Há lugares onde apetece sempre voltar. Mas em que o nosso sentido de sempre não pode ser sempre, deve antes ser de tempos em tempos, alimentado pelas memórias dessa última vez. Dificil explicar esta minha relação com o CURA. Até que chega o dia. De regressar. De tentar me explicar.
Quando quase tudo muda, é bom quando nem tudo muda. E o Restaurante CURA mantém essa linha fina que separa fine dining, arte e experiência. Talvez esteja aqui a raiz da equação perfeita que o é. Sendo.
A arte que decora o Ritz Four Seasons Hotel Lisboa como que numa exposição permanente e onde não falta Almada Negreiros é reinterpretada na arquitetura do restaurante, mas também na curadoria do Chef Pedro Pena Bastos, que com a sua arte nos apresenta pratos aparentemente simples embora cheios de complexidade. O seu olhar artístico dá-lhe essa capacidade de expor uma paleta rica de ingredientes locais, frescos e sazonais de Portugal, criando com as suas mão menus que se desdobram em diferentes momentos e com múltiplos significados. Uma provocação de mesa contemporânea emocional e sensorial.
Neste jantar escolho o Menu Origens, que, sem superstições, chega em 13 momentos. Começa com Cenoura, shiitake e alho negro; Gamba rosa, batata doce, sabugueiro e limão torrado; Atum rabilho, rábano, feijão verde e caldo fumado; seguem-se outros tantos pratos que nos levam a colecionar sabores, texturas e técnica. E nessa liberdade artística com que o Chef torna simples o que é complexo, o “momento do pão”a meio da experiência mantém-se como um dos meus momentos. Um pão de trigos ancestrais como barbela e pão de leite, servidos com manteiga envelhecida da Ilha das Flores, nos Açores e azeite verde.
Drama. Poesia. Devaneio. E realidade. No CURA todas as noites são de inauguração. À nossa espera três menus (o vegetariano Raízes; um degustação mais leve, o Meia CURA; e o menu mais completo Origens ), que entre inovações e intenções, são uma verdadeira obra de arte do século XXI.