O desfile de KOLOVRAT na ModaLisboa
Coolhunting

O regresso do PRETO. BRILHOS. E o NONSENSE do mundo À LA CARTE

Foram quatro dias de ModaLisboa. Entre o muito e o tanto que vimos, fazemos algumas escolhas nesse menu com toda a complexidade de interpretações da Moda Nacional.

Se esta é talvez a edição mais Freestyle da Lisboa Fashion Week? Eduarda Abbondanza, Presidente da Associação ModaLisboa, diz-nos, sem hesitar, “sim”! À LA CARTE, o tema escolhido para estes quatro dias de moda no Pátio da Galé, é poder, dentro do menu, escolher. É a moda a ser livre. A dar liberdade(s). Mas À LA CARTE, traz outros pensamentos para abrir o apetite.

Como não encontrámos nenhuma palavra que fosse boa para todos, porque temos uma polarização de opiniões na sociedade e não há consenso em nada, no briefing percebemos que podíamos ter um tema mais nonsense, porque nonsense é o que se passa no mundo. E na realidade, a comida dá-nos prazer e, muitas vezes, a mesa junta pessoas e famílias desanvidas, daí a escolha do À LA CARTE”, explica Eduarda Abbondanza à VERSA.

 

A ModaLisboa diz-nos que "tal como o corpo, também esta indústria se alimenta de diversidade: os desfiles podem ser a proteína que permite à célula manter a sua integridade, mas o que seria de nós sem um bom hidrato?" E entre os acompanhamentos consumidos nestes dias, nas ações paralelas à apresentação das coleções, “todos reconhecem que estamos na boa direção” diz à VERSA, Eduarda Abbondanza.

As conferências foram maravilhosas. Já abordámos a sustentabilidade de todas as maneiras e, desta vez, estávamos ansiosos, porque temos pessoas dos centros tecnológicos e das indústrias que já têm resultados de inovação e tecnologia, exemplos de coisas que deram certo, e outras que não, mas isso significa que estamos numa boa direção.” Eduarda Abbondanza

O mundo está num processo de mudança global, mas também a moda. E também a Moda Nacional. “Há muitos desafios, a Moda de Autor (tal como Nuno Baltazar expressou no seu desfile) ainda não arrancou. Os dois anos de pandemia foram terríficos, as mudanças das cidades capitais criou muitos problemas e a Moda de Autor dirige-se a uma classe média em crise, mas os nossos criadores trabalham nesse patamar.. vamos ver onde vamos parar” acrescenta a Presidente da Associação ModaLisboa.

Vamos à carta? Algumas das tendências

Nesta edição vimos designers numa mudança de paradigma como Luís Buchinho, criadores a celebrar 10 anos de carreira como Luís Carvalho, e coleções primavera/verão 2024 que cancelam essa noção tradicional de estação, e com peças tendencialmente sem género. Sendo sempre um exercício complexo, resumir tantas doses de criatividade que nos foram servidas.

S/ TÍTULO. Valentim Quaresma explica à VERSA que a sua coleção sem tema é uma analogia. “Fui pesquisar porque há artistas que criam arte sem título, foi uma ideia que me veio à cabeça no início desta coleção, e quando não há um título, as pessoas fazem a sua interpretação".

Depois pensei o que podia trazer de novo nesta coleção que não tivesse já trabalhado nestes quase 40 anos. E fez sentido usar os meus próprios objetos, vou muito à Feira da Ladra, gosto das histórias de cada objeto, e tinha tantos que quis contar essa história, e de voltar a usar os meus objetos, o seu lado emocional, há um lado muito pessoal nesta coleção”. Valentim Quaresma

 

O preto, que vemos de regresso como tendência nesta edição da ModaLisboa, tem estado sempre presente nos desfiles do criador. E nesta coleção, há joias e cabelos que também contam uma história, mesmo que S/TÍTULO.

O papel da joalharia é afirmar um conceito. Esta é uma coleção pessoal, com objetos pessoais e as joias fazem isso tudo. Os cabelos são da Helena Vaz Pereira, sempre que lhe explico uma nova ideia, a Helena é incrível, lê o meu pensamento.” Valentim Quaresma.

