Bella Hadid | Vittorio Zunino Celotto, Getty
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Estar na moda é um novo tipo de privilégio: podes ser feio, se fores magro

O não tão novo culto da moda esconde uma feia verdade.

Para a leitura deste texto é importante assumir que em nenhum momento o espectro da beleza é aqui discutido como se o bonito fosse melhor do que o feio ou vice-versa. A beleza está nos vossos olhos, e as palavras ficam do nosso lado, como meros complementos de qualquer coisa que se convencionou.

No início deste ano, falávamos sobre o futuro da beleza, o “movimento do feio” que viria a ser encaixado numa macro-tendência a que se chama “Ugly Beauty”. O que não parecia algo mau, bem pelo contrário, se tivessemos em consideração o propósito desta estética ou o estado de espírito leve e despreocupado com que se apresentava. Um "feio" que, mais do que feio, pretendia ser a antítese da beleza padrão e, por isso, estupidamente desejado por nós, como uma espécie de lei de atração.

E não é de agora. Há séculos que artistas e filósofos procuram por esta dualidade em tudo. O que é belo? O que é feio? Proporções perfeitas? Cores escuras? E se distorcermos tudo? É uma atração quase vital ao que nos desconcerta, a esse feio, que vive imperativamente numa dicotomia.

O que não é belo nasce com o intuito de romper padrões, muitas vezes ao serviço de uma afirmação política ou cultural, numa clara rejeição às normas sociais. Mas a continuação desta história vai mais longe e mostra que, afinal, também há algo de errado nesta estética, não por ser “feia”, mas por ter de viver do “belo”.

Na moda, este conceito prospera da pior forma, já que a estética “Ugly Beauty” manipula um novo padrão de beleza potencialmente discriminatório. Talvez seja demasiado controverso afirmar isto, mas não está esta tendência a dizer-nos “podes ser feio, mas tens de ser magro”?

Vamos a ideias mais concretas. Entre um espírito indulgente e a atitude i dont give a fuck, este “feio” parece só servir a pessoas magras. Basta estarmos atentos para vermos que, desde o "NormCore" ao “Weird Girl Aesthetic” e tudo o quanto há de mais excêntrico, aqueles que usam roupas rasgadas, descuidadas ou acessórios estranhos e que nos chamam mais a atenção no mundo da moda são o espelho das críticas da era “Ugly Beauty”, que parece apenas funcionar entre o “privilégio magro”.

Bella Hadid, Doja Cat, Julia Fox e outras tantas, antes de se afirmarem nesse “feio”, já encaixavam num padrão de beleza normativo. E é por isso óbvio que se esperem questões como: estão elas na moda ou são apenas magras? Ou, por outro lado, olhando para uma pessoa sem esse mesmo “privilégio” a vestir as mesmas roupas e a usar as mesmas coisas "esquisitas", vemos moda ou nem olhamos duas vezes? A maioria sabe a resposta.

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