Jean Paul Gaultier sempre foi um designer de moda, apesar das muitas outras áreas a que se dedicou ao longo dos mais de 50 anos de carreira. Ainda que a moda e o desenho tenham sido o seu foco, o gosto por espetáculos esteve sempre presente, não visse Jean Paul Gaultier a moda e a Alta-costura como algo teatral. Depois de ter anunciado o fim da carreira no mundo da moda em 2020, chegou então a altura de fazer as coisas de que gosta. E é assim que nos deparamos com a presença do criador francês de 70 anos em Lisboa, onde esta quarta-feira apresenta, na sala Sagres Campo Pequeno, o seu espetáculo biográfico Fashion Freak Show.
“Chegou a altura de fazer coisas de que eu gosto, como espetáculos. Mas que tipo de espetáculos? Sobre a minha vida, sobre dançar e sobre moda”, diz Jean Paul Gaultier sobre a superprodução que poderá ser vista primeiro em Lisboa até 12 de novembro, e depois no Porto, na Super Bock Arena, entre 16 e 19 de novembro. Fashion Freak Show não é um musical, um espetáculo de burlesco ou tão pouco um cabaret, detalha por sua vez Garry McQuinn, produtor deste espetáculo de moda, música e dança que percorre o meio século de carreira de um dos nomes mais marcantes da indústria.
“O que descobrimos com este espetáculo foi uma incrível mistura de diversidade de formas de contar uma história. Resulta lindamente e é único dessa forma”, contextualiza o produtor australiano que ao longo dos mais de 25 anos de carreira foi responsável por espetáculos de sucesso da Broadway e West End como Priscilla Queen of the Desert ou The Rocky Horror Show.
Num espetáculo que combina dança com música e efeitos visuais complexos e em que praticamente não há diálogos, a expressão corporal dos artistas em palco assume uma importância acrescida. E é aí que entra o contributo da coreógrafa francesa Marion Motin, que aponta que este se trata de um espetáculo em que é possível o espectador cruzar-se com “a arte que nos faz ver o que inspirou o Jean Paul na sua vida”. “Não é sobre moda, é sobre uma série de universos artísticos. No espetáculo podemos entender o processo de criação de Gaultier, tudo aquilo por que passou e perceber como foi a sua carreira. É muito interessante poder perceber a sua mente através deste espetáculo”, afirma Marion Motin.
Numa produção que conta com mais de 100 pessoas e em que são usadas à volta de 500 peças da autoria de Jean Paul Gaultier, entre elas o célebre sutiã cónico, o corpete ou a camisola de marinheiro com o padrão listrado, são explorados episódios marcantes da vida do designer, como o momento em que conhece Francis Menuge, seu parceiro de longa data, ou Pierre Cardin, responsável pelo seu lançamento no mundo da moda. “Escolhemos episódios da vida de Jean Paul Gaultier que foram importantes. Ele sentava-se com os diretores criativos e coreógrafos e falava sobre a sua vida. Depois discutíamos como podíamos apresentar esse momento ”, recorda McQuinn sobre o processo de trabalho que permitiu condensar em palco 50 anos de uma vida e carreira repletas de momentos marcantes, ao som de uma banda sonora de Nilo Rodgers, percorrendo sonoridades da pop, disco e funk.
Ainda que a história seja contada, de certa forma, cronologicamente, começando na infância, quando era gozado na escola, e mostrando as diferentes fases da vida de Gaultier, “a crença de que esta seria uma narrativa tradicional foi abandonada desde o início”, explica Garry McQuinn. “Há uma integridade sobre este espetáculo. Todos os fatos usados vêm de uma das suas coleções, são todos únicos. Desde o início não houve a preocupação de fazer deste um espetáculo provocativo. Queriamos apenas mostrar o lado verdadeiro da sua vida. E a sua vida tem sido provocativa. Ele desafiou barreiras e, de certa forma, este espetáculo é apenas outro desafio provocativo sobre o que pode ser entendido como limites. É um espetáculo único”, garante o produtor.
Os bilhetes para Fashion Freak Show estão disponíveis a partir de €20 e vão até aos €300. O espetáculo estreado em Paris em 2019 passará depois de Portugal por Espanha e pela Austrália, no próximo ano.