Temperaturas amenas, entardeceres de uma beleza estonteante convidam a passar tempo ao ar livre.
Os jardins do Templo de Debod, situados a cinco minutos da Plaza de España, têm uma energia que contagia. Turistas, madrilenos, crianças a brincar, grupos sentados na relva a conversar animadamente ou a fazer um piqueniques, pessoas a ler, outras a fazer desporto e músicos que facilmente se tornam na banda sonora de um agradável fim de tarde, todos convivem num dos lugares que nos proporciona uma das melhores vistas da cidade. Debruçarmo-nos sobre o gradeamento dos jardins e contemplar a curva do Rio Manzanares, com o Palácio Real e a Catedral de Almudena à espreita é uma experiência que facilmente nos faz esquecer que estamos em pleno centro de Madrid. Também a vegetação do jardim e o vislumbrar de um antigo templo egípcio num alto de uma colina, nos remete para outros lugares. Este é um jardim que ao entardecer se torna mágico, pois ver a noite chegar, com as suas cores vivas é uma experiência que garanto valer a pena.
E o que faz um antigo templo egípcio no centro de Madrid? Na realidade, o Templo de Debod foi um presente do Egipto a Espanha como agradecimento pela ajuda prestada para salvar os templos de Nubia, que corriam o sério risco de ficarem submersos como consequência da construção da barragem de Assuão, no Egipto. Este templo funerário, com mais de 2000 anos, foi assim resgatado das águas desta barragem, por uma equipa de arqueólogos espanhóis e foi trazido, pedra por pedra, de barco até Valência ,e depois em camiões até à capital, onde foi reconstruído na sua atual localização. Consta que o mais fácil foi transportar o templo, a tarefa mais árdua e desafiante foi a sua reconstrução, pois só estava disponível um croquis e algumas fotografias para apoiarem a montagem. Para dificultar ainda mais, algumas pedras perderam a sua numeração durante a viagem. Apesar das dificuldades encontradas, o Templo de Debod ressurgiu em todo o seu fulgor longe do lugar originário, agora numa colina da capital espanhola.
Manuel Herrero Palacios desenhou os jardins com o propósito de mostrar todo o esplendor do Templo de Debod, instalado com a mesma orientação solar que tinha no seu lugar de origem. Os jardins e o templo foram inaugurados em 1972, formando parte do Parque del Oeste.
Este Templo e os seus jardins ocupam o terreno onde se erigia o Cuartel de la Montaña, edificação militar construída entre 1860 e 1863, no lugar conhecido como a Montaña de Príncipe Pío. Umas décadas antes, foi aqui que as tropas francesas de Napoleão fuzilaram os sublevados da revolta de 2 de maio de 1808, cena retratada no famoso quadro de Goya El 3 de mayo en Madrid. Já no século XX, o mesmo lugar foi cenário da sublevação militar de julho de 1936, que daria lugar à Guerra Civil Espanhola. O quartel foi praticamente destruído durante o conflito, sendo posteriormente demolido. Seria na década de 1970 que esta colina ganharia uma outra vida, com a instalação do Templo de Debod e dos jardins especialmente desenhados para acolher este monumento.
A primeira vez que visitei os jardins, não fazia ideia de que nele encontraria um antigo templo egípcio. Fiquei rendida ao espaço, ao seu ambiente que transporta um certo misticismo. Saí de lá com vontade de pesquisar para ficar a conhecer melhor o lugar e o monumento. Mas, mais do que visitar o Templo de Debod no interior (a visita é gratuita), gosto de estar no jardim, escolher um lugar que me proporcione uma vista para o templo e para a cidade, estender uma manta, ler calmamente um livro, ou simplesmente observar a dinâmica das pessoas que dão vida ao jardim e escutar algum dos excelentes músicos que diariamente ali estão, animando um dos lugares mais agradáveis que Madrid nos tem para oferecer ao ar livre.
Uma crónica da @lisboeta.em.madrid