A coleção de Collina Strada outono/inverno 2024
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A moda está intencionalmente estranha e temos culpados

O Surrealismo chegou à moda e é o tema deste artigo de opinião que podes ler em primeira mão todas as sextas feiras ao subscrever a newsletter da VERSA.

Se nos últimos tempos sentem que a moda está a tornar-se estranha, digamos que estão próximos da realidade e a fazer a leitura correta. Não falo propriamente de desfiles mais criativos e irreverentes que temos visto nas últimas Semanas de Moda, mas, por exemplo, de imagens que se tornam virais como o Papa vestido de Balenciaga, as Big Red Boots e a carteira microscópica criadas pela MSCHF, ou até a campanha da Jacquemus com as malas gigantes que invadiram as ruas de Paris.

E se tudo isto já era estranho, ainda se torna mais estranho quando nos dizem que é tudo intencional. A moda está propositadamente estranha, segundo o mais recente relatório de tendências da WGSN. A estética do surrealismo está de regresso e se procurarmos os grandes responsáveis é apontar o dedo à Geração Z, e ao interesse dos consumidores mais jovens nos conteúdos digitais intencionalmente bizarros e surreais.

Ao crescer num contexto global incerto, instável e com discussões em aberto sobre o ambiente, a economia, a política e as justiças sociais, a Geração Z cresce assim apoiando-se no movimento do Surrealismo, como forma de escape à chamada “policrise”. Termo com que nos cruzámos pela primeira vez no artigo “Bem-vindos ao mundo da policrise!”, que Adam Tooze, professor de história na Universidade de Yale, escreveu para o Financial Times e que, como explicou, “um problema torna-se uma crise quando desafia a nossa capacidade de lidar com ele e, assim, ameaça a nossa identidade. Numa multiplicidade de crises, os choques são diferenciados, mas interagem de uma forma que o todo é mais ambíguo do que a soma das partes”. Dito isto, há talvez que que desculpar os jovens, o mundo está mais estranho do que a moda.

Já em 2021, a WGSN falava no crescimento da Cultura do Caos e, no ano passado, analisava estéticas estranhas como #WeirdGirlCore e #ClownCore. O Surrealismo de que agora fala surge através de marcas como Collina Strada e as suas máscaras de pele que transformaram o rosto das modelos em “animais” em pleno desfile. Para além de vivermos em plena Economia da Atenção, com as marcas a desafiarem-se e a desafiarem-nos com estéticas surreais para captar a nossa atenção, o desenvolvimento de tecnologias, como a Inteligência Artificial, permite criar novas fronteiras também na moda (e que deverá contaminar outras indústrias como a beleza e o design), onde a estética – neste caso surreal, se sobrepõe à funcionalidade de um produto.

E se a coleção cápsula Pixel da Loewe já nos fez questionar o que é ou não real, diria que estamos apenas no princípio. E o princípio é só estranho, depois torna-se só surreal.

 

 

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