Roberto Martins Figueiredo, um biomédico bastante conhecido no Brasil, deu uma entrevista no início deste verão, no mínimo, polémica. A conversa intitulada "A verdade por detrás dos protetores solares" decorreu no famoso podcast brasileiro Full Cortes, disponível em várias plataformas, e foi na página de TikTok que já soma quase um milhão de seguidores que encontramos um excerto desta entrevista.
"Não deves usar protetor solar" serve de convite a um vídeo, no qual o biomédico ainda diz que "estão a mandar-nos usar protetor solar e que isso é um dos maiores erros dermatológicos”, detalhando a trajetória e perigo associado a cada raio ultravioleta (UVA, UVB e UVC), alegando que este último é o responsável pelo cancro de pele, sendo também aquele “que penetra a Terra”.
"Nunca se usou tanto protetor solar e nunca houve tanto cancro de pele", acrescenta, assumindo que não existe uma relação causa-efeito.
Os comentários às declarações polémicas somaram-se no decorrer dos útltimos dias e a Internet, como todos sabem, é aquele lugar bom antes de começar a ser mau. Para que o consumo naturalmente desenfreado não nos leve a inverdades, e porque com a saúde não se brinca, a Versa pediu ao médico dermatologista e diretor da clínica Personal Derma, Luís Uva, para comentar as afirmações polémicas acima, e o alerta não tardou a chegar.
O CANCRO DE PELE ESTÁ A AUMENTAR?
O cancro de pele tem sempre vindo a aumentar, é verdade, porque as pessoas também se expõem cada vez mais ao sol. E também por muito do que se tem vindo a fazer nos últimos anos: compra-se um bilhete de avião para o México, estamos lá uma semana branquinhos e apanha-se aquele sol todo quando a pele não está preparada. Mas, por outro lado, o cancro de pele em alguns países já começa a diminuir, precisamente porque se usa protetor solar com mais regularidade há 20, 30 anos, e antes tal não acontecia. As pessoas que começaram a aplicar o protetor há 20, 30 anos, começam a ter menos cancro de pele. Isto demora duas ou três decadas para conseguirmos ver os efeitos dessa proteção imediata.
PROTETOR IMPEDE QUE SE RECEBA VITAMINA D?
Relativamente à vitamina D, também não é verdade o que é no vídeo dito, porque não são os UVC's ou UVB's que vão impedir a entrada da vitamina D. Aliás, mais importante do que isso tudo é que apenas 10% ou 20% da vitamina D que absorvemos vem do sol. Tudo o resto é ingerido. Por isso é que nos países onde não há tanto sol as pessoas também têm vitamina D. E, se porventura tivermos um défice de vitamina D, o que é indicado são suplementos de vitamina D. E quanto a isso faz sentido as pessoas fazerem um controlo e essa suplementação, no caso de ser necessário, embora a hipervitaminose D não seja algo muito grave, já que é difícil uma pessoa sofrer com vitamina D elevada, só se estiver muito elevada.
UVC É O QUE PROVOCA CANCRO? ENTÃO PARA QUE INTERESSA O PROTETOR SOLAR?
Outra das grandes asneiras aqui referidas é que os UVC's, felizmente, mal chegam à Terra, e esses são os raios que queimam mais. Têm um comprimento de onda mais curto e por isso seguem retos para a Terra, como refere o biomédico. Os que vão retos e penetram mais na nossa pele são os UVA, com os quais nos temos de preocupar, assim como com os UVB. Estes últimos são os que nos permitem bronzear, provocam alguns tipos de cancro de pele e provocam, sobretudo, a queimadura solar, o eritema, fica-se vermelho e com a pele queimada.
Quando vemos um protetor solar FPS30, FPS50, FPS90, dizem respeito à proteção contra os UVB's, portanto, protege a pele de se queimar. Depois, existe outra caracterítica dos protetores que é a "proteção de largo espetro". Quando vemos os "+", isso significa que protege contra os raios UVA, aqueles que atravessam mais a barreira cutânea, aqueles que provocam o cancro de pele e ainda o envelhecimento cutâneo. Além disso, são também responsáveis por provocar as manchas na pele.
TUDO ERRADO?
O que aqui se diz é maioritariamente errado em dois pontos fundamentais: vitamina D, nos UVC's e, claro, o uso de protetores solares, que é altamente recomendável, uma vez que agora sabemos que as pessoas que os usam há mais tempo são as que apresentam menos casos de cancro de pele, comparativamente com aquelas que não usaram protetor solar. Está estudado.
"Se me trouxerem 10 protetores solares, vou já dizer que, no mínimo, 9 deles não prestam", disse o Dr. Roberto Figueiredo. E se eu lhe trouxer 10 protetores, o que me diz?
Todos os protetores solares prestam e os que têm largo espetro prestam mais do que os outros.