ignorância ou padece de insensatez.

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