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"Esta não sou eu!": a moda atravessa uma crise de identidade

Afinal, a minha beleza não chega? Chegou a vez de a moda usar a IA como um Photoshop bem mais radical do que qualquer dieta.

Cada vez mais, conversa-se sobre a aceitação dos corpos, tentando definir-se um conceito de “mulher real” para lá de uma campanha da Dove e apontando dedos a uma indústria que se esgota em padrões de beleza, defendemos a igualdade de género e das minorias, escudando-nos da tão importante liberdade de expressão. Carregamos estas bandeiras num mundo imperfeito, acreditando que se tornam mais leves com o passar dos tempos.

Mas quando achávamos que as coisas estavam a mudar, eis que levamos uma chapada contraintuitiva e contra todas essas bandeiras.

Este é o resumo do efeito Michel Costello, o designer que numa recente polémica nos mostrou como o mundo da moda ainda não é o que diz querer ser.

Shereen Wu, uma modelo americana taiwanesa que recentemente desfilou para Michael Costello, muito conhecido pela sua passagem no Project Runway, revoltou-se nas redes sociais, assim que descobriu que o seu rosto tinha sido alterado e trocado por outro. "Esta não sou eu", afirma Wu, que surge com um rosto criado por IA, que a torna branca, afina-lhe o nariz e aumenta-lhe os olhos.

 

 

Esta denuncia nas redes sociais tornou o vídeo de Wu viral e obrigou Costello a reagir. O designer tentou descartar-se da culpa, depois apagou a fotografia editada do feed de Instagram e parece que acabou por bloquear Wu nesta rede social.

Wu mostrou-se desconfortável, criticou a situação e termina o vídeo sabendo que, no final de tudo isto, seria apenas “mais uma modelo descontente", ou não fosse esta uma indústria que continua a falhar- Quem também lhe faltou foi, não surpreendentemente o próprio Instagram. Após a polémica, Wu acabou por ver a sua conta suspensa.

Uma situação quase patética que nos faz pensar que demos três passos atrás na luta pela representatividade. Esqueçam as cirurgias estéticas e as dietas loucas que consumiam o mundo da moda, ainda sedento por uma perfeição ingénua que apenas cabe numa caixinha. É que quando já não basta fragilizar a autoestima, destrói-se a identidade.

A hipótese de perpetuar o racismo de uma forma mesquinha é extremamente inquietante e a maioria culpa de imediato a Inteligência Artificial. E de facto é urgente criar uma legislação para o uso da IA, mas não sei se pela mesma se apresentar perigosa ou se por ser muito perigoso o uso que lhe podemos dar.

Enquanto a moda resolve a sua crise de identidade, não se esqueçam das vossas bandeiras.

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