Controversa parece ser sinónimo de “Kanye West” ou não vivesse o cantor no centro de constantes polémicas. Quer através da moda, da música, da religião, ou de uma qualquer indústria de veneração, Kanye West constrói e destrói opiniões – se uns o defendem como visionário de uma cultura pop (ou populista), há quem prefira chamar-lhe outros nomes.
Habituámo-nos a usar o conceito reacionário numa visão política, seja para definir algo ou alguém conservador e tradicionalista, seja para sugerir a oposição à evolução social e a aversão à democracia. Ainda que pareça estranho estarmos a falar de política quando nos preparamos para entrar pela indústria da moda adentro, a verdade é que quando falamos do rapper de sei lá quantos nomes – Kanye, Ye ou Yeezy – nunca deixamos as politiquices de parte.
Chega a parecer que Ye tomou o gosto pelas críticas e o seu lema de vida submete-se à máxima: “Falem bem ou falem mal, mas falem”. Exemplos não faltam e a lista de acusações e “crimes” mediáticos já vai longa. Podíamos falar das recentes quezílias entre Ye com as marcas Gap e Adidas, sendo que esta última foi acusada pelo cantor de um pouco de tudo - desde usurpação da imagem e mentiras a plágio e falta de representatividade – ou podemos recuar no tempo e falar da célebre e infeliz declaração de Kanye West em 2018: "Quando se ouve falar de escravidão durante 400 anos, isso soa a uma escolha". Mas não vamos por aí, até porque as reações a esta última afirmação não bastaram para deter a sede de controvérsia de Kanye West.
Na Semana da Moda de Paris, o artista juntou-se à comentadora política e acérrima apoiante de Donald Trump, Candace Owens, e, antes mesmo de ser apresentada a nona coleção da marca Yeezy, vestiram camisolas com a seguinte frase inscrita: “A vida dos brancos importa”. O que não deixa de ser uma verdade absoluta porque todas as vidas importam, até colocarmos a citação num contexto de represália ao movimento "Black Lives Matter", que surge como manifesto à violência policial contra a comunidade negra dos Estados Unidos. Esta provocação de Ye mereceu, assim, uma chuva de críticas ostensiva e previsível. E o apontar de dedo à “defesa da supremacia branca” esteve no topo das reações, aliás, a frase nas camisolas é pertencente a movimentos neo-nazis, como o Ku Klux Klan.
E, enquanto estamos a condenar as decisões de Kanye West e a tentar acompanhar uma narrativa sensacionalista, o rapper continua a ser falado e a sua visão a ser discutida... Ainda assim, o clickbait a mim não me convence e disparar por todos os cantos e em constantes devaneios nas redes sociais muito menos. Numa frenética e desorientada crítica, que começa em ataques à elite da indústria da moda – incluindo a jornalista Gabrielle Karifa-Johnson, Bernard Arnault e o Diretor Criativo da Supreme, Tremaine Emory – e termina a chamar "carneiros" a todos os que não o compreendem, somam-se frases vagas e moralistas, como “Podes não acreditar em Deus, mas Deus acredita em ti”.
Ainda que muitos defendam um "lado visionário e incompreendido" de Ye, parece-me que apenas podemos concluir que a sua sede de validação é grande e a necessidade de atenção é ainda maior. Mas, como disse e volto a repetir, o veredicto é vosso...