Quando um jovem invade um desfile da tão aguardada Semana de Moda com um saco de plástico e o que parece ser uma touca de banho na cabeça, tudo se torna desconfortável e sem sentido, a não ser que consideremos que todo o ridículo tem um bom ponto de vista. Não era esse o argumento que usávamos para defender uma Balenciaga? A Casa de luxo italiana que chegou a criar carteiras semelhantes a sacos do lixo e a vendê-las a bom preço. Será que também há quem desse dinheiro pelo saco de plástico que invadiu o evento? Claro que sim… até perceberem que não se tratava de uma Balenciaga… e que lhe faltava alguma etiqueta (em todos os sentidos da palavra).
A maior diferença entre ambos os sacos (aqui entenda-se uma analogia entre um especialista em moda e um ignorante na matéria) é que neste caso concreto - em que o impostor até pode apenas querer aparecer para uns minutos de fama ou para angariar mais seguidores nas redes sociais - há de facto qualquer coisa a dizer sobre moda, com mais ou menos intenção.
Se a excentricidade é algo que não falta nesta indústria que parece muitas vezes competir para ver quem consegue fazer qualquer coisa nunca vista, é natural que ninguém se tenha dado conta que este intruso era, de facto, um impostor. Houve aplausos e olhares atentos, muitos espectadores até podem ter pensado “que proposta revigorante”, calando-se em vergonha assim que o jovem é retirado à força do desfile.
As opiniões após o incidente dividiram-se, ou complementaram-se, diria. Se por um lado houve quem ridiculizasse o momento e a performance do impostor, outros considerarem um desempenho “maravilhoso”. E porque não ser ambos? Enquanto nos comentários sobre o incidente alguns criticaram a sua forma de vestir, outros consideraram o seu desempenho "fantástico".
E claro que há ainda a abordagem intelectual da coisa: a falta de matéria cinzenta a quem tudo faz pelo mediatismo, sem propósito ou sem uma causa maior. Se é apenas um grito por atenção? Talvez. Mas quantas vezes já aplaudimos toucas na cabeça acreditando na genialidade da moda? E qual o propósito disso?
Se procuram espetáculo, talvez o intruso tenha cumprido o propósito…