 

BABEL. Desta vez temos tema. E para a Buzina traduz-se em caos, desordem, confusão, a inspiração para esta coleção apresentada na ModaLisboa e que não é mais do que a realidade que a marca tem vivido, nos últimos tempos. 

Foram meses intensos para a Buzina que, apesar de muita procura, passou um momento confuso devido a atrasos, falta de matéria prima e resposta atrasada na produção. Durante este período tive a oportunidade de encontrar a inspiração para esta coleção que corresponde ainda a Fall/Winter. O resultado é uma coleção intensa e marcante que descompromete as formas e silhuetas, mas não deixa de ser um statement para quem a veste” Vera Fernandes, designer e fundadora Buzina

 

Numa edição em que assume uma nova rota, vimos 20 looks com cores e texturas intensas, silhuetas defendidas com os oversize, uma paleta de cores, entre os castanhos e dourados, mas também com a vivacidade do verde, rosa e branco. Entre criações com elementos delicados como o cetim e o tafetá e o o tule e o veludo, até aqui nunca trabalhados pela Buzina.

O PRETO. Que pode ser BRILHO. Que pode ser NONSENSE

Estive indecisa quanto à capa para este artigo. Mas Kolovrat pareceu-me resumir numa fotografia, muito do que procuro dizer neste texto. À ModaLisboa, trouxe o (desen)contro do seu mundo cheio de possibilidades, com um outro cheio de limitações. Da sua viagem a Cuba,  onde há tanto e ao mesmo tempo tão pouco, a criadora materializou tudo o que viu e sentiu, em super-volumes, contrastes entre largo e justo, bolsos oversized e multifuncionais, misturas de materiais e estampados originais. E o preto, que está de regresso, tem em Kolovrat toda uma outra escala. A da imaginação. 

 

Luís Carvalho... deu-nos música. E em bom. A apresentação da coleção SHELTER 2.0. teve como Banda Sonora e ao vivo Best Youth, num desfile em que o criador trouxe uma nova perspetiva da sua primeira coleção, apresentada na ModaLisboa há 10 anos. 

Agora também pensada para homem, vimos silhuetas onde o clássico e casual se fundem em peças simples e depuradas com a criação de diversas camadas e recortes. Peças sem género, com o metalizado holográfico, mas também com criações em crepe, cetim de seda, tafetá, organza e jacquard. 

 

Gonçalo Peixoto, foi Gonçalo Peixoto. "É um desfile que mais uma vez continua a ser um espelho daquilo que eu estou a viver e sentir. Tento que as coleções sejam muito pessoais e, cada vez mais, existe esta personalização do “eu”, do Gonçalo Peixoto, enquanto criador e enquanto pessoa, por isso, é uma coleção muito Gonçalo Peixoto.” disse em entrevista à VERSA. 

E numa coleção em que quis valorizar o trabalho manual desta indústria, houve também flores, muitas transparências, e muito brilho.

 

E a fechar o menu, um clássico... Dino Alves

Já nos habituámos a encerrar a ModaLisboa, com o desfile de Dino Alves. Um clássico, fora dos clássicos. Com a coleção DNLVS TEAM, o criador dá um certo sentido a este mundo nonsense em que vivemos. E o que vimos foi uma ode à sua equipa, a todos os que consigo constroem a marca, a partir de peças que expõem o trabalho que é feito por um atelier

 

O desfile foi assim uma espécie de recriação do ambiente do atelier, uma homenagem aos que lá trabalham, com moldes desenhados nas peças, pespontos e cortes a lazer, representando o empenho de todos, e de cada um, que fazem a marca Dino Alves. E também há brilho, e muito, em quem pensa assim. 

Vê alguns dos melhores momentos dos desfiles na ModaLisboa, na galeria de imagens que preparámos para ti. 

Coolhunting

Em três pontos, o que tens de saber sobre a nova coleção da H&M

Há motivos para celebrar e não é só porque a H&M tem uma nova coleção em colaboração com a Rabanne. É também porque as peças estão prontas para a festa.

Coolhunting