Outubro de 1972. O voo 571 da Força Aérea uruguaia transporta a seleção nacional de râguebi para um jogo e despenha-se na cordilheira dos Andes, em território chileno. Dos 45 passageiros, apenas 29 sobrevivem ao desastre. À medida que os dias passam, os sobreviventes percebem que a única forma de aguentar mais um dia é alimentarem-se da carne humana dos que morreram.
Esta é a premissa do novo filme de J. A Bayona para a Netflix, A Sociedade da Neve, uma história de sobrevivência baseada num evento real que antes já dera origem a vários filmes e documentários, como A Epopeia dos Andes (1976), de René Cardona, ou Estamos Vivos (1993), de Frank Marshall.
O filme estreado a 4 de janeiro na plataforma de streaming conta a história amplamente conhecida do desastre, mas baseia-se no livro homónimo do jornalista uruguaio Pablo Vierce publicado em 2008, que dá a conhecer os relatos detalhados dos 72 dias que os 16 sobreviventes da tragédia enfrentaram até serem resgatados.
No filme de J.A. Bayona, apresentado no último Festival de Cinema de Veneza, e que já está no primeiro lugar dos filmes mais vistos da Netflix em todo o mundo, esses testemunhos são reconstituídos, mostrando aos espectadores como esse grupo de atletas sobreviveu durante mais de dois meses num dos lugares mais inóspitos do planeta.
Algumas das situações recriadas com base nos testemunhos dos sobreviventes mostram os dilemas e as cisões criados no grupo motivados pelos que aceitaram ou não alimentar-se dos cadáveres que se encontravam perfeitamente conservados devido às temperaturas negativas.
Outra perspetiva explorada pelo realizador espanhol recai sobre a visão veiculada à época pela imprensa de que este acontecimento teria transformado os sobreviventes numa espécie de pós-humanos, isto é, uma pessoa que existe para além do ser humano, devido às provações por que passaram durante os 72 dias em que estiveram isolados do mundo.