conVERSA com Richard by (RE)Quest | Fotografia: Vasco dos Santos
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conVERSA com Richard by (RE)Quest

Chamei-lhe cool, não gostou. Pedi-lhe um conselho de viagem, não me deu. Achei que lia Douglas Diamond e Philip Dybvig, mas, afinal, passa as noites no duolingo e já na versão Pro. Quest não é uma desilusão, mas, sim, uma lição de humildade.

Esperar o inesperado. Era mais ou menos esse o mood que levava para a conversa com o jornalista e um dos principais rostos da CNN Richard Quest. Sem guião. Freestyle. Como eu gosto. E como achei que ele também iria gostar. Antes de subir ao palco do CNN Portugal Summit, passou 14 minutos, nem mais nem menos, à conversa comigo. E, desde já transparente, confesso que não me respondeu diretamente a nenhuma das questões que lhe coloquei. Esperar o inesperado. Fui repetindo para mim própria.

O jornalista é exatamente aquilo a que nos habituámos a ver na televisão: fala para mim no mesmo tom com que fala para um vasto auditório; a cada expressão, há gestos e braços no ar; a cada opinião que quer deixar bem marcada, abre os olhos e fixa-nos durante longos segundos. E há aquela estranha sensação de que o conhecemos, sem nunca o termos visto. Há anos que o vejo a viajar pelo mundo, colecionando histórias e experiências e atrevo-me a dizer-lhe que, de certa forma, sempre o vi também como um Cool Hunter, ou, nos códigos mais modernos, como um trendsforecaster ou futurista pelo tom inovador que coloca nas reportagens. “NO, NO, NO, NO…” diz-me, com aquela voz que bem conhecemos.

 Vejo-me só como uma pessoa que gosta de ir acompanhado tudo. Não quer dizer que não esteja aberto à mudança ou a novas ideias”. E antes de me deixar continuar, acrescenta divertido: “E cool nunca foi uma palavra que me descrevesse”.

Agora que escrevo o texto apercebo-me que Quest significa a procura de algo. Mas na conversa surgiu, por um mero acaso, perguntar-lhe o que tem de mais forte (na vida e enquanto jornalista), a intuição ou a curiosidade. “Sou curioso com tudo e fui sempre assim. Se pegarmos na nossa curiosidade natural, acrescentarmos-lhe iniciativa e colocarmos um pouco de paixão, somos capazes de tudo”.

O meu projeto durante a pandemia foi aprender a ser barista, queria saber fazer um bom café, mas a minha arte para o latte ainda é horrível. Esta ideia de estarmos sempre interessados aplica-se a tudo na vida”.

E a curiosidade tem-no levado a temas que hoje são mais hype, como a economia digital, o metaverso “tudo brilhante, uso como todas as pessoas, mas a partir do momento que se torne uma barreira na intercomunicação, não é para mim. Percebo o argumento que as gerações mais novas cresceram e que para eles é normal e podem acentuar ali a sua comunicação, mas eu já passei os 60 anos, uso, mas não consigo o mesmo nível de engage. Vejo como ferramenta o que eles vêm como uma forma de vida”.

A qualidade é qualidade em qualquer lado. Só porque estás no digital, no metaverso, não significa que sejas bom, esse é o erro que muitos jovens cometem. O TikTok é uma “treta”. E vendo a qualidade como o grande desafio no digital, reforça que ao pagar-se por conteúdos editoriais (Quest tem várias assinaturas…) “significa que quem produz tem de ter um alto padrão de qualidade e tu terás um maior engage”.

“Pensa assim: Depois de ar puro, da água, da comida e talvez o sexo…não há nada mais importante do que a forma como ganhamos e gastamos o nosso dinheiro. Essa relação é crucial. Eu fico muito aborrecido quando as pessoas acham que têm direitos sobre o meu dinheiro”

Mas como a economia não é de todo o meu território, desvio a conversa para as viagens. A um viajante com muitas milhas como Richard Quest, um amante assumido de aeroportos (gosta de imaginar toda a vida de emoções que se concentra ali), peço um conselho, que me imagine como um turista Promad (a nova tendência) e me sugira um destino. Simples. Gera-se em mim toda uma expetativa. Imagino logo o globo e uma nova experiência enriquecedora by (RE)Quest. “Esquece isso dos nomes” (ler como se estivesse em caps lock). “Não se trata de ir para um lugar distante, não é que o viajante Promad não exista ou que não queiramos ter uma experiência, mas com que fim? Não é algo egoísta para me sentir melhor? Às vezes, só queremos… fazê-lo! Só isso”.

Eu não sou um terapeuta que te vai dizer que é um trabalho interior e cobrar 50 dólares. Acho que não precisamos de ir até ao fim do mundo para ter essa experiência enriquecedora. Uma das coisas que eu mais queria ultimamente fiz esta manhã: bebi um café e comi um pastel de nata em Lisboa e pensei: ‘hoje vai ser um bom dia’.”

O jornalista é apaixonado por Portugal, “um país sempre assim meio envergonhado e um pouco à sombra dos vizinhos grandes como Espanha e França, mas essa é a sua beleza, o seu charme” diz. E quando lhe pergunto se também ainda está apaixonado pelo que faz, se ainda vê poesia no seu trabalho, responde: “Todos os dias! Todos os dias! (novamente Caps Lock…) Quando chega aquele momento em que olho para a câmara e digo “Boa noite…” é a melhor hora do dia. Há um sentimento de relação com quem assiste, um sentimento de responsabilidade para com ele. É ter a certeza que estamos a cumprir com o que prometemos. Se foram generosos em dar-me o seu tempo, então é um privilégio meu dar-lhes o melhor que posso” explica.

Há uma expressão que me passaram quando era jovem e que ainda hoje partilho com os meus colegas: “Nunca te esqueças Richard não és mais do que uma luz, numa caixa no canto da sala que alguém pode desligar…” E, no momento em que percebemos isso, começamos o processo humilde de agradecer por me estarem a ver. De dizer obrigado por me darem a honra de me verem…”

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