O café é uma bebida reconhecida pelos benefícios que traz para a saúde, mas a cafeína pode causar dependência, ainda que não seja considerada uma substância aditiva. A cantora Adele foi uma das celebridades que recentemente decidiu deixar de beber café e revelou que o processo foi complexo, causando-lhe sintomas como dores de cabeça fortes e tremores.
Mas por que razão o nosso corpo se ressente desta forma? Falámos com Joana Bernardo, nutricionista da Clínica Fisiogaspar, que explicou à Versa os efeitos do café no corpo e deixou dicas sobre como reduzir o consumo de café, se estiveres a considerar diminuir ou cessar o seu consumo.
A cafeína causa dependência física e psicológica?
Apesar da cafeína atuar a nível neurológico, promovendo o estado de vigília e excitação e diminuindo a sensação de sono, de acordo com “O Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais” (DSM-5), da American Psychiatric Association, a cafeína não é classificada como uma substância causadora de dependência. Embora o DSM-5 aborde a abstinência de cafeína como um transtorno, a cafeína não pertence à lista de substâncias que causam dependência. No entanto, é importante reconhecer que alguns indivíduos referem desenvolver dependência física e psicológica, uma vez que, por exemplo, na ausência da ingestão de cafeína, podem sentir dores de cabeça, sonolência, fadiga, irritabilidade, alteração de humor.
Quais são os sintomas que advêm da abstinência, cessação ou redução abrupta do seu consumo?
Alguns dos sintomas associados à abstinência de cafeína são, por exemplo, a dor de cabeça, fadiga, diminuição do estado de alerta, sonolência, alterações do estado de humor, dificuldades de concentração, entre outros.
Qual é a dose diária máxima recomendada de cafeína?
Segundo a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), um consumo habitual ao longo do dia de até 400mg de cafeína (máximo de 4 cafés expresso por dia), é considerado seguro para indivíduos adultos saudáveis.
Relativamente a mulheres grávidas ou a amamentar este valor máximo passa a 200mg/dia, o que equivale a um máximo de 2 cafés expresso por dia.
É verdade que o consumo de cafeína tem vários benefícios em termos de saúde, nomeadamente o aceleramento do metabolismo?
A cafeína é uma substância psicoativa que atua a nível do sistema nervoso central, sendo responsável pela diminuição da sensação de sonolência e pelo aumento do sentido de alerta.
Além disso, a cafeína parece contribuir para um melhor desempenho desportivo e vários estudos científicos comprovam um efeito benéfico da ingestão de cafeína na performance, resistência e concentração.
Vários estudos científicos têm associado a ingestão de cafeína à perda de peso, pelo seu impacto no aumento do metabolismo, isto é, do gasto energético em repouso, uma vez que a cafeína parece promover a sensação de saciedade e estimular o gasto energético pelo aumento da oxidação de gordura, em parte através da ativação do Sistema Nervoso Simpático. Porém, a ingestão de cafeína de forma isolada, sem qualquer alteração do estilo de vida, não é suficiente para promover a perda de peso.
Como deve ser feito o processo de redução ou de cessação do consumo de cafeína?
Para evitar possíveis sintomas associados à abstinência de cafeína, a redução ou cessação do consumo da mesma, deve ser feita de forma gradual, durante um período de dias ou mesmo semanas, consoante a quantidade habitualmente ingerida. Segundo o DSM-5, esta estratégia pode passar pela ingestão diária em menor frequência e, quando possível, a exclusão pontual de um dia, sem exceder os dois dias consecutivos. De salientar, ainda, que a cafeína está presente em vários alimentos, não apenas no típico café (exemplo: chá, refrigerantes, chocolate, bebidas energéticas) e é importante ter isso em consideração no processo de redução da sua ingestão.