Certamente já te terá acontecido ter de recuar um copo de vinho num convívio na sequência da seguinte lamentação: “Não posso, estou a tomar medicamentos”. Fazêmo-lo porque sempre nos disseram que álcool e fármacos não são compatíveis, ainda que circulem por aí algumas teorias que levantam dúvidas.
Há quem diga que o álcool não corta o efeito da medicação, apenas duplica os efeitos; quem defenda que só é incompatível com antibióticos e não outros medicamentos; ou ainda quem considere que o problema está na quantidade de álcool ingerida.
Afinal, em que ficamos?
A VERSA falou com a médica especialista em Medicina Geral e Familiar e Coordenadora da USF Progresso - ULS Matosinhos, Rita M. Oliveira, para esclarecer todos os mitos.
Num guia prático, todas as respostas da médica Rita M. Oliveira às tuas perguntas.
O que acontece ao corpo quando misturamos álcool com medicamentos?
O álcool é uma substância hepatotoxica, ou seja, pode causar dano no fígado e interferir com o seu normal funcionamento. Sendo precisamente uma das funções do fígado metabolizar medicamentos, o álcool pode pôr em risco a eficácia do medicamento (ou até aumentar o risco de sobredosagem/ efeitos adversos).
Contudo, o local no qual o fármaco é predominantemente metabolizado varia de fármaco para fármaco – uns serão metabolizados mais no fígado, enquanto outros mais no rim.
Então podemos dizer que o álcool corta o efeito dos medicamentos?
Não há uma resposta de sim ou não. Depende do fármaco em causa. Em todo o caso, de um modo geral, a eficácia dos antibióticos mais comumente utilizados para amigdalites, infeções respiratórias ou urinarias não é alterada pelo álcool (amoxicilina e derivados da penicilina por exemplo). Já o mesmo não se pode dizer, por exemplo, do metronidazol (para tratamento de erradicação H Pylori e em algumas infeções vaginais), mas este raramente é utilizado.
O tipo de bebida tem influência?
Depende do grau de álcool. Mais álcool, mais hepatotoxicidade. Bebidas brancas têm mais álcool do que cerveja, mas se só beberes um shot de vodka, terá provavelmente menos do que se beberes 20 cervejas.
E quanto ao tipo de fármaco, como a pílula ou anti-inflamatórios?
De um modo geral, o álcool também não interfere com a eficácia da pílula ou de anti-inflamatórios, desde que o consumo seja feito com moderação e evitado em caso de doença aguda.
O problema de misturar álcool com medicamentos está somente associado à eficácia do tratamento?
O consumo de álcool deve ser sempre feito com moderação e aconselha-se a evitar não pela interferência com o antibiótico em causa, mas pelo facto de estarmos com uma infeção ativa, em que devemos evitar substâncias tóxicas que prejudiquem a recuperação.
Já para não falar de que o álcool pode agravar alguns efeitos colaterais dos antibióticos, nomeadamente queixas gastrointestinais.
Se estiver a tomar medicação, que lição devo aprender antes de beber álcool?
O álcool não interfere com a eficácia dos antibióticos mais frequentemente utilizados, mas o consumo deve ser sempre feito com moderação e de preferência até evitar.