Johnny Depp | Fotografia: Stephane Cardinale, Getty
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“O filme não é sobre Johnny Depp”, mas os críticos acham que sim

O Festival de Cinema de Cannes conseguiu fechar portas à crise política, mas é difícil ignorar a convulsão no digital que tenta travar o certame. A agenda aqui é controversa e Johnny Depp está no papel principal.

A hashtag #CannesYouNot, uma manifestação que parece tomar conta do mundo digital enquanto o festival de cinema se mantiver de pé, tem feito por ser ouvida. Mas será que este cancelamento pode ter dois pesos para duas medidas?

Assim que a organização do festival de Cinema de Cannes revelou que Jeanne du Barry, com a realização de Maïwenn Le Besco e participação e Johnny Depp, seria o filme de abertura, todos aqueles que acompanharam a mediática batalha judicial entre o ator e a ex-mulher, Amber Heard, tiveram algo a dizer. A relação volátil, tóxica e abusiva de ambas as partes não é questionável. E mesmo que a estrela de Pirata das Caraíbas tenha saído vitoriosa em tribunal, o veredicto judicial não espelha a opinião pública de muitos que veem Johnny Depp como um agressor.

O enredo polémico da sua vida amorosa com Amber Heard podia dar um filme, mas essa não é a trama que chega a Cannes, ainda que por vários momentos pareça. Aqueles que seguem o movimento #CannesYouNot defendem que permitir Johnny Deep neste evento é “normalizar o abuso” e, dessa forma, transformam o Festival de Cinema numa sala de audiências.

“Ainda vamos a tempo de tirar Jeanne Du Barry de exibição”, pedem alguns internautas que, ainda antes do início do evento, já trabalhavam para esse fim: eliminar Depp. O diretor do festival de cinema europeu Thierry Främax chegou a dar uma entrevista à publicação amaericana Variety, afirmando que a escolha de Jeanne Du Barry para abertura "não é controversa": “Se Johnny Depp tivesse sido proibido de trabalhar, teria sido diferente, mas não é o caso [...] o filme não é sobre Johnny Depp".

Johnny Depp e Maiwenn em Cannes | Gisela Schober, Getty

À parte disso, os críticos também não se contentam com a possibilidade de a atriz e realizadora Maïwenn ter mão num filme que chega à Cannes, já que recebeu uma denúncia por alegada agressão num restaurante parisiense, por parte de um jornalista francês. Mas, segundo Frémaux, tal também “não afetou” a decisão, ou seja, também não será por aqui que conseguem cancelar Johnny, perdoem, o filme, digo.

Estamos a falar de um dos eventos culturais com maior cobertura mediática do mundo e aquele que nos fala de uma forma de arte que num futuro não muito longínquo preocupa quem acredita que o cinema como o conhecemos possa vir a extinguir-se. Ainda assim, podemos estar a sabotar o palco que sublinha a sétima arte, com protestos sobre o carácter ou a índole de Johnny Depp. Nem a luta política em França faz agora tanto barulho quanto o passado de um ator. Filmes de grandes nomes do cinema como Martin Scorsese, Pedro Almodóvar, Wes Anderson, Nanni Moretti ou Ken Loach estreiam-se aqui, mas a agenda de quem assiste só quer saber de um nome.

Não entendam isto da forma errada, Johnny Depp pode ser o “monstro” que Amber descreveu, como Amber pode ser a pessoa “violenta” que o ator diz ser e ninguém deverá sair impune, mas terá o maior festival de cinema esse propósito? Um tribunal com dois pesos e duas medidas num linchamento público que encaminha toda a atenção numa única pessoa? Não poderá estar o alegado vilão de uma relação mediática a fazer sombra ao brilho de Cannes?

Esta controversa vive por si só e não precisa de mais opiniões. As posições que aqui divergem são sumariamente duas, opiniões em duas pontas opostas que servem ou para apoiar a decisão do Festival de Cinema de Cannes em abrir o evento com o filme de Johnny Depp ou para criticar em absoluto a mesma decisão, boicotando a existência de Jeanne Du Barry. Até aqui, nada a dizer ou a acrescentar.

Mas sem resitir a uma reflexão controversa, lançamos a questão: só seremos justos se cancelarmos Johnny Depp na mesma medida que cancelamos outros, certo? Sendo assim, estamos prontos para deixar de ouvir as canções de Michael Jackson pelos alegados abusos, não voltar a ver os filmes com Will Smith pelo comportamento agressivo nos Óscares, ou a saga de Harry Potter pelas declarações polémicas de J. K. Rowling? A lista continua, mas, se sim, então temos acordo: #CannesYouNot.

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