Comer é um verbo com uma definição muito simples: “ato de mastigar e engolir”, diz o Priberam. Mas quando a este verbo acrescentamos o adjetivo “bem” tudo se complica. Afinal, o que é isto de comer bem?
“É verdade é que é algo um bocadinho complexo. Comer bem diria que é ter uma alimentação que promove a nossa saúde. ‘Bem’ vem de bem-estar, portanto é fazer uma alimentação saudável, que seja variada, equilibrada e completa”, afirma a nutricionista Bárbara Oliveira à Versa.
A ideia será comer um bocadinho de tudo e nas proporções certas, dependendo das necessidades de cada um de nós.
Se fazemos sempre isto? Nem por isso. E é por essa mesma razão que Bárbara Oliveira acaba de lançar o livro “10 Passos para Comer Bem”, no qual ensina como comer bem e o bem que isso nos faz.
Com base no livro, pedimos alguns passos à nutricionista. Vai uma curta caminhada?
1. Perceber o que é uma alimentação saudável
O primeiro conceito está definido, comer bem, mas uma vez que está inevitavelmente associado a “saudável”, eis o que deves saber.
“A ideia de uma alimentação saudável é uma alimentação com poucas calorias ou que tenha determinados nutrientes. E não é assim. Cada pessoa tem as suas próprias necessidades, por isso uma alimentação saudável tem de ser feita para uma pessoa especifica”, afirma Bárbara Oliveira.
2. Dorme bem
O que é que o sono tem que ver com a alimentação? Tudo e não estamos a falar do famoso jejum intermitente. A nutricionista explica melhor.
“O sono, o descanso, é super importante para nossa saúde e também para a nossa alimentação. Quando não dormimos bem, existe aquela desregulação hormonal que faz com que, por exemplo, no dia seguinte façamos escolhas menos interessantes do ponto de vista nutricionais, mais ricas em açúcar e gordura, e queiramos comer mais, porque nunca ficamos saciados” — coisa que não vamos querer.
3. A alimentação que nutre mente e corpo
A fome e o excesso afetam-nos das mais variadas formas. Com fome, às vezes nem conseguimos focar-nos no trabalho, por exemplo, e quando estamos cheios fica difícil dormir — aqui o inverso do efeito comida-sono de que falávamos anteriormente.
“Isto é tudo uma caminhada. Daí o livro chamar-se ‘10 passos’”, frisa Bárbara Oliveira. “A alimentação acaba por influenciar duas áreas, a saúde mental e o exercício físico, por isso é que convidei a psicóloga Sara Crispim e o personal trainer Pedro Gonçalves para o livro", refere a nutricionista.
Se tudo estiver em equilíbrio — alimentação, exercício físico e mente — estás no caminho certo para uma vida saudável. Mas atenção mais uma vez à mente.
“Primeiro, olhar para alimentação como algo que nos vai nutrir e não como um conforto. Porque isso é o que acontece quando alguém tem questões a nível de distúrbios alimentares e a falta de gestão emocional faz com que a pessoa vá comer quando está triste ou zangada”, diz a nutricionista.
“Temos de perceber até que ponto não está a ser compensatória. Por isso é que falo muito da saúde mental porque é importante uma pessoa estar bem para não se virar para alimentação de modo a sentir este bem-estar”.
4. Seguir uma alimentação sustentável
Algo que talvez nunca tenhas pensado é que comer bem é também comer de forma sustentável. Aqui o efeito do “bem” é duplo e não tão complicado como pode parecer.
“Estamos a viver uma grande crise climática e a alimentação é uma das principais alavancas para combater esta crise. Optando mais por cereais integrais e vegetais e reduzindo o consumo de produtos de origem animal, incluindo a carne, conseguimos aqui combater através da alimentação esta questão da crise climática".
5. Desfazer mitos
Quantas vezes não ouviste falar da água morna com limão em jejum que supostamente desintoxica (quando na verdade apenas hidrata) ou de que a fruta pode engordar, criando-se um medo de comer fruta como snack e não umas bolachas digestivas?
É normal que fiques baralhado e é por isso mesmo que o quinto passo leva-nos a um dos capitulos do novo livro de nutricionista.
“A nutrição é uma área complexa e é preciso ter muito cuidado a fazer a análise. Mas acho que a primeira coisa que deve ser feita é ter um profissional ao nosso lado em quem confiemos. Não confiar naqueles títulos polémicos de ‘faça a dieta x’ ou ‘evite o azeite e opte pelo óleo de coco’. É termos análise crítica consoante a nossa necessidade”.
6. Planeamento, sem extremismo
Ter um dia a dia alimentar organizado pode não ser fácil, mas é tudo uma questão de hábito e de não ser rígido com o plano.
“Não é preciso sermos super complexos e estarmos a estruturar todas as 14 refeições da semana e a fazer uma lista de compras para as 14 refeições. Basta fazer um planeamento geral e tirar um bocadinho da semana para fazer essa organização. Acho que é extremamente importante para depois comermos bem”.
7. Adeus, saladas de verão. E agora?
Nada temas se já não te apetecer fazer uma salada fresca como a de Jennifer Aniston na estação fria. No inverno, podes continuar a ter uma alimentação leve e equilibrada.
“O primeiro passo é estarmos bastante hidratados. Porque no inverno as pessoas têm a tendência a reduzir a quantidade de água e isso é muito importante. Depois, podemos comer sopa. No inverno as saladas e no inverno a sopa, que é muito interessante do ponto de vista nutricional porque ajuda-nos a ficar muito mais saciados no início da refeição”.
8. Papas de aveia de Snickers e Bollycao podem fazer parte de um dia a “comer bem”
A nutricionista Bárbara Oliveria é famosa pelas receitas com nomes que ficam tanto no ouvido como na boca que começa logo a salivar ao olhar para bollycaos como estes.
“Podem fazer parte de um dia a dia saudável. Claro que se formos comer aquele Bollycao todos os dias não é interessante. Como disse, comer bem implica que a alimentação seja variada. Num dia podemos comer o Bollycao, noutro as papas de aveia, noutro um pão de cereais integrais. Podemos obviamente ingerir as coisas de que gostamos, como chocolate, eu não vivo sem chocolate, mas não há necessidade de comermos tabletes inteiras”.
9. Como comer bem socialmente
Eis um dos maiores desafios: comer bem e não deixar a vida social de parte. E se te dissermos que ambas são compatíveis?
“Primeiro, é meter na cabeça que a nossa alimentação é toda a semana e aquela refeição de sábado ou sexta não vai definir a nossa alimentação e acaba por ser sempre uma média. Se andei a fazer uma alimentação saudável durante a semana, sem exageros, não há problema que de vez em quando acabe por fazer uma alimentação com um bocadinho mais de gordura ou calorias do que normalmente”, explica Bárbara Oliveira.
Ainda assim, podes tentar optar por algo mais equilibrado, e aqui tanto podem caber os grelhados, como uma pizza. “Posso ir a uma pizzaria e não comer uma pizza inteira e comer uma sobremesa a dividir com alguém. Isso já faz toda a diferença”.
10. Manter a motivação
A palavra motivação é o ponto de partida para aquilo que deves reter destas 10 dicas.
“Motivação parece que é como o ‘motivo’ para a ‘ação’. Portanto, temos de ter os motivos que nos levam à ação”, aconselha a nutricionista. Reflete. Pensa quais os teus motivos. Queres um exemplo? “Eu, Bárbara, o meu motivo principal é estar bem para estar com o meu filho, a minha família, amigos e dar o melhor aos meus pacientes”.