Com vários produtos disponíveis no mercado para cuidar da higiene íntima, é normal que surjam dúvidas sobre quais deves usar e em que situações. Por isso, perguntámos a Irina Ramilo, Assistente Hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Vila Franca de Xira e do Centro Especializado de Endometriose do Hospital Lusíadas, em Lisboa, qual o produto ideal. Será que existe?
“Um bom produto para a higiene íntima da mulher é aquele que protege o meio vaginal, tendo em conta as suas características; não esquecendo que os tecidos que envolvem o aparelho genital têm um pH diferente do resto da pele”, começa por explicar a autora da página @aginecologistadamelhoramiga.
“Estes produtos são variados e formulados para respeitar o equilíbrio natural da zona íntima feminina. Geralmente, contêm ingredientes como ácido láctico, que ajuda a manter o pH adequado, e substâncias hidratantes e anti-irritantes”.
Qual o produto ideal
Segundo Irina Ramilo, o produto ideal “é aquele que não tem odor (o perfume está associado a substâncias desodorizantes que podem provocar reações alérgicas e desconforto), não irrite nem seque a pele, não suscite alterações da função barreira, mantenha o pH ácido, tenha uma ação refrescante e desodorizante, viscosidade adequada e detergência suave”.
Os vários produtos disponíveis no mercado podem agrupar-se tendo em conta a sua função: “agentes de limpeza, hidratação, proteção e facilitação das relações sexuais”.
Sabão com pH neutro “Os ‘novos’ sabões foram desenvolvidos para não ressecar a pele. Possuem pH neutro ou ligeiramente ácido, um efeito detergente, fazem espuma e o seu uso é agradável”.
Gel “É constituído por uma fase aquosa, maioritariamente água, com pouca ou nenhuma quantidade de lípidos. Aos agentes tensoativos suaves associam-se agentes gelificantes hidrofílicos, que produzem espuma com a massagem e conferem poder adstringente, tornando o uso muito agradável e proporcionando uma sensação de frescura”.
Toalhetes humedecidos “Possuem uma base celulósica embebida em detergentes suaves e com adição de produtos amaciadores, fragrâncias e outros constituintes. Têm pH na faixa de 5 a 6, sendo úteis em algumas situações, como a higiene fora de casa ou sanitários de uso público”.
Sabonetes líquidos íntimos “São produtos à base de ácido láctico – um componente natural da pele – que diferem entre si pelos vários excipientes associados. De entre os compostos presentes, os mais importantes são o ácido láctico, a glicerina e os sais de ácidos gordos, que retiram a sujidade da pele e controlam o pH e EDTA”.
Quando os deves usar
Irina Ramilo lembra que “a higiene íntima é muito importante e deve ser feita de forma adequada para não prejudicar a saúde íntima. É uma prática fundamental para evitar o aparecimento de infeções vaginais, muito frequentes nas mulheres”.
Estes produtos são particularmente úteis “na menstruação, após atividade física ou sexual, após a depilação, em caso de secura vaginal, irritações, infeções e inflamações vulvovaginais, sensibilidade ou menopausa”.
Quanto ao tempo que decidas à higiene genital, este “não deve ser superior a dois a três minutos, para evitar a secagem excessiva local. Durante a menstruação, pode ser necessário um cuidado mais frequente para manter a higiene e conforto”, lembra.
Para manter a área genital limpa e saudável “é importante lavar apenas a vulva com água e um sabonete suave, evitar produtos irritantes, trocar absorventes e tampões regularmente, usar roupas íntimas de algodão e evitar roupas muito apertadas”.
O que não deves usar
Sabão comum “Não é recomendado para higiene vaginal pois o seu pH alcalino pode destruir a camada superficial lipídica (gordurosa) da pele, levando a uma secura excessiva. E muito menos usar o vulgar sabão ‘azul e branco’.”
Sabonetes de glicerina “São desaconselhados pelo seu excessivo conteúdo de glicerina que pode absorver água em excesso para fora da pele, causando potencialmente mais secura e irritação cutânea”.
Penso higiénico diário “O seu uso sistemático não é recomendado. Nas mulheres com excesso de transpiração ou incontinência urinária, é importante manter o ambiente genital seco”.
A importância do pH
A especialista lembra que “a morfologia e fisiologia da vulva e vagina mudam ao longo da vida da mulher (puberdade, ciclo menstrual, gravidez e menopausa), devido às alterações hormonais”.
No que se refere ao pH vaginal, “verifica-se uma evolução de pH alcalino durante a infância, até à puberdade, altura em que se torna ácido. Durante o climatério, o pH torna-se semelhante ao da infância devido ao declínio da produção hormonal. A manutenção do pH ácido nesta região é fundamental na prevenção e controlo de doenças”.